terça-feira, 30 de novembro de 2021

Poema " PARA TI"

Poema da minha participação na XIII Antologia Poética "Entre o Sono e o Sonho" da Chiado Editora, do Grupo Atlântico.


PARA TI


Deixa-me ficar sentado
Nas tuas pálpebras nuas,
Poder ler-te os pensamentos,
Memórias e esquecimentos,
Que trazes em ti guardados
E nos versos insinuas.

Ver no brilho dos teus olhos
As mais belas melodias
Cantadas p’lo coração,
Quentes horas de paixão
Perdidas entre os escolhos
Que resistiram ós dias.

Deixa-me ficar sentado
Nas tuas pálpebras nuas,
Dizer-te que assim me atrevo
Cantar o quanto te devo,
Que tanto tenho sonhado
Ficar nas páginas tuas.

José António de Carvalho, 24-novembro-2021
Foto da net.






quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Poema "FIM E PRINCÍPIO"


FIM E PRINCÍPIO

 

Para além da noite, desta ou de outra qualquer noite, sento-me sempre no beiral da mesma noite, como se fosse a margem do rio onde a vida passa.

Todas as noites são diferentes, mas tão iguais no epicentro do seu misticismo e da sua magia.   

Todas são tremeluzentes e felinas, torridamente gélidas e soturnas. Elas revolvem a arca dos sonhos e do fascínio, para consolo de algumas inquietações e erupções noturnas. São vulcões de lava incandescente a deslisar vagarosamente sem que se lhes possa fugir, deixando um rasto de pedra negra a fumegar dor por onde passam.

As noites lembram-me os tempos de criança, e como tinha medo da noite. Tinha medo dos meus medos e dos medos que outros me criaram. Coisas que não se fazem nem aos anjinhos.

Hoje, dia e noite, sou uma caixa de ressonância dessas noites. E, na verdade, à noite, apenas quero percorrer os dedos ao longo dos fios brancos da almofada de algodão que ainda cheira a lavanda, para logo a seguir penetrarem timidamente pela janela da vida, raios de luz dourada a anunciarem um dia novo.


José António de Carvalho, 21-outubro-2021
Foto da minha autoria