sábado, 20 de janeiro de 2024

Poema "CABE NUM DIA"


CABE NUM DIA 

Cabe num dia,
cabe na mão,
os olhos da madrugada
que o sonho pedia.
O sol das manhãs
em dias de verão,
bem alto a sorrir
no pulsar do coração.

Os lábios da tarde
abrem-se sorrindo
num rio sem destino
lentamente a descer
como plumas de aves
num arco-íris lindo;
não se vendo mais nada
que não seja o entardecer.

A noite em doce rosto
rouba ao crepúsculo
o néctar da alucinação
num calor de agosto,
de lava a queimar
que a noite não refresca,
querendo fugir
mas deixando-se ver,
deixando-se amar
com a lua a beber
contornos de luz
para voltar a viver,
e adormecer…

José António de Carvalho, 19-janeiro-2024
Foto de Antônio Miranda 



segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Poema "A SEGUNDA FUGA"


A  SEGUNDA FUGA

Às vezes fujo por entre densos arvoredos,
outras por entre casas cavernosas vazias.
E enquanto fujo vou escapando a medos,
no acesso a horas ainda mais tardias.
Depois, lá encontro... e logo me defronto:
com a terra, com o mar, com as estrelas;
palavras que em dicionários não encontro
e que antes pensava serem as mais belas.

E as flores… as flores e a vida.
As flores que lembram sempre a minha terra;
essa terra cheia de vida que me vai engolir.
E aí é que se dá a guerrilha dentro de mim,
que mais cedo do que tarde será uma guerra.
Oh… essa guerra a que ninguém pode fugir,
que passará a certeza de um esfumado dilema:
se viver é pior ou melhor do que o que está para vir.
E não é hora, nunca é a hora para o fim do poema.

José António de Carvalho, 11-janeiro-2024
Foto de Conceição Silva

Link do vídeo da declamação do poema pelo ilustre poeta/declamador António Ferreira 

https://www.facebook.com/100005942883932/videos/751160303543728/

quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

Poema "PRIMAVERA SONHADA"


PRIMAVERA SONHADA

Sonho com a primavera
neste janeiro decadente
e com esse sol ausente.
Alma triste em corpo frio
enrolado enquanto espera,
morrendo a cada arrepio.

Eles não sabem que o sonho
com que sonha toda a gente
é um sonho diferente
da água a descer o rio.
Assim eu sigo tristonho
e ela desliza em delírio.

Eles não sabem que sonho
com poesia cantada
em versos à minha amada
nos dias de primavera.
Talvez nem ela, suponho,
sonhe sonhos que eu tivera.

José António de Carvalho, 10-janeiro-2024
Foto de António Miranda