quarta-feira, 20 de abril de 2022

Poema "ASA DE ABRIL"


ASA DE ABRIL



Pega numa flor, num cravo, ou rosa;
vê o filme do mundo, lê a prosa,
desse sonho a esvoaçar de verdade.
Ergue-te bem alto ó Liberdade!

Desenrola-te e perde o medo.
Deixa de ser um ideal, um segredo,
que nos flameja só por dentro.
Atinge-nos com o teu olhar atento!

Passeia-te neste mundo distraído
que explora e mata, sem ser punido,
como se fosse uma lúgubre savana,
em que o mais forte o fraco engana.
Isso é o terror vestido de modernidade…
Ergue-te bem alto ó Liberdade!

E não há maior traição que nos sirvam
do que a fome que a tantos obrigam,
e o roubo do suor a outros tantos
por aqueles que passam por “santos”.

E desse Abril só ficou a quimera,
e a beleza de cada nova Primavera,
que sempre nos traz brilho e cor,
que nos permite gritar com fervor:

- Ergue-te bem alto, ó Liberdade!!!


José António de Carvalho, 10-abril-2022
Foto: "Cultura de Rua"









sexta-feira, 15 de abril de 2022

Quase Poema " VIVER A PÁSCOA"



VIVER A PÁSCOA


Bebi uns copos.
Pesa-me a cabeça.
O corpo já pesava antes,
embora mais leve do que nunca…

É sexta-feira Santa,
mas foi dia de trabalho.

Quase ninguém lembrou a Paixão e Morte de Jesus.

Terá sido em vão?
- Foi!

Quero dizer:
- Não! Não foi!

Nem que apenas um único ser humano a lembre.

Nunca estive tão lúcido para o dizer:
Se o Homem não pensa na morte,
ignorando-a tão somente,
infligindo exploração, sofrimento
e abandono, a troco de míseros vinténs,
por vaidades e laivos de loucura, 
exibindo-se nos píncaros da avareza,
e com ela, a autodestruição, o exibicionismo,
o egoísmo, a ligeireza.

O desrespeito do congénere,
a ardileza na cama,
a comercialização do corpo,
a adulteração de valores,
a destruição da natureza.

A mentira da verdade, e a verdade mentirosa.
Sabe-se lá quantos outros sentimentos mais…

Já não me apetece escrever.
A solidão hoje mata-me.
Não consigo parar de pensar
no sofrimento de todos os “Jesus” que sofrem.

Venha a Páscoa para se fazer LUZ.
Que seja mesmo um dia Feliz,
porque a nossa felicidade cansa…

José António de Carvalho, 15-abril-2022
Foto "iStock"




quinta-feira, 7 de abril de 2022

Poema "OS MEUS DIAS DE SOL"


OS MEUS DIAS DE SOL


Quando olho para o mar
deixo-me sempre encantar
pelas avenidas dos sonhos,
e não os consigo parar.

São como pérolas pequeninas
ter as tuas mãos nas minhas
a aquecerem as palmas,
Atando assim as nossas almas.

Os teus lábios são sonhos rubros
que arrepiam o corpo todo.
E sempre que o tempo desce,
Esse, que não se esquece,
Faz-me bem, ao sonhar o dobro.

E fico muitos dias a cantar
o que de bom a vida tem,
Porque os que passo a chorar
não falo deles a ninguém.

José António de Carvalho, 14-fevereiro-2022
Foto de Conceição Silva







segunda-feira, 4 de abril de 2022

Poema "A POESIA É UM LUGAR"


A POESIA É UM LUGAR



Que não tem lugar certo;
é como um canal estreito
onde passam todas as letras
que jorram dum frágil peito
como água no deserto.

É ópio não sendo droga,
que também corre nas veias.
E quando nela te enleias
jamais consegues desatar
as cordas que te estão a atar.

Ela vagueia por aí,
aquém e além-mar,
até nos astros… que eu já vi,
noutros lugares em que ainda se sorri,
apesar de ninguém a apanhar.

José António de Carvalho, 03-abril-2022
Foto de "El sitio de noticias del Tecnológico de Monterrey"