sábado, 27 de junho de 2020

Poema "QUANDO OS DIAS CHORAM "



QUANDO OS DIAS CHORAM


Hoje o dia está triste,
E chora as suas dores por entre as nuvens baixas.
Tão baixas que quase beijam a terra.

A última vez que o dia sorriu
Também fora deitado no chão.
O dia alegre e a lua amada ali surgiu…
Mas logo, logo, novamente fugiu.

José António de Carvalho, 27-junho-2020
Pintura a óleo de Rosa Ralo


sexta-feira, 26 de junho de 2020

Poema "ESQUECIMENTO"

Poema lido no programa "As Nossas Raízes", da Cidade Hoje Rádio, da autoria de Manuel Sanches e Suzy Mónica. 


ESQUECIMENTO

Sinto em mim uma tal dor
Que me anda a moer o siso.
Não sei se é dor de amor
Ou dor da falta de riso...

Mas não. Não é essa a dor
Que me vai comendo os dias,
A esta ninguém dá valor,
Causada por alergias.

Oh!... mais uma vez troquei o erre
Desse seu lugar normal,
E assim se vão as alegrias
O que já é natural.

Anda aqui uma mosca chata
Sempre a moer a cabeça...
Mas da dor ninguém me trata
Pois há quem de mim se esqueça.

José António de Carvalho, 26-junho-2020
Foto de Conceição Silva



terça-feira, 23 de junho de 2020

Poema "QUADRAS A S. JOÃO – 2020, Ano Pandémico"


Poema a São João - Lido hoje no sábado, dia 20, no programa "As Nossas Raízes" da Cidade Hoje Rádio, da autoria de Manuel Sanches e Suzy Mónica. 


QUADRAS A S. JOÃO – 2020, Ano Pandémico


Há meses não sonharia
No que estamos a passar, 
Um junho sem romaria
De um só santo popular.

Que dirão do feriado
Sem rua pra festejar,
Mas que ano "amaldiçoado"
Este que nos veio a calhar.

Seja festa em cada casa,
Em cada rosto rosado,
Com a sardinha na brasa
E um copo bem aviado.

E que se enrede no pé
No passo de quem a dance,
A dança de quem tem fé,
Por bem, pode ser que alcance.

Mas não saltes a fogueira
Porque te podes queimar,
Apesar de brincadeira
Não tens onde te tratar.

E assim será esquecido
Este vírus complicado,
Anda por cá escondido
E também já transmutado.

Nosso São João Baptista
Tu foste decapitado,
Qual o prazer da conquista
Neste mundo atormentado?


José António de Carvalho, 19-junho-2020
Foto do programa "As Nossas Raízes, RCH"


sábado, 20 de junho de 2020

Poema " DEPOIS DA CURVA"

Poema lido no programa "As Nossas Raízes", da Cidade Hoje Rádio, da autoria de Manuel Sanches e Suzy Mónica. 


DEPOIS DA CURVA


Penso na curva da vida,
Que nunca se sabe onde está…
Aqui, além, sabe-se lá.

Não tenhamos pressa do amanhã.
Não tenhamos pressa de nada.
No amanhã tudo se acabará.

Depois de chegada a curva,
Virá uma visão turva
Do que não se sabe se há,
Desse lado oculto,
Desse lado de lá…

José António de Carvalho, 20-junho-2020
Foto do Trilho do Caminho Santiago (2018)


quarta-feira, 17 de junho de 2020

Poema "IMAGENS TUAS"

Poema com que participei no programa "Livro Aberto" da Rádio Voz de Alenquer, emissão de sexta-feira 19-junho-2020, da autoria de Ana Coelho, na rúbrica "Criatividade Sem Limites"


IMAGENS TUAS

Retenho nos olhos imagens tuas
Num caudaloso rio de memórias.
Substituir-te… é perder as puas,
Eco do tecer das nossas histórias.

Se cantas, arrepio-me, és feliz…
Tão difícil que é a nossa música,
Se o teu olhar esquecido nada diz,
Perco-te no enredo da vida física.

Essa luz de que tanto me embrenhei,
Não tem outra qualquer explicação,
Senão que essa luz fui eu que a inventei,
À luz da luz, dum cego coração.


José António de Carvalho, 17-maio-2020
Pintura de António Miranda






sábado, 13 de junho de 2020

Poema "QUADRAS DE SANTO ANTÓNIO – 2020 (PANDÉMICO)"

Poema a Santo António - Lido hoje no programa "As Nossas Raízes", da Cidade Hoje Rádio, da autoria de Manuel Sanches e Suzy Mónica. 


QUADRAS DE SANTO ANTÓNIO – 2020 (PANDÉMICO)


Pensava o povo contente
Que a vida era sempre a andar,
Sem curvas, seguir em frente,
Sem para trás ter de olhar.

Mas o vírus lá mostrou
Que o pequeno se faz grande,
Que a humanidade abanou
Tanto o medo que ele expande.

Que tristeza, se não há festas
Nem romarias de gente,
Vê-se a vida pelas frestas
De uma forma consciente.

Sem os balões a subir
Sem fogueiras pra saltar,
Nem garrafas para abrir,
Sem sardinhas a pingar,

Nem noitadas, nem abraços,
Nem foguetes a estalar,
Sem gente com seus cansaços
De nas marchas dançar,

Nem ricos vestidos brancos,
Nem véus aos sete ventos,
Mas há choro pelos cantos
No ruir dos casamentos.

É tão caro o manjerico
Que o alho nem o pode ver,
Ó santinho tu és rico
Toda a gente te quer ter.

A primavera lá vai
Pra ficarmos no verão,
De casa a gente não sai
Pra comer sardinha e pão.

Estas verdades tão cruas,
O queixume, a solidão,
A esperança de ir prás ruas
Pró ano em Famalicão.


José António de Carvalho, 12-junho-2020
Foto do anúncio do Programa "As Nossas Raízes" da Cidade Hoje, Rádio



Poema "PÁTRIA MINHA"

Poema com que participei no programa "Livro Aberto" da Rádio Voz de Alenquer, emissão de sexta-feira, 12-junho-2020, da autoria da amiga Ana Coelho, na comemoração do Dia de Portugal, de Camões e das comunidades lusas.

https://www.livroslidos.pt/post/josé-antónio-de-carvalho-lê-pátria-minha

PÁTRIA MINHA


Da nossa Pátria-Mãe sopram os ventos incertos.
Já não distingo velhos do restelo, adamastores e heróis navegadores.
Só conheço o Povo. O Povo mortal de uma nação que fora valente
E que se vai multiplicando cada vez menos.
Menos gente, menos valente.

Soubesse eu o que é amar a Pátria.
 
Amar a Pátria,
É sentir o veludo quente do ventre da mãe,
E lutar para nascer e renascer todos os dias.

É querer crescer com o sol que nos é oferecido,
Lançar ao longe o olhar e ver o mar,
E para além do mar e de todos os mares
Continuar a ver e a sentir Portugal no peito.

Sentir o coração a saltar de alegria a cada feito
De um lusitano, aqui e além-mar,
Senti-lo em cada palavra, em cada uso e costume,
Em cada memória e em cada história.

Amar Portugal é projetar-se vaidoso e novo,
Lavado de toda a fraqueza e pobreza.
É ser sábio em ultrapassar dificuldades,
Sem esmorecer, sem desesperar…
Sentir a saudade da Pátria nas veias a latejar.

Amar Portugal, é amar prá além do infinito
Amar tudo o que é mais pequeno
E transformá-lo gigante com um só grito.

Esta é a pequena enorme Pátria que habito.


José António de Carvalho, 11-junho-2020
Foto do Certificado de participação no Programa Livro Aberto da Rádio Voz Alenquer





sábado, 6 de junho de 2020

Poema "NÃO PERCO NOVO SONHO" (Adaptado do livro "Sente, Logo Vives e Sonhas")

Este poema mereceu um destaque no Sarau dos mil membros do Grupo Literário Universo Poético, em 22-janeiro-2021.

NÃO PERCO NOVO SONHO


Se tivesse a arte e engenho de Camões,
A visão e fantasia de Pessoa,
Meus poemas não teriam repelões
De métrica, por muito que me doa.

Se tivesse um sentir como Camilo,
De Espanca a s
eiva da veia poética,
Teria a minha marca e um bom estilo,
Sem agravos desta nefasta métrica.

De Bocage a refinada ironia,
A nobreza em verso de Eugénio Andrade,
Os olhos do coração de Sophia…
Oh poesia... que este meu sangue arde.

Tivesse eu o rigor da Maria A. Costa,
O romantismo da Santos, Fernanda,
Tão grandes… de quem toda a gente gosta,
Eu escrevo pequeno, o talento manda!

José António de Carvalho, 05-junho-2020 (Adaptação do poema com o mesmo título do meu livro “Sente, Logo Vives e Sonhas”, Edição de outubro-2018, Chiado Editora).









sexta-feira, 5 de junho de 2020

Poema "SONHOS DE PRINCESA", Dito por Sandra Escudeiro



Video da declamação do poema pela Sandra Escudeiro


SONHOS DE PRINCESA 


Quero ter corpo bem delineado, 
Longo, pra parecer uma princesa, 
Depois do tecido todo cortado 
Coloca os bocados sobre uma mesa… 

Une-os bem devagar, e com leveza 
Usa a agulha fina para os coser, 
E no meio de tanta macieza 
Não me vai custar nada, nem doer. 

Embaraço-me nas mil e uma pregas 
E dobras. Quero ter dedos e laços. 
Perco todos os meus medos nas nesgas 
De pano onde se desenham meus traços. 

Meus sonhos são feitos em brandos vincos, 
E vais colocando o coração e dedos, 
Umas orelhas pequenas e brincos, 
Sussurras-me nelas belos segredos. 

Quero ter o meu sorriso profundo, 
Uma ténue ruguinha na bochecha, 
Ter um olhar verde para o teu mundo 
E para a natureza que se queixa, 

Do Homem e dos seus escabrosos atos 
Que matam natureza e os teus irmãos. 
Mas eu, uma simples princesa de trapos, 
Nasço em gestos d’arte, em tuas mãos!
 

José António de Carvalho, 29-maio-2020
Dois anjos em tecido de Sandra Escudeiro



quinta-feira, 4 de junho de 2020

Poema "VIDA CONFISCADA" (soneto)

Este soneto abre e fecha com versos (1º e 14º versos) do poeta António Sousa, homenagem ao avô da poetisa Maria João Brito de Sousa num desafio para uma coroa de sonetos no Site Horizontes da Poesia (do poeta Joaquim Sustelo).

Poema lido hoje, sábado, dia 05-junho-2021 (sábado), no programa "As Nossas Raízes" da Cidade Hoje Rádio, da autoria e apresentação de Manuel Sanches e Suzy Mónica.


VIDA CONFISCADA

Esperei por mim em vão. Suando Rezas
Pelos poros da minha alma desfeita,
Tanto eu queria dar-lhe sãs larguezas
Indo além na atmosfera rarefeita.

Esperei por ti atado em mil tristezas,
Na ânsia de que pra mim voes, feita
Pluma solta das nuvens, e desprezas
Este meu sentir, minha amada eleita.

Tal a dor que em mim fazes eclodir
Se a dor que sinto já não é sentir,
Mais choro ainda só pelos teus sinais,

Nesta espera por ti sempre a insistir,
Cansado em casa e quase a desistir…
E sei apenas que não posso mais!

José António de Carvalho, 03-junho-2020
Foto de Conceição Silva




segunda-feira, 1 de junho de 2020

Poema "OLHOS DE CRIANÇA"

No Dia Mundial da Criança

Poema lido no sábado, dia 29-maio-2021 (sábado), no programa "As Nossas Raízes" da Cidade Hoje Rádio, dedicado ao Dia Mundial da Criança, da autoria e apresentação de Manuel Sanches e Suzy Mónica.


OLHOS DE CRIANÇA


Folhas tenras de cor verde mimosa
Sôfrega faustosa por se colorir em flor.

Tanta Vida e fulgor em aura airosa 
Sem rumorosa razão para a dor. 

Fonte que em rubor espera ansiosa 
Em face lustrosa por um beijo de amor. 

E nos olhos o calor de lareira ciosa 
Família à mesa, vida calorosa, e amigos em redor. 

José António de Carvalho, 01-junho-2020
Desenho de Laurinda de Brito