sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Poema "TEMPOS"

TEMPOS

Há um tempo no coração que urge.
Mas não é o mesmo tempo do corpo.

O tempo do corpo é de chuva que aborrece.
O do coração é o tempo do raiar da aurora,
de enlevar o rosto na bruma fresca do mar.

O tempo do corpo é o do fado cansado.
O do coração é vibrante como as cordas do violino,
como o chilrear das aves na alegria da primavera.

O tempo do corpo é o tempo agasalhado do frio.
O do coração é um tempo de um longo estio,
mais veloz que o cair das águas na cascata dum rio.

O tempo do corpo. Oh!... Esse tempo do corpo!
Lográssemos nós podermos adiá-lo
e em tempo de coração transformá-lo.

José António de Carvalho, 29-novembro-2019
Foto de Maria José Bernardo



segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Poema "Os fracos"

Os fracos

Os fracos são aqueles
em que o amor não lhes entra
nem preenche o âmago.

Aqueles em que as suas árvores
não despontam primaveras.

Aqueles em que as flores
não desabrocham, nem frutificam docemente.

Fracos, são os que se abstêm de ver
de sentirem o Sol entrar-lhes bem dentro
até furar os confins da sua alma
iluminando-os e fecundando-os.

Fracos, são os que se estendem
nas águas do rio e adormecem profundamente
deixando-se levar pela corrente,

E que não olham para os mistérios da vida
que acontecem nas suas margens
onde crescem belas flores e árvores frondosas,

Os que não são capazes de lutar contra a sua corrente frouxa
e de apreciarem a beleza do que acontece no seu leito
onde a vida crepita, define e cresce pujante.

José António de Carvalho, 25-novembro-2019
Pintura de Madalena Macedo


https://youtu.be/TWPybPV9HaI




sábado, 23 de novembro de 2019

Poema "O NATAL QUE VEM PARA FICAR"

Este poema foi lido, no dia 19-dezembro-2020 (sábado), no programa "As Nossas Raízes", da Cidade Hoje Rádio, da autoria de Manuel Sanches e Suzy Mónica.

O NATAL QUE VEM PARA FICAR


Quem ousa dizer que o Natal na minha terra não é o mais bonito?
Ou que o Natal no meu país não é o mais fraterno?

Quem ousa dizer que o meu país não é um país de Cristo?
Que deixem de se ousar a tais coisas, porque não desisto.

Então não é Natal, ver casas iluminadas monte acima?
Parecendo estrelas no céu, no frio da noite e no breu?

Não é Natal abrirem-se todas as portas fechadas durante o ano?
Abrirem-se os sorrisos e os interiores, de cada casa que há em nós?

Ah!… E quando neva… Que na minha terra quase nunca neva…
É como se o Natal chegasse nesse dia, em qualquer dia ou noite fria.

O Natal na minha terra, na terra de Portugal, é feriado mundial.
E é do mundo, porque Cristo nasceu e renasce a cada segundo.

Não tenho dúvidas deste Natal que a alma encerra,
Em que os Homens, as Crianças e os Anjos O aclamam em toda Terra,

Mesmo convencidos que nunca fomos vencidos
Pela estrela que nos guiou e pela mensagem que ficou,
Ainda que a dúvida possa insistir continuar,

Todos queremos, Um Natal que venha para ficar!

José António de Carvalho, 23-novembro-2019
Foto JAC (Igreja de Vermoim com iluminação de Natal)

* Este poema integra o e-book de Natal -2019, do Solar de Poetas: "Eu vi uma Estrela" 




segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Poema "FACES DA POESIA"

Este poema foi lido, no dia 14-outubro-2020 (sábado), no programa "As Nossas Raízes", da Cidade Hoje Rádio, da autoria de Manuel Sanches e Suzy Mónica, e voltou a ser lido em 12-dezembro-2020.

FACES DA POESIA

Leva, leva, este domingo cinzento.
Leva lá aquelas pesadas nuvens
que tanto carregam o firmamento.

Traz-me cores de margaridas jovens
de pétalas brancas e sorridentes
nesses dias mágicos quando vens.

Leva, leva, palavras que consentes
e que erguem altos muros e barreiras
que matam sorrisos, suas sementes.

Traz no olhar lindas flores de amendoeiras
alegres com a luz de mais um dia
ávidas no florir, pois são as primeiras.

Leva, leva, aquela dor que arrelia
gerada na angústia, e em soez surdina
vai comendo os sorrisos dia a dia.

Traz, traz-me as tuas tardes de menina
Que a tua doçura aconchega o peito
essa perfeita imagem feminina
de poesia a germinar no leito.

José António de Carvalho, 11-novembro-2019
Foto de Conceição Silva


segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Poema "A RAZÃO DO CORAÇÃO"


A RAZÃO DO CORAÇÃO

O meu coração embala
com o chilreio das aves,

Com o estalar das folhas
que se desprendem das árvores,


Ou com esta música
que me arrepia a pele
e me adormece o espírito
levando-me num sonho leve.

O meu coração tem a força dum tufão
a voracidade do momento
a fragilidade e a cor das verbenas.

E nele encontro a razão,
E não lhe sei dizer que não…

Eu sou todo que dele resulta!

José António de Carvalho, 04-novembro-2019
Foto “https://www.google.pt/.plantasonya.com




domingo, 3 de novembro de 2019

Poema "É novembro"

É novembro

Chove como já não me lembro.
Vem chuva de todos os lados...
O vento muda a direção
que esta chuva sempre me acerta.
Seta de grande precisão.

Digo que sempre que assim chove
minha melancolia aumenta
retraio tudo que há em mim
que nem sei bem a minha idade.
São menos de noventa e nove.

Mas isto é grande maldade!
Se os construo à minha volta
estes altos e grandes muros...
quero sonhar e não consigo
fico só por tristes murmúrios,

Tão longe dessa primavera,
que mesmo que seja severa...
A única que me alimenta
e me livra desta tormenta!

José António de Carvalho, 03-novembro-2019
Foto de Conceição Silva