sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Poema "NATAL E ANO NOVO"


NATAL E ANO NOVO


Tentei escrever algo poético sobre o Natal e Ano Novo, e não consegui.
Não consegui elevar-me nos sentimentos bons e adornados a florinhas;
nem mergulhar nas brisas frescas do mar;
no doce calor de um lar,
de uma família,
ou de uma singela cama com perfume primaveril
coberta de papelinhos com pedidos e desejos
para o Natal e ano de 2024.

Sinto, isso sim,
as grades frias do mundo que nos aprisiona o corpo,
e esta sociedade que nos venda os olhos
tornando-nos mais cegos do que morcegos expostos à luz do dia.

Sabemos lá o que é a luz se só vemos flashes direcionados ao sol do meio-dia.
Ontem acreditaria no amor
se não observasse agora que o ódio é menos malévolo
do que a indiferença carregada pela neutralidade.

Tenciono odiar os neutros,
e os estados de neutralidade,
e o politicamente correto.

José António de Carvalho, 28-dezembro-2023
Foto "Pinterest"



quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Poema "MÃOS NATAL"


MÃOS NATAL


Se as tuas mãos ajudam
são sempre mãos limpas;
ainda que estejam sujas
é reconfortante senti-las.

Estender a mão e ajudar
é pegar no grão e semear.

José António de Carvalho, 21-dezembro-2023
Foto "Pinterest"



sábado, 16 de dezembro de 2023

Poema "NATAL, QUE LINDO, SE…"


NATAL, QUE LINDO, SE…

Ah, que sonho lindo
esse natal de menino,
cujas prendas eram sonho.
E a luz era pouca
para ver os ponteiros
unirem-se à meia-noite.
Ai, que alegria louca…
O menino lá deixara
cair no gasto sapatinho
três rebuçados “catraio”
e um chocolate pequenino.
Mas a noite não acabava aí…
havia ainda a camisola,
que depois de remendada
ficara outra vez nova.

Em nada era o Natal de hoje,
dum mundo em que tudo foge…
de loja em loja,
de carro em carro,
de telefone em telefone,
de consola e televisão,
computador ou outra diversão
que põe o Homem fechado.
Também as macro diversões
com gente aos repelões
e outra acantonada
vencida pelas ilusões,
que abafam sons de aviões,
de mísseis e canhões,
em matança desculpada.
E as mais incríveis poluições
nesta Terra tão maltratada.
Esta… a traição das traições.

Depois…
Mensagens quase virgens
de desumanos aldrabões,
cujas palavras dão vertigens
e asfixiam pulmões
de desalinhados, não seguidores,
indo-se-lhes a vida em horrores.
 
E eu pergunto a todos os presentes:
Será isto Natal, meus senhores,
encobrir maldades e seus autores
que espalham morte a inocentes?

José António de Carvalho, 15-dezembro-2023
Fotos da Sessão de Conto e Poesia - Fundação Real Colégio de Landim



segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

Poema "PARABÉNS, QUERIDA MÃE!" - 09-12-2023

92 Anos 

PARABÉNS, QUERIDA MÃE!

Cada ano que passa
é passo no trilho feito,
é graça que grassa
desse teu jeito.

Devagar, avanças a idade
nas brisas que a vida dá.
Fica o que se aprende,
se é, e se estende
a alguém, aqui e acolá.

Soerguida do fio da dor
e de alegria contraída
das mutilações ao coração.

Mas subsistes com esperança
no amor aos que tens;
ainda são os teus bens,
e que te rendem amor,
carinho e dedicação.

José António de Carvalho, 09-dezembro-2023



segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Poema "AMA-ME"


AMA-ME

Ama-me por dentro,
que por fora é ilusório.
É campo que seca,
rio que resseca,
rio que morre
antes de chegar ao mar.

Ama-me neste cinzento,
que mistura o negro passado
com o branco do momento.

Ama-me assim:
com azuis sobressaltos
e verdes esquecimentos…
Mas sempre a sonhar
com pinheiros altos
e flores de jasmim,
com veleiros a navegar
nas vagas do alto-mar…

Sendo este o espaço
de chegares até mim
no tempo de um abraço;

e ficarmos assim,
marcando compasso,
para o dia não ter fim.

José António de Carvalho, 27-novembro-2023
Foto de António Miranda (Arte Celano - Grupo de Artistas)







sábado, 18 de novembro de 2023

TEXTO "MUITO"

MUITO

Muito quero adormecer as ideias que entorpecem o meu caudaloso sentir, e que me remexem as palavras e as folhas de outono, que são memórias amareladas e cinzentas, cobertas de bolores nascidos com os orvalhos. São folhas prestes a desfazerem-se da sua estrutura e do seu contorno na chegada do inverno, numa passagem daquilo que fora viva vida. As cores doces e a beleza dos efeitos por si só não bastam.

Enfim!...

Não será pedir muito a mim mesmo, que mais não seja do que sentir apenas o que quero e de, em algumas coisas, fazer apenas o que me dá prazer fazer. E matar literalmente os versos coxos de sentimento. Nem que para isso tenha que arrancar as folhas mortas e desfeitas do livro inexistente, que se abre das sombras do efeito e defeito do meu peito.

Já quase ressurgi em novo livro como os cogumelos a refletirem o luar nas noites claras de outono. Mas depois penso: como há tantos cogumelos iguais nesta altura, e são tão poucos aqueles que são saudáveis.

Não me falem mais de belos outonos!...

José António de Carvalho, 17-novembro-2023
Foto do Parque dos Loureiros - Vermoim







sexta-feira, 10 de novembro de 2023

Poema "NA TERRA DA GUERRA E DO METAL"


NA TERRA DA GUERRA E DO METAL


Sou desta terra que vive de olhos postos no além, 
e vivo na avenida que segue sem se saber o fim.

Esta terra que fica na Terra onde há guerra
que mata inocentes e soldados também.

Disparo revolta à volta das letras que grito, 
bombas e balas de paz na terra de ninguém,

Mesmo não tendo importância para quem
só lê letras dos metais de quem é rico.

E… quem puder, por contrição, que mude;
eu, pelo mesmo motivo, por aqui me fico.

José António de Carvalho, 10-novembro-2023
Foto do trabalho de Antônio Miranda (Grupo de Artistas - Arte Celano)




terça-feira, 7 de novembro de 2023

Sátira "O DIÁLOGO"

MARCELO E COSTA


O DIÁLOGO

Disse Costa a Marcelo:
- “Galamba” Sr. Presidente,
Que mau “Cordeiro” me terá visto
Para me meterem nisto?

- Não faço ideia! Disse Marcelo.
Há muito que te avisei
Daquele astuto mentiroso…

Agora apenas te direi
Que para mim é penoso
Ver-te, também, ir embora!

Tu ainda por aqui ficarias
Não viesse a ordem de fora!

Como não ligaste à minha ideia
Terás que ir mesmo, e, agora,
A mando da Comissão europeia!

José António de Carvalho, 07-novembro-2023
Foto da LUSA



sábado, 4 de novembro de 2023

Poema "A TRAVESSIA" (Inspirado no quadro de Monteiro da Silva)


A TRAVESSIA

Essa paisagem cortada ao meio pelos castanhos outonos de águas ainda mornas, que se nega a não sonhar com a vida quando o sol a visita na sua aparição pela outra margem.

Há sempre um abismo a vencer, há sempre uma ponte para atravessar. Há sempre o outro lado para sonhar, há sempre um tempo que nos quer acolher.

Há sempre as repetidas primaveras que trazem a luz à escuridão dos olhos da alma, que quase adormece em todos os invernos da terra e em todos os invernos da vida.

Mas os olhos ainda vislumbram a ponte… Uma ponte de travessia e sonho, seja ela de luz, de água viva duma fonte, ou simples pincelada divina nas águas inquietas, que, lá no fundo, inspiram a arte, e a poesia.

José António de Carvalho, 04-novembro-2023
Pintura de Monteiro da Silva (Arte Celano - Grupo de Artistas)



quinta-feira, 2 de novembro de 2023

PENSAMENTO


ALGO QUE PODEMOS MUDAR?
(no dia dos fiéis defuntos)

Qual será a cor da vida se vivermos num mundo negro e acordarmos com um dia cinzento de chuva e vento, e os ventos a varrerem tudo, até o que pode ser mais positivo e os melhores sentimentos.

Depois, olha-se à volta e quase não há ninguém atento ao pormenor de cada pessoa. Mete-se tudo em sacos e em compartimentos para não incomodar nem ser incomodado. E cada um lá entra para o próprio saco ou compartimento: Fecha-se... e pronto. Está feito! 

Este fechar é um fechar de porta, de janela, um apagar de luz. A luz do conhecimento e autoconhecimento, do critério, da análise, da amizade, da solidariedade; a luz dos outros humanos e da sua compreensão, a dos outros seres, e da própria Luz.

Direi que estamos sós e às escuras.

José António de Carvalho, 02-novembro-2023
Quadro de Monteiro da Silva "Vento poético" (Arte Celano - Grupo de Artistas)




quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Poema "LEVA-ME A SAUDADE"

HOMENAGEM AO MEU PAI E AO MEU IRMÃO (01-Novembro)


LEVA-ME A SAUDADE

Pega-me na mão e leva-me para onde o sol se sinta ameno,
onde as palavras mesmo que surdas sejam ricas;
onde se cultivem os campos com almas despidas,
e se sinta que deixaste o ar mais leve e o peito mais fértil.
Que a robustez líquida do sentir angarie fiéis
para que possamos gritar pela verdade do amor.
Grito no cimo deste monte de saudade...

José António de Carvalho
Foto Internet




terça-feira, 31 de outubro de 2023

Poema "PÁGINAS DE NOVEMBRO"


PÁGINAS DE NOVEMBRO

Chega o novembro cinzento
no seu profundo lamento
sem pena e cor de esperança
de ver fim a tanta guerra
que explode na fria terra,
malvado hino à ganância.

Pego nas folhas que caem,
são lágrimas da paisagem
do despir da natureza
que de si já tanto sofre,
sangue das veias da estrofe
onde mergulho a tristeza.

José António de Carvalho, 31-outubro-2023
Pintura de Monteiro da Silva "Ao virar do outono"







domingo, 22 de outubro de 2023

Poema "POESIA DA VIDA"

Poema feito para o desafio do Grupo AlenCriativos (Alenquer), promovido pela Ana Coelho, para homenagear a Poeta Natália Correia. O desafio teve por tema "O dever de deslumbrar".

POESIA DA VIDA

Ah… esta minha terra e este mar,
que me trazem recordações
de quando acordo p'ra viver;
o hoje e o amanhã que mais quero
calando o ego - quero e posso
para ser o que posso ser.

Esta ideia, esta alma de povo,
abrigam-me de sobressaltos,
ter em cada dia tudo novo
sendo igual sem se repetir
em mais um dia para subir
a alcançar pensamentos altos.

Tendo isto, tenho quase tudo,
com os versos em liberdade
e a vida descomprometida,
a morte viverá escondida,
e a poesia não será miragem
estampada em bela paisagem
dentro da minha própria vida.

José António de Carvalho, 12-outubro-2023
Pintura de António Miranda (Arte Celano - Grupo de Artistas)



sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Feliz Dia do POETA!


Feliz Dia do POETA!


Hoje percebo um pouco melhor os poetas.

Não é poeta quem quer ser poeta,

mas aquele que se liberta da matéria

e se deixa voar em emoções.

 

Daí que o poeta só o consiga ser

em pequenos espaços da sua existência,

designados por momentos de inspiração.


E se a vida é como uma flor,

direi que, é como uma roseira,

que desabrocha do botão, 

a mais apaixonante das pares,

e, pouco tempo depois

começa a desprender-se das pétalas,

deixando: umas, voarem para o chão;

outras, ficando presas nos espinhos

de outras roseiras; outras ainda,

prendendo-se nos próprios espinhos,

ficando aí até terrivelmente secarem,

ou esperando que venha uma leve brisa

que as lance no chão para serem nada.


Ficam apenas memórias...

Memórias em quem pode e quer ter memória. 

Ou, então, ficam as memórias gravadas

na arte de quem sabe fazer arte.


Boas inspirações!

Feliz dia do Poeta!


José António de Carvalho, 20-outubro-2023

Foto do site: www.calendarr.com/brasil/dia-do-poeta/



quinta-feira, 19 de outubro de 2023

Poema "PALAVRAS"

Poema feito para o desafio do Grupo AlenCriativos (Alenquer), promovido pela Ana Coelho, para homenagear a Poeta Natália Correia. O desafio teve por tema "O dever de deslumbrar".


PALAVRAS


Fico-me pelas palavras simples
e despidas de aura divina,
despidas das joias cintilantes
e acolchoados das vestimentas reais.

Palavras… sem papos inchados,
coloridas plumagens de faisões
e conteúdos e intenções nebulosas.

Fico-me apenas pela palavra,
de simples palavras de serem cantadas.
Palavras de significados líquidos,

Palavras chuva,
palavras vento,
palavras sol;
palavras cintilantes,
palavras verdes,
palavras água
e alimento,

palavras justiça,
palavras rio,
palavras planície
e montanha,
palavras fogo,
palavras… sentimento novo.

Palavras de grito
pela natureza que morre,
palavras de Homem
que mata a fome,
palavras da paz
que não se faz,
palavras de justiça
a quem a desperdiça,
palavras da ternura
que segure a mão,
palavras balbuciadas
ao ouvido, que digam:
“acredita, respeita,
abraça, sonha,
ama, e… voa”.

Só assim as palavras
deslumbram!

José António de Carvalho, 06-outubro-2023
Foto de Natália Correia (1923-1993)




quarta-feira, 18 de outubro de 2023

PENSAMENTO


PENSAMENTO

Receio que nunca mais possamos olhar calmamente o céu e nele contarmos estrelas, deixarmo-nos beijar pelo sol ou de sentirmos a chuva humedecer-nos o rosto, de enfrentarmos o vento a sacudir-nos a roupa batendo-a na nossa pele, porque temos de andar atentos ao que se passa no chão e à nossa volta, esquecendo que grandes perigos também nos podem chegar pelo ar, independentemente da altitude e latitude.

José António de Carvalho, 18-outubro-2023
Pintura de Monteiro da Silva "Entre Céu e Mar" (Grupo de Artistas - Arte Celano)



quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Poema "NA PROCURA DO POEMA"

"Há gente que vive tanto o que é a aparência, 
Querendo aparentar o que não é essência.
E, dia-a-dia, sofremos na ambivalência
de ser o que não somos em consciência."

José António de Carvalho, 01-outubro-2023


NA PROCURA DO POEMA

Talvez não sejas música,
talvez não sejas água;
talvez… nem sejas alimento.

Ou talvez sejas a luz
a acordar o esquecimento.

Talvez sejas mais que ilusão
de um cálice de paixão.

Mas és sístole do coração
a levar alimento onde
o poema se esconde
numa pétala de flor,
a florescer no esplendor
do mais singelo no amor.

José António de Carvalho, 27-setembro-2023



quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Poema "POEMA SEM TÍTULO"


POEMA SEM TÍTULO

Não sei ver mais longe ou além do que isto,
se a cada dia o que faço, conquisto.
Se mais não quiserem, já não insisto.

Porque sou pouco mais do que um miúdo,
e um quase velho que já tudo viveu,
e nunca e nada de nada percebeu.

Se me disserem que não é verdade
negarei com o maior à-vontade
com cara de quem a vergonha perdeu.

Resta-me p'ró resto da caminhada
a esperança, e sonhar mesmo com nada;
já esta, coitada, quase morreu.

José António de Carvalho, 21-setembro-2023
Foto de António Miranda - Arte Celano - Grupo de Artistas





segunda-feira, 11 de setembro de 2023

Poema "O DIA NÃO ACABA"


O DIA NÃO ACABA

Ah, quando as noites são claras, eternas
melodias lisas, águas serenas,
folhagens tenras, raízes maternas;
que em todas as horas amanheças.

Ah, felino faminto que estremeças
ao ver a presa só e indefesa, apenas
e antes de a devorares enlouqueças
respirando primaveras de verbenas.

Posto o sol, estaremos cansados,
os corpos húmidos, ainda ancorados, 
bafejarão calor e sentirão novo frio
em outro calor roubado a um arrepio.

José António de Carvalho, 11-setembro-2023
Foto de António Miranda




terça-feira, 29 de agosto de 2023

Poema "RAIO DE SOL"


"A amizade é o conforto da presença mesmo na ausência. O amor é amizade sem lugar para distâncias." 

José António de Carvalho, 29-Agosto-2023



RAIO DE SOL


Tenho a minha alma a voar

por lugares magníficos,

entre estrelas e planetas

com um Sol maior a cantar

em nome de todos os profetas

que vieram anunciar, que:

“Errar é humano…”

Mas implicará prometeres

corrigir-te sem reservas

dos erros que trazes na alma

bem antes de os cometeres.


José António de Carvalho, 29-agosto-2023

Foto de Conceição Silva




sábado, 12 de agosto de 2023

Poema "SEMPRE QUE VIERES"


SEMPRE QUE VIERES

Vem devagar
nos teus passos largos,
flor de todos os cuidados,
guarida de rara subtileza
do luar despido e doirado,
momento sempre esperado.

Vem de surpresa
salpicando frescura p’rá vida
que em si teimosamente queima
na busca de alma parecida.

Vem docemente no luar
deste agosto quente
no teu corpo de colina fina.
Vem devagar, vem menina,
que anseio ardentemente
que o momento dure sempre…

Vem, vem…
para que se faça rima
a ouvir assobiar o vento,
sem deixar que se esgote o tempo,

e... adormece-me,
que quero sonhar ainda…

José António de Carvalho, 10-agosto-2023
(Foto pinterest)



sábado, 29 de julho de 2023

Poema "A PAGA EM VIDA"

(Paga em vida, e apaga da vida.)


A PAGA EM VIDA

Sei que um dia partirei
p'ra qualquer outro lugar
ou para lugar nenhum.

Não sei que imagens terei
E ninguém pode afirmar
que haja mais lugar algum.

Será um partir para ir
sem volta, sem retrocesso,
sempre a correr, a fugir…

Qualquer dúvida que exista
abrirá um tal processo
que não há quem lhe resista.

Que seja antes de partir,
como não há mais regresso,
a paga a quem se sentir
um ofendido confesso.

José António de Carvalho, 29-julho-2023
Pintura de Madalena Macedo (Parque da Devesa)



quarta-feira, 26 de julho de 2023

Poema " NA TUA VOZ…" (A Carlos Lacerda)


NA TUA VOZ

(poema a Carlos Lacerda)

Oh, Carlos, Carlos!...
O que queres que te diga
na hora da tua partida?...
Que se perdeu poesia?
Que se perdeu um amigo?
Fico triste comigo…

Grande dizedor
e ilustre poeta.
Pena de na tua voz
nunca ter tido um poema meu.
Não senhor… Nunca ouvi!

Mas sem ti…
a poesia fica bem mais pobre!

Fica o mar e o apreço…
que em dor e versos teço,
tendo a poesia como laço
num enorme e poético abraço…

Até sempre voz de poetas!

José António de Carvalho, 26-julho-2023
Foto de Carlos Lacerda
Conheci-o pessoalmente na Expoética-19, Braga

("É o meu "estado d'alma
quando à Poesia empresto a voz
mesmo a declama-la com calma
me entrego todo a vós !"
Carlos Lacerda - poesia)






terça-feira, 25 de julho de 2023

REFLEXÃO "A minha reflexão para hoje"

A minha reflexão para hoje.
Começando por este provérbio popular:

“quem guarda o que não presta sempre tem o que precisa”

Respeita, guarda e agradece o que a vida te dá.
O amor guarda-o só para ti. Sê egoísta e não abras mão dele.
Abre apenas o coração e vive-o…
Se são bens materiais,
Guarda-os e usa-os com equilíbrio, sem esbanjar, sem exageros…
Mas ajuda quem deles precisar justificadamente.
A ti mesmo:
Ama-te e respeita-te!…
Aos outros:
Vê-os como se fosses tu mesmo;
com sentimentos, defeitos e virtudes.
Não te exageres em expectativas;
a outra pessoa nunca será como tu.
Não te vanglories pelo que és ou fazes.
Não te compares: Podes fazer muito esforçando-te muito menos do que qualquer outra pessoa que pouco faz e muito se esforça. - Pensa nisto!...
Liberta-te do que não te faz bem.
Rodeia-te de quem gosta de ti como és.
Ama cada e a cada momento que vives.
Só amando poderás ser amado.
Sê Feliz Hoje! (que está um lindo dia)
(Foto Pineterest)





Poema "NO GUME DAS PALAVRAS"


NO GUME DAS PALAVRAS

As palavras são uma corrente,
eterna caminhante, e deslizante.

Elas são mágicas,
são sol, são água, são sal.
São tudo de bem
e são todo o mal.

Sejam condescendentes quando as uso
embrulhadas e imprudentes,
pela imprudência que em mim mora;

pelo que sou hoje
ou pelo que fui,
pelo que quero ser
ou deixei de ser,
pelo que deveria ter sido,
ou somente,
pelo que deveria ser agora.

Perdoem-me as faltas em palavras
e as palavras em falta.
Estas lacunas brutais também me definem.
Às palavras repreendo-as,
aprendo-as, mas esqueço-as
quando de mim fogem assustadas.

Ah… e as palavras douradas que se perdem
nos recônditos esconderijos do meu jeito,
são redondas. Sempre assim redondas…
São elas que me alimentam e definem…
São elas que me rasgam por dentro
quando se evadem do meu peito.

Talvez, talvez…
a razão para que tantas vezes
fique apenas por meias-palavras…

José António de Carvalho, 24-julho-2023
Pintura de António Miranda



sábado, 22 de julho de 2023

Poema " ENQUANTO ISSO…"


ENQUANTO ISSO…


É julho. O sol grita bem alto.
O calor lança-me exausto
na opacidade das coisas;
das coisas triviais do mundo
onde busco algum brilho
entre o sofrimento dos versos.

Depois vêm as aves que gritam,
os cães que gemem pelo calor,
os homens que praguejam e riem....
mal sabem onde estão,
o que fazem,
ou o que querem fazer,
nem para onde vão;
tão pouco, o que são.

Só quero ficar calado
a ouvir o choro do mundo
na minha pobre condição.

José António de Carvalho, 23-julho-2023
Foto de António Miranda





segunda-feira, 17 de julho de 2023

Poema "CANÇÃO A VERMOIM"


CANÇÃO A VERMOIM


Nos dias em que o sol nasce
Vestes linda primavera,
Tão mais verde, tão mais bela...
Sonho que entra p'la janela.

Lá ó longe tens o mar
No delírio das visões
Da tua gente a cantar
A mais bela das canções.

O anil verde do teu manto
Vem do vivo verde mar,
Em gritos de mar sereno
Na voz do povo a cantar.

O azul da tua bandeira
Tem a cor do coração;
Luz vermelha no pincel
Pintando linhas de amor:
Um amor de perdição.

Teu povo bebe a esperança
Canta orgulhoso de si.
No sorriso da criança
Cresce o sonho que afiança
Quanto gostamos de ti.

José António de Carvalho, 17-julho-2023
(Foto da Junta de Freguesia)


Vídeo da declamação do poema
"CANÇÃO A VERMOIM"








quinta-feira, 29 de junho de 2023

Reflexão "PONTOS DE VISTA"



PONTOS DE VISTA

Ama o que podes dar e agradece o que tens.
E respeita sempre no teu caminho.
Lembra-te de que no princípio eras nada,
e que no fim nada serás. Tudo o resto é um
balão a encher-se de ar até ao seu limite;
de que apenas ficarão memórias… que,
que dependerão sempre dos olhos que as veem.
Por isso: sê tu mesmo, e… melhora sempre!

José António de Carvalho, 29-junho-2023
Foto de Conceição Silva



quarta-feira, 21 de junho de 2023

Poema "ESTAÇÕES"

(Solstício de Verão) 

ESTAÇÕES

Ah… que bebo a tua alma na chegada
da brisa que envolve os teus cabelos.

Nos teus olhos dou meu perdão à madrugada
que me promete os sonhos mais belos.

Nos teus lábios dilata-se a história do amor…
E a tua língua desliza flagrantemente
de cais em cais até encontrar porto seguro.

A viagem estelar fica presa nos labirintos
dos sussurros abafados nos teus ouvidos.

Não há morte que se atreva a não matar o desejo
de fazer nascer o dia em longos ápices da noite.
E faz-se dia e noite, manhãs, tardes e madrugadas claras. 

Tudo sem nome e em teu nome também se chama.
E tudo é primavera até se fundir num único verão.
Não há outonos esquecidos nem invernos lembrados.
E tudo arde, e nunca é tarde, até a chuva cair na cama…

José António de Carvalho, 21-junho-2023 (solstício do Verão)
Imagem "Pinterest"







segunda-feira, 19 de junho de 2023

Poema "INEVITABILIDADES"


INEVITABILIDADES

Hoje construo menos do que antes,
idealizo mais e mais perfeito.
Os meus olhos só veem flagrantes.
Ver mal até deixa de ser defeito.

Voltado para a minúcia das coisas,
só quero ver o que apenas sinto,
e só sinto o que mais me conforta.
Tudo o resto, de pouco me importa.

Fecho os olhos e vejo a natureza,
que vai definhando, e quase morta,
mesmo assim se veste da maior beleza:
naquelas flores que me batem à porta,
que abro sempre, e sempre mais feliz,
deitando ao vento cinzenta tristeza.

Os dias passam e continuo aprendiz
de tudo, e do que se diz e se faz;
na calma da alma fico a pensar…
Depois, lá me atrevo e escrevo,
neste meu caminho sobre o mar.

José António de Carvalho, 19-junho-2023
Foto "Pinterest"




segunda-feira, 29 de maio de 2023

Poema "QUERIDO IRMÃO"

Este poema será lido no programa "As nossas Raízes" (Rádio Cidade Hoje, 94 FM) de Manuel Sanches e Suzy Mónica, hoje, 03-06-2023, a partir das 18 h 05 m.



QUERIDO IRMÃO

Algo de indecifrável veio
nas nuvens negras do além.
Talvez um adamastor indomável
a erguer-se no meio do mar
para enegrecer este domingo,
mas também para te libertar.

“Não separe o Homem o que Deus uniu”
Qual quê?... O Homem separa!

Não!… A nós, o Homem não separa:
Sangues do mesmo sangue,
Almas da mesma Alma;
nem agora porque tu partiste
quando a Primavera chegou.

Foi tão só um ciclo que se fechou,
o nascer de nova dimensão;
um desvario dos nossos caminhos
que algum dia se reencontrarão,
e o sangue do mesmo sangue,
Viverá.

Um até breve, ou até já…
Ninguém o sabe, nunca se sabe.
E agora sob o manto da saudade,
nas tantas voltas que a vida dá,
cuidarei do amor por ti, meu irmão,
porque esse… jamais morrerá!

José António de Carvalho, 28-maio-2023





sexta-feira, 19 de maio de 2023

Poema "CERCO"


Escrito num início de tarde de maio, com sol e algum vento, ouvindo “Paradise” dos Coldplay, que deram concerto 
em Coimbra no final da semana passada
.


CERCO

E por aqui me aperto
No meio deste cerco
Que em ti eu me fiz.
É o coração que mo diz.

E, tendo-te por perto,
tendo-me eu dentro,
colado ao teu peito,
sinto alto este alento
que nos mantém
para irmos muito além.

Seremos felizes…
E eternos aprendizes
nestas coisas de nos darmos.
Ainda mais quando estamos
pousados nos mesmos ramos
como nunca e ninguém…

José António de Carvalho, 18-maio-2023
Foto de Conceição Silva






terça-feira, 2 de maio de 2023

Poema "AETERNUS AMOR"


AETERNUS AMOR

Ah!... que saudade tenho
De ver o sol a nascer.
Dizer-te de onde venho
Para me encontrares.

Recomecemos a correr
Que chegou a primavera.
Abraçar-te se puder ser
Que o tempo é tão cruel.

E a Incerteza que nos espera
É como andar no deserto
Numa ânsia desmedida
De tornar certo o incerto,

Pedindo a maior sorte
E viver mais que o tempo,
Jovem amor em velha vida,
E torná-lo na nossa medida…
Tão puro que resista à morte.

José António de Carvalho, 02-maio-2023
Quadro "Pinterest"



Poema "SURDOS TEMPOS"

Poema meu e o quadro da pintora Hermínia Cândido que estiveram ligados ("uma imagem vale mais do que mil palavras") na Expoética, Braga-2023.

Coordenação de Fernanda Santos, Organização da CM Braga e Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva.

A todos o meu maior agradecimento. 



SURDOS TEMPOS

Gritam os poetas
com a alma a sangrar,
e coração a rebentar
de ilusão sem cor;
de pensar tão somente
que o amor não é fantasia…

Gritam os poetas
para surdos ouvidos,
que se destruam armas
e calem gemidos
das guerras concretas;
que se abram os olhos
para as outras discretas.

Pare-se a destruição,
os abusos de poder!

Que se faça do planeta
centro de vida, a nação
para se fruir e respeitar,
a alma que nos faça sorrir,
nascer, prosperar, crescer…

Crescer… e crescer…
E nunca para morrer!!!

José António de Carvalho, 06-fevereiro-2023
Pintura de Hermínia Cândido, Expoética, Braga-2023




terça-feira, 25 de abril de 2023

Poema "ABRIL, PRIMAVERA…"


(49 anos depois da revolução, continuemos a revolucionar e a festejar)


ABRIL, PRIMAVERA…

Era abril, Primavera;
Campos de cravos vermelhos,
Inocentes, sem saberem a hora.
Sorrisos sofridos, olhos de dor,
O sangue frio e sem amor
Pelas correntes que os exploravam.

Era abril, vinte e três;
Montanhas de esperança verde.
Sede de liberdade, e que sede,
No corpo de quem só sofria
E que a própria sombra temia …

Era a fome, o profundo cansaço
De quem trabalhava a terra,
Dos operários da têxtil ao aço,
Dos hospitais, minas, na guerra.

Era abril, vinte e quatro;
Os tanques viraram-se para Lisboa;
Abriram-se asas a quem queria
Voar em liberdade. Como seria?
Mas uma gaivota lá lhes dizia:
"Asas de vento. E voa, voa..."

Era abril, vinte e cinco;
O povo povoou ruas e alamedas,
Gritou sem medo, seguiu em frente,
Entoando, unidos, a uma só voz:
"Grândola, Terra da fraternidade!…
Liberdade, liberdade!”

Agora, já não sou quem era,
Caminhei vida fora, pudera…
Voltar p’ra trás é uma quimera.
A terra continuará uma esfera,
E em Abril será sempre Primavera…

- 25 de Abril, Sempre!!!


José António de Carvalho, 24-abril-2023
Foto Pinterest





Este poema foi publicado na revista escolar "Agora" da Escola Secundária Jaime Moniz (Funchal), Ano XIV, Número: 28; dedicada aos 50 anos da Revolução de Abril de 1974.

O meu poema na Pág. 28