sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Poema "SINTO-TE ASSIM…"


SINTO-TE ASSIM…

Deixa-me amar a brisa calma,
os prados verdes e as flores do trevo,
numa frescura que me suavize a alma.

E se nas noites paradas te procuro,
com meus dedos lisos te escrevo
em gélidos medos que não seguro
e que só em pensar não me atrevo.

Ah… As minhas paisagens são lisas,
e se as vou delineando em pensamentos
nas minhas veias quentes deslisas
em raros e deliciosos momentos.

José António de Carvalho, 30-dezembro-2022
Foto: "www.estudioraposa.com" (Manoel Barros)





segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Poema "A RAZÃO"


A RAZÃO

Abre-se o céu a nascente
com o sol a clarear o dia,
é aurora resplandecente:
nasceu Deus, Filho de Maria.

Baixem as armas por Ele,
baixem-nas pelo Homem,
que este é pele da Sua Pele
e tantas vidas consomem.

Façam caminhos no deserto,
façam-se ao mar calmo,
façam apenas o que é certo,
meçam atitudes a palmo.

Deem conforto ao pobre,
abracem o desafortunado,
fazê-lo é tão, tão nobre,
e o Natal será festejado.

José António de Carvalho, 11-dezembro-2022
Foto: /pixabay.com/pt












domingo, 4 de dezembro de 2022

Poema - "É NATAL"


É NATAL


É Natal...
Soam as campainhas, os sinos
e sinetas, num ror de sons.
E que lindos estão os filhinhos,
que no Natal todos são bons.

Estoiram foguetes pelo ar
e brilham as luzes nas casas,
esquece-se as dores dos dias,
para a alegria ganhar asas
e fazê-los voar… pequeninos!…

É Natal…
Porque estes pobres meninos
querem ter o belo presente
com que tanto tinham sonhado,
e que o Pai Natal lhes trará
vindo da casa ali ao lado.

Mas coitados dos pequeninos
mal sabem que Jesus nasceu,
tão pouco por que é Natal,
dizendo: Jesus já morreu?!

E o Natal dá-lhes quase tudo
se os pais cobertos de bondade
comprarem no supermercado
o naco da felicidade.

Mas esquecido esse momento;
o que é único argumento,
sem outro para ser festejado:
será Natal em todo o mundo
se Jesus for renascimento…

E por cada Homem confirmado.

José António de Carvalho, 10-dezembro-2022
Quadro "Pinterest"



















O QUE É PARA TI O NATAL?

O QUE É PARA TI O NATAL?

Lanço aqui este desafio, e através do qual pretendo recolher ideias, sentimentos e expressões para fazer três poemas de Natal.

Neste momento da minha vida o Natal é mais espiritual e interior (renascer), o que acresce dificuldade para traduzir em poema tais sentimentos. Daí o apelo à tua ajuda.

Diz-me como sentes ou gostarias de sentir este Natal.

Expressa-o nos comentários.

Muito obrigado!

Imagem: "formacao.cancaonova.com"







 

sábado, 26 de novembro de 2022

Poema "O QUE ÉS PARA MIM"


O QUE ÉS PARA MIM

Não te faço na violência da tempestade,
Nem na suavidade da brisa marinha,
Nem na profundidade da Terra em fogo
Ou no calor do ouro líquido.

Não te faço na força da união de todas as forças,
Nem na mais leve das ultra levezas,
Ou na mais vibrante suavidade dos sons,
Ou na mais geométrica das geometrias.

Simplesmente não te faço assim,
Porque só te faço como sei fazer:
Na forma que te tenho dentro de mim.

E para mim isso é tudo:
Noite e dia, Vida...
Afago, felicidade e amor;
Muro, morte, explosão e dor.
E talvez não sejas nunca poesia.


José António de Carvalho, 26-novembro-2022
Foto: www.gettyimages.pt





terça-feira, 22 de novembro de 2022

Poema "SINA DO HOMEM"



SINA DO HOMEM

Preferes-me só,
a ruminar as palavras,
a acordar tempestades
que dobrem as árvores.

E se dobram árvores
como não emudecem homens?
Que ficam empedernidos e mudos,
num frio de ferro no gelo seco,
e mudez de estátua coberta de musgo.

É quase meia-noite - fim e começo de dia.
A esperança renasce já no primeiro segundo
da corrida para o fim de tudo.

Caminho de olhos postos em novo dia…

José António de Carvalho, 22-novembro-2022
Foto dreamstime.com - foto-de-stock





domingo, 13 de novembro de 2022

Poema "ORLA DO SORRISO"


ORLA DO SORRISO


Nos teus lábios é que nasce o sol,
Onde sossega o suspiro da ânsia,
Onde fogem os barcos no vento
E se enrolam as velas do naufrágio.

Neles tudo é quente e frágil,
Como pétalas de rosas no vento.

Neles perfuro a terra húmida,
Seguro o calor com os dedos
Onde irrompem tempestades
Que derrubam os meus fortes. 

Deixo-me ir pelo caminho do sol,
Onde o sossego é mais que ilusão
Com línguas de fogo a tocarem céus
Num alucinante ritmo do coração.

José António de Carvalho, 13-novembro-2022
Pintura de Madalena Macedo



domingo, 6 de novembro de 2022

Poema "DELÍRIOS"


DELÍRIOS

Era um desejo sufocante
de ser botão e depois flor.

Era a graça dos teus olhos
de onde grassava tanto brilho
como quem vê a luz dum filho
trazido ao dia d’ entre os folhos
da paz lírica de um grande amor,
que de tão grande se tornou gigante.

Isto é um rio lindo de corrente alucinante…

José António de Carvalho, 06-movembro-2022
Pintura de Monteiro da Silva, "a distância do olhar"





quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Poema "DE OUTONO A OUTONO"


DE OUTONO A OUTONO

O tempo não se distrai
com o tempo que passa,
nem com tudo o que atrai
e que consigo arrasta.

O tempo é implacável
não estremece nem chora,
nem ri, que deplorável,
que anda a toda a hora.

Se o pudesse parar,
seria dentro de um abraço
do tamanho do mar
com a lua a brilhar.

José António de Carvalho, 05-outubro-2022
Foto "Pinterest"




segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Poema "CASCATA"


CASCATA

Voei descendo lentamente
entre segredos dos deuses
num céu que tão docemente
se vestiu de asas lilases.

Voei rápido e devagar,
para ver o fim tão perto;
e subi a sobrevoar
o teu rio entreaberto.

Bela flor que lá brotou
ao meio, bem no cimo
da nascente que ficou
adocicar o destino.

José António de Carvalho, 25-setembro-2022
Pintura de António Miranda



quinta-feira, 15 de setembro de 2022

Poema "EMPRESTA-ME A TUA LÁGRIMA"


EMPRESTA-ME A TUA LÁGRIMA

A desventura que trago em mim
É cinza escura, e quase negra.
Não é começo, meio ou fim;
Mas uma linha reta, uma regra,
Que jamais se apagará da vida,
Tão mais sofrida do que vivida,
Talvez além do que a vista enxerga.

Por isso sou sisudo, cinzento e triste,
E se “tristezas não pagam dívidas”,
Nem as alegrias me dão o preciso
Para manter permanente sorriso
Que mal se esboça logo desiste
Porque a vida é andar na lâmina.

Chorar também não choro, já secaram,
E todas fariam um rio se se juntassem,
Daí que te peça uma simples lágrima,
E, talvez com ela, as minhas voltassem.

José António de Carvalho, 15-setembro-2022
Pintura de Monteiro da Silva; "A espera"




sábado, 10 de setembro de 2022

Poema "ENQUANTO O DIA NÃO NASCE…"


ENQUANTO O DIA NÃO NASCE…


Oh… que ânsia me invade…
Depois da tarde, a noite,
A lua, o silêncio,
E a alma faminta.

O rosto da madrugada,
Os cabelos de sol,
Os lábios da maçã,
A chuvinha de orvalho,
Os olhos fechados.

Os picos da montanha…
Onde nascem ribeiros
Crescendo enquanto descem,
Unindo-se ávidos
Aumentando no leito,
Aglutinados num só rio
Num fulgor de arrepio
A devorar as margens
De idílicas paisagens
Até morrer no mar.

José António de Carvalho, 10-setembro-2022
Pintura de António Miranda



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terça-feira, 6 de setembro de 2022

Poema "IMPLORO À PRIMAVERA"


IMPLORO À PRIMAVERA

Imploro às andorinhas que fiquem,
Que revolvam as palhas dos ninhos,
Que façam novo berço da lama do destino,
Que dobem outonos em primaveras…

Que as flores desabrochem de quimeras,
Que o tempo sorria sempre com tempo,
Que o inverno num sopro desapareça,
Que a paz no lago da vida aconteça.

José António de Carvalho, 06-setembro-2022
Pintura de António Miranda



segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Poema "NÃO ME SEI…"



NÃO ME SEI…


Procuro conhecer-me se me desconheço,
Não respondo pelo que serei a seguir.
E se me escondo logo me mostro,
Nesse sol a espreitar entre nuvens,
Das tantas vezes que me desgosto
Para outras tantas voltar a sorrir.

José António de Carvalho, 19-agosto-2022
Foto: factotumcultural.com.br



 


quinta-feira, 25 de agosto de 2022

Poema "CATIVO DAS TUAS MÃOS"


CATIVO DAS TUAS MÃOS


Pega-me nas mãos
Segura o mundo que é nosso
Pela penumbra do assombro.

Deixa-te ir pelo mar
De peito exposto ao vento
Mais que ave a planar
Sobre o que é imenso
Do querer amainar
Um desejo tão intenso.

Desprende um sorriso
Desse olhar impreciso
Como quem vive a sonhar
Com mundo p’rá além do mar
Onde subsisto em cativeiro
Para te ter por inteiro.

José António de Carvalho, 25-agosto-2022
Foto de Conceição Silva (S. Martinho do Porto)



sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Poema "FUTILIDADES"


FUTILIDADES


Sei lá de onde vem o sentimento
Que se empoleira nos caminhos da vida
E leva para longe o que está perto,
E quer à força os ventos dos desertos.

Sei lá porque é que o amor é vulnerável,
E a vulnerabilidade e o amor são parceiros
Dos dias e das noites, do nascer e do pôr-do-sol.

E a vida fica toda preenchida de inutilidades.
Coisas inúteis, sentimentos inúteis, e futilidades…

E agarramos isso para lhe darmos a importância
De urdir todas as teias e tecer todas as vidas.

E é tão somente a mais que comum cobardia.
É delicioso o sol nascer depois de se ter posto…

José António de Carvalho, 19 agosto-2022
Pintura a óleo - Site Dreamstime






quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Poema "OLHARES A CORES" - Coletânea "Invisíveis olhares" RVA



OLHARES A CORES


Imagino a vida a cores
Pintada suavemente
Pelos dedos voadores
Que percebem fielmente
A razão dos pormenores.

Olho longe, sempre em frente,
Abraço as nuvens, e a luz
Que o Sol dá a toda a gente,
A quem me guia e conduz
No respeito mais silente.

Ouço o romance das flores,
Vejo a mudez das nações,
Mordo a fome, calo horrores,
Surdas notas das canções.

Vejo tudo. E do que vejo,
Sendo pouco mais que nada,
É bem mais do que o desejo
De nascer na madrugada.

O poema será um livro;
Um livro livre de medos,
Um coração livre e vivo,
Frágil barco destemido
Guiado pelos meus dedos.

José António de Carvalho, 30-junho-2022



quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Poema "POVO QUE LAVAVAS NO RIO"

Este poema foi inspirado e adaptado para os dias de hoje, do poema de Pedro Homem de Mello (06-09-1904 / 05-03-1984) "Povo que lavas no rio", cantado por Amália Rodrigues, e presto homenagem a ambos.


POVO QUE LAVAVAS NO RIO

Povo que lavavas no rio,
Talhaste com o conhecimento
As tábuas do teu caixão.
Pode ser que te arrependas
Do que fazes, e são ofensas
Que todas as vidas levarão.

Os que comem à mesa redonda
Onde nunca faltou o pão
Afundam-se no ganho e no ter,
Por troca do que é ser
Filhos na mesma condição.

Mas há quem não se esconda
De alertar a bons pulmões
Dos interesses em negociações
Que lavam a morte do futuro
Sem qualquer compaixão.

Ficarão secos e agrestes
Os solos, os rios, e as vestes
De quem sonha na cama.
E numa nova condição,
Em que o amor se derrama,
Faça-se da vida a grande arma,
Em verdade, de irmão para irmão.

José António de Carvalho, 03-agosto-2022
Foto na Noite de Conto e Poesia do Grupo instrumental que atuou na sede da ACAFADO






segunda-feira, 25 de julho de 2022

Poema "UMA FÉ"


UMA FÉ

Sentes dos meus braços todo o calor
que vem da montanha, bem lá do alto,
nesse regato fresco que, de salto em salto,
quer transformar-se num mar de amor?

Então viajas no tempo do mar,
no das estrelas, vezes ao dia,
da natureza e do sol, quem lhes confia
a alma e a vida, a fé dum novo acordar.

Se a minha boca brotasse a doçura
Desse olhar de palavras mães dos versos
que no meu coração moram submersos,
meus poemas fariam lei na ternura
de filhos abraçados nos regressos.

José António de Carvalho, 25-julho-2022
Foto da revista "Bula"





sábado, 16 de julho de 2022

Poema "LEMBRANÇA"


LEMBRANÇA



A lembrança mora
onde o tempo se repete,
despido pela memória
que finge o tempo quente.

É tão fria como o vazio
cravado em cada arrepio,
e a alma tanto clama
pelo calor de frágil chama.

Rebelde e inocente,
vai embora como a andorinha,
a rasgar caminho novamente
entre nuvens, mas sozinha…

E sonha mais uma vez
voltar à casa que fez
deixando p’ra trás a que tinha,
fazendo da velha a nova casinha.
Casas de que nunca se desfez…

José António de Carvalho, 11-julho-2022
Desenho de António Miranda







quarta-feira, 29 de junho de 2022

Poema "ALENTEJO, PORTUGAL"



ALENTEJO, PORTUGAL


Abraça-me loucamente
para me segurares à vida,
que vivo arduamente
como se estivesse perdida.

Ama-me docemente
como se o sol nascesse,
e se se põe precocemente
é como se não houvesse
mais razões p'ra ser vivida.

É assim que quero ficar
com este sonho no peito,
porque depois passa o efeito
da deliciosa bebida.

José António de Carvalho, 29-junho-2022
Foto de "Agricultura e Mar"












domingo, 12 de junho de 2022

Poema "CONTIGO"


CONTIGO


Contigo vêm os abraços,
Os beijos molhados,
O mar e as ondas,
E os corpos enrolados,

E vem o estio e o calor,
A água calma no rio,
E esta sede do amor.

E vem a música calma,
E o dia e a noite,
E a tempestade na alma.

E a volúpia acelerada
Que levita os sentidos,
Levanta as ondas do corpo
Entre surdos gemidos,
Enquanto o ventre espera…

E perde-se tudo do mundo
Quando atingimos o alto
Ao chegarmos ao fundo
Abraçados nesse salto
Que salta a Primavera
Quando o Verão se apodera.

José António de Carvalho, 11-junho-2022
Desenho de "Pinterest.pt/pin"


sábado, 11 de junho de 2022

Poema "NOSSA PÁTRIA"


NOSSA PÁTRIA


Nesta Pátria de Camões,
Lusos, quinhentos milhões;
Talvez mais, quem sabe?…
A chave com a qual se abre
Novas portas ao mundo.

Seta do fado e do poema,
No esplendor da sua beleza,
Nestes quatro e noutros cantos
Se canta: a língua portuguesa…

Traça o rumo da nossa Nação;
Que voa e navega em cada verso,
Levando os tesouros d’uma união,
Elos de oiro forjados p’la língua,
Fazendo nossos, povos irmãos,
Que a adotam e transformam,
Medida única de memória,
E nela se reescreve a história.

Levam-na no coração
Ao coração do mundo,
P’ró coração do Universo.
E no caminho sempre de ida,
Sempre em frente, rumo ó futuro,
Jamais terá queda ou regresso
Se transpõe e derruba, qualquer muro…

José António de Carvalho, 09-junho-2022
Certificado e menção de participação no Evento Poético "Somos Pátria", organizado pela poeta e amiga Graça Canhão.






quarta-feira, 1 de junho de 2022

Poema "UM DIA VOLTAREI AO MAR"


UM DIA VOLTAREI AO MAR


Levo todas as lembranças comigo
Atiradas p’rás bermas, na passagem,
P’la estrada da vida onde prossigo.
Gravuras e agruras duma viagem.

Regressarei sem ser reconhecido,
Porque os versos são músicas cantadas...
Harpas de cordas de ouro enobrecido
Sempre vibrantes às pontas dos dedos
Ligeiros p'las músicas já tocadas.

Farei que nasça um poema completo
Como o mar que sonha com o regresso
De luz e vida a esse mar tão concreto…
Sempre eterno e belo mar… e seu avesso.

José António de Carvalho, 01-junho-2022
Foto "Pinterest"





quinta-feira, 26 de maio de 2022

Poema "POESIA SUSPEITA"


POESIA SUSPEITA

Permanece diante de mim.
Deixa-me embaraçado comigo.
Torna-me num frágil adolescente,
Neste sentir pontiagudo, já antigo,
De vento a entrar pelo postigo.

Não vos inquieteis por eu ficar assim,
Que é defeito meu, eu vo-lo digo…

Se acordo por dentro de repente
A transbordar-me para um jardim,
De olhos esbugalhados de castigo
Por não prender cá dentro a semente
Germinada pelo contentamento sem fim
De querer aprender a ver-te assim.

É quando me quedo mudo. E repouso,
Ao faltarem-me as forças quando te ouso.

José António de Carvalho, 24-maio-2022
Pintura "Pinterest"



sábado, 14 de maio de 2022

Poema "O CALOR DA LUTA"


O CALOR DA LUTA

Se de mim escondes a flor
O que direi eu ao meu Deus?
Que beber de ti os pingos do amor
É subir da terra ao alto dos céus.

E se céus há mais do que um
O meu e o teu, e ainda outro,
E se buscamos ainda mais algum
É porque só dois nos sabe a pouco.

E ficamos a voar num largo sorriso
De pupilas em chamas e corpos quentes,
Depois da batalha corpo-a-corpo
Guardamos as armas ainda fumegantes,
Sob um céu que jamais será o de antes.

José António de Carvalho, 14-maio-2022
Pintura a óleo de "Light in Thebox"


quarta-feira, 20 de abril de 2022

Poema "ASA DE ABRIL"


ASA DE ABRIL



Pega numa flor, num cravo, ou rosa;
vê o filme do mundo, lê a prosa,
desse sonho a esvoaçar de verdade.
Ergue-te bem alto ó Liberdade!

Desenrola-te e perde o medo.
Deixa de ser um ideal, um segredo,
que nos flameja só por dentro.
Atinge-nos com o teu olhar atento!

Passeia-te neste mundo distraído
que explora e mata, sem ser punido,
como se fosse uma lúgubre savana,
em que o mais forte o fraco engana.
Isso é o terror vestido de modernidade…
Ergue-te bem alto ó Liberdade!

E não há maior traição que nos sirvam
do que a fome que a tantos obrigam,
e o roubo do suor a outros tantos
por aqueles que passam por “santos”.

E desse Abril só ficou a quimera,
e a beleza de cada nova Primavera,
que sempre nos traz brilho e cor,
que nos permite gritar com fervor:

- Ergue-te bem alto, ó Liberdade!!!


José António de Carvalho, 10-abril-2022
Foto: "Cultura de Rua"









sexta-feira, 15 de abril de 2022

Quase Poema " VIVER A PÁSCOA"



VIVER A PÁSCOA


Bebi uns copos.
Pesa-me a cabeça.
O corpo já pesava antes,
embora mais leve do que nunca…

É sexta-feira Santa,
mas foi dia de trabalho.

Quase ninguém lembrou a Paixão e Morte de Jesus.

Terá sido em vão?
- Foi!

Quero dizer:
- Não! Não foi!

Nem que apenas um único ser humano a lembre.

Nunca estive tão lúcido para o dizer:
Se o Homem não pensa na morte,
ignorando-a tão somente,
infligindo exploração, sofrimento
e abandono, a troco de míseros vinténs,
por vaidades e laivos de loucura, 
exibindo-se nos píncaros da avareza,
e com ela, a autodestruição, o exibicionismo,
o egoísmo, a ligeireza.

O desrespeito do congénere,
a ardileza na cama,
a comercialização do corpo,
a adulteração de valores,
a destruição da natureza.

A mentira da verdade, e a verdade mentirosa.
Sabe-se lá quantos outros sentimentos mais…

Já não me apetece escrever.
A solidão hoje mata-me.
Não consigo parar de pensar
no sofrimento de todos os “Jesus” que sofrem.

Venha a Páscoa para se fazer LUZ.
Que seja mesmo um dia Feliz,
porque a nossa felicidade cansa…

José António de Carvalho, 15-abril-2022
Foto "iStock"




quinta-feira, 7 de abril de 2022

Poema "OS MEUS DIAS DE SOL"


OS MEUS DIAS DE SOL


Quando olho para o mar
deixo-me sempre encantar
pelas avenidas dos sonhos,
e não os consigo parar.

São como pérolas pequeninas
ter as tuas mãos nas minhas
a aquecerem as palmas,
Atando assim as nossas almas.

Os teus lábios são sonhos rubros
que arrepiam o corpo todo.
E sempre que o tempo desce,
Esse, que não se esquece,
Faz-me bem, ao sonhar o dobro.

E fico muitos dias a cantar
o que de bom a vida tem,
Porque os que passo a chorar
não falo deles a ninguém.

José António de Carvalho, 14-fevereiro-2022
Foto de Conceição Silva







segunda-feira, 4 de abril de 2022

Poema "A POESIA É UM LUGAR"


A POESIA É UM LUGAR



Que não tem lugar certo;
é como um canal estreito
onde passam todas as letras
que jorram dum frágil peito
como água no deserto.

É ópio não sendo droga,
que também corre nas veias.
E quando nela te enleias
jamais consegues desatar
as cordas que te estão a atar.

Ela vagueia por aí,
aquém e além-mar,
até nos astros… que eu já vi,
noutros lugares em que ainda se sorri,
apesar de ninguém a apanhar.

José António de Carvalho, 03-abril-2022
Foto de "El sitio de noticias del Tecnológico de Monterrey"




quarta-feira, 23 de março de 2022

Poema "NUNCA QUISESTE"


NUNCA QUISESTE


Nunca quiseste sentir
o pulsar da terra húmida,
nem o fulgor das manhãs
a lançarem o sol na vida.

Nunca ousaste dizer
que o mundo parava
quando o dia bebia a luz
e a noite à noite sonhava.

Nunca sonhaste sonhar
com o dia a meio do meio-dia,
nem o que a noite sentia
com o rio adentrar o mar.

José António de Carvalho, 23-março-2022
Foto net.







sábado, 19 de março de 2022

Poema "PAI…" (19-03-2022)



PAI…


Conforto-me com o que ficou,
Se vem a crescer esta saudade.
As palavras mudam com a idade
Que o tempo já sem tempo gastou.

Dirias:
“Palavras para quê?”

Eu sei!…

Que os dias continuam a andar
Como galgos brancos nas florestas,
Correndo loucos entre as giestas,
Sem saberem quando parar.

É uma dura realidade...
Nos olhos, lágrimas de saudade.

Um abraço, PAI.

José António de Carvalho, 19-março-2022
Foto "Dreamstime"



segunda-feira, 14 de março de 2022

Poema "NA CURVA DO POEMA"

Poema da minha participação no 5º desafio 2022_ Criatividade sem Limites do Livro Aberto, subordinado ao tema: "Na Curva do Poema". Este desafio foi lançado aos autores, pela Ana Coelho, para as sessões do "Livro Aberto" de 11 e 18 de março-2022,  edição nº 5 de 2022, na Rádio Voz de Alenquer.


NA CURVA DO POEMA


Na sinusoide da vida
perco sempre as retas,
mas já fico contente
com pequenos segmentos,
que ficam sempre mais curtos,
se se perdem os comprimentos,
até se reduzirem a pontos.

Mas até os pontos desaparecem
se voarem as marcas no vento.
Nunca sonhei com as retas,
agora, nem com um segmento.

A vida também não é um círculo
pois não se volta à partida,
Entra-se nela em corrida
sem qualquer direção definida.

Na frente há um triângulo
como a ponta da lança
que o caminho vai desbravando,
e, ponto a ponto, lá avança.

Vem o retângulo, depois,
A definhar pelo caminho,
Se tinha lados iguais, a dois…
aos poucos vão-se encurtando
ficando só um quadradinho.

Vendo-se a vida pelo quadrado
perde-se o horizonte e o mar,
dois lados começam a esticar
surgindo o retângulo final.

Mas a poesia sem geometria
não mede o Homem, que afinal,
sem medo e sem hipocrisia:
Aceita esse fim de poema fatal.


José António de Carvalho, 10-março-2022
Foto Google





terça-feira, 8 de março de 2022

Poema "TU, MULHER" (Dia Internacional da MULHER - 2022)


TU, MULHER…

 

És margem direita,

rio e foz,

estuário com voz,

corrente afoita.

 

És delírio e proeza,

corpo cinzelado

p’los dedos moldado,

princípio da natureza.

 

És fogo e estio,

balada inocente,

Sol brando poente,

vela de navio.

 

És noite e dia,

também, sol nascente,

ângulo de diamante

a refletir alegria.

 

Parabéns!…

Hoje também é teu dia!!!!

 

José António de Carvalho, 08-março-2022

Pintura “Pinterest”



Muito obrigado, amiga das letras Maria João Braga!



domingo, 6 de março de 2022

Texto "A ALDEIA E O FUTURO"

Este foi o texto da minha participação no 4º desafio 2022_ Criatividade sem Limites do Livro Aberto. No qual tive que incluir as palavras: "Aldeias, pastoril, manhãs, vida, tintas, amoroso, misterioso, murmúrios, brancas, sibilantes, cântico", do poema "As Aldeias" de António Gomes Leal (Sec. XIX/XX). Quando escrevi o texto apenas conhecia as 11 palavras do desafio lançado pela Ana Coelho, no seu programa "Livro Aberto", edição 4 de 2022, da Rádio Voz de Alenquer.


A ALDEIA E O FUTURO

 

A subtração da vida nas ALDEIAS acelera o fim a cada dia que passa.

As MANHÃS BRANCAS, agora, só nos cânticos das pessoas quando acordam aos poucos, os poucos moradores da aldeia, com os sons SIBILANTES da VIDA PASTORIL na sua subida aos montes. Já não se distingue o tom do CÂNTICO AMOROSO do odioso. Tudo isso é imprevisível, nublado, até MISTERIOSO.

Há MURMÚRIOS e lamentos por todos os lados, pela idade da pessoa mais jovem do lugar, que conta já 64 anos. E é ele quem se encarrega de bem cedo levar os rebanhos para as pastagens.

Sobe aos montes o quase reformado, e ficam na aldeia os reformados. E todos, os cinco moradores, estão-se nas TINTAS para o terem filhos: -não querem mais filhos-. Importa agora os filhos das ovelhas e das cabras que lhes vão garantindo a vida. Todavia, pensando melhor, quem precisa de uma reforma é a “aldeia” do país.

 

José António de Carvalho, 03-março-2022


 


segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Poema "O PEITO"


O PEITO

 

É onde cai a formosura

das pétalas das flores

que subtilmente

vão descendo das árvores.

 

É onde sossega o sussurro

e cala o soluço

por entre o calor do afago

dum paraíso campestre

que adormece os deuses.

 

É onde se faz voar o sonho

que alimenta todo o corpo

para crescerem asas de outro voo.

 

É onde repousa o decote

na dormência da alma,

e se ancora o espírito

na impetuosidade dos lábios

de subirem os degraus

para uma outra dimensão:


É a morada do coração!...

 

José António de Carvalho, 28-fevereiro-2022

Pintura de Monteiro da Silva - ARTE CELANO - Grupo de Artistas