segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Poema "NÃO ME SEI…"



NÃO ME SEI…


Procuro conhecer-me se me desconheço,
Não respondo pelo que serei a seguir.
E se me escondo logo me mostro,
Nesse sol a espreitar entre nuvens,
Das tantas vezes que me desgosto
Para outras tantas voltar a sorrir.

José António de Carvalho, 19-agosto-2022
Foto: factotumcultural.com.br



 


quinta-feira, 25 de agosto de 2022

Poema "CATIVO DAS TUAS MÃOS"


CATIVO DAS TUAS MÃOS


Pega-me nas mãos
Segura o mundo que é nosso
Pela penumbra do assombro.

Deixa-te ir pelo mar
De peito exposto ao vento
Mais que ave a planar
Sobre o que é imenso
Do querer amainar
Um desejo tão intenso.

Desprende um sorriso
Desse olhar impreciso
Como quem vive a sonhar
Com mundo p’rá além do mar
Onde subsisto em cativeiro
Para te ter por inteiro.

José António de Carvalho, 25-agosto-2022
Foto de Conceição Silva (S. Martinho do Porto)



sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Poema "FUTILIDADES"


FUTILIDADES


Sei lá de onde vem o sentimento
Que se empoleira nos caminhos da vida
E leva para longe o que está perto,
E quer à força os ventos dos desertos.

Sei lá porque é que o amor é vulnerável,
E a vulnerabilidade e o amor são parceiros
Dos dias e das noites, do nascer e do pôr-do-sol.

E a vida fica toda preenchida de inutilidades.
Coisas inúteis, sentimentos inúteis, e futilidades…

E agarramos isso para lhe darmos a importância
De urdir todas as teias e tecer todas as vidas.

E é tão somente a mais que comum cobardia.
É delicioso o sol nascer depois de se ter posto…

José António de Carvalho, 19 agosto-2022
Pintura a óleo - Site Dreamstime






quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Poema "OLHARES A CORES" - Coletânea "Invisíveis olhares" RVA



OLHARES A CORES


Imagino a vida a cores
Pintada suavemente
Pelos dedos voadores
Que percebem fielmente
A razão dos pormenores.

Olho longe, sempre em frente,
Abraço as nuvens, e a luz
Que o Sol dá a toda a gente,
A quem me guia e conduz
No respeito mais silente.

Ouço o romance das flores,
Vejo a mudez das nações,
Mordo a fome, calo horrores,
Surdas notas das canções.

Vejo tudo. E do que vejo,
Sendo pouco mais que nada,
É bem mais do que o desejo
De nascer na madrugada.

O poema será um livro;
Um livro livre de medos,
Um coração livre e vivo,
Frágil barco destemido
Guiado pelos meus dedos.

José António de Carvalho, 30-junho-2022



quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Poema "POVO QUE LAVAVAS NO RIO"

Este poema foi inspirado e adaptado para os dias de hoje, do poema de Pedro Homem de Mello (06-09-1904 / 05-03-1984) "Povo que lavas no rio", cantado por Amália Rodrigues, e presto homenagem a ambos.


POVO QUE LAVAVAS NO RIO

Povo que lavavas no rio,
Talhaste com o conhecimento
As tábuas do teu caixão.
Pode ser que te arrependas
Do que fazes, e são ofensas
Que todas as vidas levarão.

Os que comem à mesa redonda
Onde nunca faltou o pão
Afundam-se no ganho e no ter,
Por troca do que é ser
Filhos na mesma condição.

Mas há quem não se esconda
De alertar a bons pulmões
Dos interesses em negociações
Que lavam a morte do futuro
Sem qualquer compaixão.

Ficarão secos e agrestes
Os solos, os rios, e as vestes
De quem sonha na cama.
E numa nova condição,
Em que o amor se derrama,
Faça-se da vida a grande arma,
Em verdade, de irmão para irmão.

José António de Carvalho, 03-agosto-2022
Foto na Noite de Conto e Poesia do Grupo instrumental que atuou na sede da ACAFADO