domingo, 31 de maio de 2020

Poema "O SONHO E A REALIDADE" - Dia Mundial da Criança (Programa "As nossas raízes", RCH)

(Dia Mundial da Criança-2020, Programa “As nossas raízes, RCH”, dia 30-05-2020)


O SONHO E A REALIDADE


Cintilam os rostos com alegria
Estendendo os seus véus pelas searas,
No borbulhar das águas das nascentes.
Mas a vida inóspita contraria
Sonhos e futuros resplandecentes.

Movem-se os extraordinários montes
Que deliram com o sol a nascer,
Sobejam os fios de luz nas fontes
Sempre que há vida para florescer.

Perde-se nas velas dos sentimentos
Essa delícia do fruto maduro
Nos cúmulos e auges desses momentos.
E é singela a esp'rança no futuro…

É a mãe tão feliz que se seduz
No âmago da sua terra fértil,
Numa flor trazida com tanta luz
E para a vida com futuro débil…

E não há nada, e nem há justiça alguma
Se quando mais uma criança chora
implorando o alimento que se esfuma
Ou pelo amor que também se vai embora.

Como não há, e nunca haverá justiça
Quando uma criança indefesa berra
P’lo abandono em laivos de preguiça,
Pelas explosões de ódio e da guerra.

Justiça… jamais poderá haver
Se a criança apenas quiser crescer
De costas voltadas pró vendaval...
E amar, brincar, sorrir, e ser feliz
No jardim de um mundo pseudonormal.

Toda a gente o sabe e também o diz,
Mas são poucos os que o tornam igual…
Gritemos p'los direitos da petiz
Em dia da Criança Mundial!

José António de Carvalho, 28-maio-2020
Quadro de Rosário Pedro / Arte Celano Grupo de Artistas (óleo s/Tela – “INÊS”)


sábado, 30 de maio de 2020

Poema "SONHOS DE PRINCESA"

Poema dedicado à artesã Sandra Escudeiro, pela sua arte de fazer obras geniais a partir de pequenos pedaços de trapos. 


SONHOS DE PRINCESA 


Quero ter corpo bem delineado,
Longo, pra parecer uma princesa,
Depois do tecido todo cortado
Coloca os bocados sobre uma mesa…

Une-os bem devagar, e com leveza
Usa a agulha fina para os coser,
E no meio de tanta macieza
Não me vai custar nada, nem doer.

Embaraço-me nas mil e uma pregas
E dobras. Quero ter dedos e laços.
Perco todos os meus medos nas nesgas
De pano onde se desenham meus traços.

Meus sonhos são feitos em brandos vincos,
E vais colocando o coração e dedos,
Umas orelhas pequenas e brincos,
Sussurras-me nelas belos segredos.

Quero ter o meu sorriso profundo,
Uma ténue ruguinha na bochecha,
Ter um olhar verde para o teu mundo
E para a natureza que se queixa,

Do Homem e dos seus escabrosos atos
Que matam natureza e os teus irmãos.
Mas eu, uma simples princesa de trapos,
Nasço em gestos d’arte, em tuas mãos!


José António de Carvalho, 29-maio-2020
Dois anjos em tecido de Sandra Escudeiro




segunda-feira, 25 de maio de 2020

Poema "SE RAZÕES HOUVESSE"



SE RAZÕES HOUVESSE

Talvez tenha perdido o que nunca tive…
Essa graça que nunca fora um céu meu.
Se a graça se desprende dos olhos de graça
E ilumina o rosto entre duas lágrimas.

Talvez tenha perdido só por estar perdido.
Porque a vida é um denso bosque obscuro…
Se nunca inventei nada além do perder
Uma ínfima luz sequer, que me fizesse ver
Tudo o que passa com os dias a correr.

E perder, perder… é deixar de voar nos sonhos,
Deixar de ver os teus olhos quando se escondem,
Deixar que o teu sorriso de catraia se contraia,
E assim não há mar calmo, nem areias na praia.

Talvez te tenha perdido, porque…
Mas não importam as razões de te perder,
Se a primavera, de que tanto gosto,
Também não sei se a voltarei a ter…

José António de Carvalho, 25-maio-2020
Foto da minha autoria


quinta-feira, 21 de maio de 2020

Poema "O VOO DAS ANDORINHAS"

Participei com este poema no 68º Evento Literário Virtual da LUPA, que decorreu entre 28-junho e 03-julho-2021


O VOO DAS ANDORINHAS

Quedam-se dos voos pelos céus
As andorinhas aventureiras,
Abastadas de instinto de descoberta,
Apaixonadas pelas nuvens
E pelos ventos de cetim,
Voam até ao limite dos céus
Inalando as toxinas fétidas do ar,
Que lhes asfixiam a essência do sorriso.

E caem numa tempestade pérfida.
Perdem o decisivo argumento:
Para quê voar tão alto
Se fazem ninho de lama nos vãos da vida?

Há punhais que dilaceram sonhos.
Palavras que rasgam as entranhas
E atingem o coração já cansado
Pela travessia de muitos mares.

E vão morrendo flores e primaveras.
E as andorinhas perdem a essência delas.

José António de Carvalho, 21-maio-2020






quinta-feira, 14 de maio de 2020

Poema "O MERCADORIAS DA MEIA-NOITE"

Poema lido por Ana Coelho na Rádio Voz de Alenquer, no programa de hoje 29-05-2020, no programa Livro Aberto.


O MERCADORIAS DA MEIA-NOITE

Faltavam cinco pra meia-noite, ainda,
Partia o touro de ferro da Trofa,
Vinha a galope estridente na linha,
E não trazia gente na galhofa.

Num correr metálico e pachorrento,
Ferro a esmagar ferro, ensurdecedor.
Na linha a mulher de pé tanto tempo
Esperava por vagões e trator…

Ilusões levantam-se à passagem.
Assobiava no meio do escuro,
Deixava p’ra trás o Ave, e na outra margem
Pessoas sonhavam melhor futuro.

Falta lucidez, mas lá discerni
Mil sacos amarrados num vagão
Com a esperança que nunca perdi
De ir no comboio pra Famalicão.

Entendimento só do coração,
Realidades que a mente deflagra
Hoje é sol, mas já foi escuridão
“O mercadorias” ao ir p’ra Braga.

As voltas que esta vida sempre dá
E que nos faz relembrar o passado,
Desse tempo de amor que vivi lá,
E do comboio a passar em Lousado.

José António de Carvalho, 14-maio-2020
Foto: Museu Ferroviário de Lousado





segunda-feira, 11 de maio de 2020

Poema "OS MEUS NÃOS"


OS MEUS NÃOS

Há espaços que não preencho
Porque as noites escurecem numa louca ânsia de espera,
E versos que não digo
Porque as melodias são apenas amigas das estrelas.

Há paisagens que não olho
Porque a natureza apenas deslumbra os olhos apaixonados,
E maresia que não sorvo
Porque os mares se fecham para mergulharem nas marés.

Há amigos que não vejo
Porque os meus olhos choram a falta de nitidez,
E sentimentos que não tenho
Porque os rios perdem os seus caudais nas agruras dos estios.

Há caminhos que não faço
Porque a liberdade dorme… e morre-me nos braços cansados,
E flores que não cultivo
Porque elas são apaixonadas pelas brisas ténues e perfumadas.

Há versos que não escrevo
Porque a inspiração dilui-se nas areias finas dos desertos,
E amores que não canto
Porque só canto os amores que criam raízes neste meu canto.

José António de Carvalho, 11-maio-2020
Foto da minha autoria



https://youtu.be/f9J5KicFVxk

domingo, 10 de maio de 2020

Poema "SILÊNCIO DE MAIO"

Este poema foi dito por Manuel Sanches na Rádio Cidade Hoje, no programa "As nossas raízes" do dia 09-05-2020, relativo ao 13 de Maio.


Ouça este poema pela voz da amiga e poetisa Cida Vasconcellos (Brasil), que teve a gentileza de me fazer esta agradabilíssima surpresa.

Clique no link.



SILÊNCIO DE MAIO

Este silêncio vai isolando a vida
E tudo se fecha em escura caixa,
E quanta amargura que ela nos deixa
P’ra outra jornada, também sofrida.
Passou a ser uma vida sem refrão,
E sem refrão nem parece canção.

Mas há forças que vão muito além
Das que o Homem em si consegue gerar,
E são elas que o permitem avançar.
Parecem as forças vindas de alguém,
Que nos puxam pela vida pra frente
E às quais, há quem seja indiferente.

Às vezes, não queremos nem saber,
Porque nos é mais fácil ignorar,
Que a força Divina pode ajudar.
E quando nos chega o entardecer,
Antes que este horror nos leve,
A Fátima pedimos… que nos Salve.

 José António de Carvalho, 08-maio-2020
Foto da minha autoria


Ouça este poema dito pela voz da amiga e poetisa Cida Vasconcellos (Brasil)
Clique no link.





sábado, 9 de maio de 2020

Texto poético "NÚMEROS EM POESIA "

5º Aniversário do Programa Livro Aberto 

NÚMEROS EM POESIA 

Acordei cedo para sonhar.
Na verdade, acordar para sonhar pode não fazer muito sentido.
Mas é a verdade!...
E são verdades contáveis. Tal e qual, números.
Esse número… que envolve centenas de unidades, e dezenas de dezenas.
E puxa-se pelo véu e desfolham-se cinco longas e brilhantes estrelas.

Uma por cada ano. Uma volta ao mundo, passo a passo. 

Neste tempo passado…
Quantos livros foram abertos e retirados ao pó das memórias?
Quantos poemas foram ditos pelas cordas estimuladas à sua dormência?
Quantos poemas escritos foram recuperados dos confins do âmago de cada Ser?
Quantos versos foram rasgados e lançados aos ventos do desânimo?
E outros que foram sonhados e idealizados do casamento perfeito das aves?
Quantas sensações foram geradas em cada vulcão sentimental adormecido?
Quantas emoções foram vertidas em palavras nas águas límpidas duma cascata? 

E mais ainda…
Quantas pessoas cruzaram os seus caminhos em vez de os fazerem sozinhos?
E quantas amizades nasceram e floriram e frutificaram em poesia? 

Também…
Quantas solidões nas noites das sextas-feiras pereceram ao frio?
E os sorrisos que se abriram como flores de primavera?
Quantas esperanças renasceram das cinzas e voaram oceanos?
Quanta liberdade se avolumou em poesia e foi ainda mais poesia? 

Quantas… quantas… 
Quantas vezes vou ter de vos agradecer: Ana Coelho, Livro Aberto, Rádio Voz de Alenquer? 

Uma só vez! 

DUZENTOS E VINTE E QUATRO. OBRIGADO!

José António de Carvalho, 07-maio-2020
Certificado atribuído pela Rádio Voz Alenquer, Programa Livro Aberto, de Ana Coelho



sexta-feira, 8 de maio de 2020

DEZOITO QUADRAS



 DEZOITO QUADRAS


***

Eu vi uma mulher tão triste
Porque não faz o que quer
Pensa que este mundo existe
Para agradar à mulher.

***
Os ventos levam as folhas
Os namorados as filhas,
Já não se fazem escolhas,
Ficam problemas às pilhas.

***
Com a chegada do Outono 
Transbordo em nostalgia, 
O que me enche de sono 
Pra não ver o que me arrelia.

***
Tanta gente anda perdida 
Aí pelo mundo fora, 
À procura de uma vida 
Para quem nele não mora. 

***
Gente de grande sucesso 
Com um grande ego e poder, 
Quantas vezes eu lhes meço 
Como é que pode ser?!... 

***
Não bate a letra e o refrão. 
O refrão, que é a vida.
Querem mais do que lhes dão 
E acham que é merecida. 

***
E quando se lhes pede algo 
Acham que o mundo desaba, 
Dar, não é para fidalgo, 
Se der, o fidalgo acaba. 

***
Por aqui vou-me calando. 
Mudez não é dizer pouco, 
Se é neste mundo que ando, 
Mesmo sendo um mundo louco.

***
Neste pico de calor 
que nos chega no Verão,
convém ter algum rigor, 
algum amor à nação. 

***
Os fogos são mais que infernos 
que por cá temos na Terra, 
vivamos onde vivermos 
vamos declarar-lhes guerra. 

***
Este calor tudo mata 
Ao contrário do do amor, 
Que na temperatura alta 
mais bem nos traz o calor.

***
Se no teu colo adormeço,
Que conforto que ele tem.
Nunca pensei se o mereço,
Mas sei que me sabe bem.

***
Busco o que nunca procuro
Por preguiça e meu cansaço.
Bom futuro não me auguro
E dos sonhos me desfaço.

***
Convém sermos recatados
Se falamos a respeito…
São espinhos espetados
Faltas que trago no peito.

***
São como imagens gravadas
Na tua alma apaixonada
Teu paraíso e teus nadas
De carícias tão ansiadas.

***
Do teu voo irregular,
Tuas asas remendadas
Ainda se podem quebrar
Nas ilusões mascaradas.

***
O que fazem acham lindo,
São crianças a brincar,
Mas a vida vai fugindo
Sem caminho pra voltar.

***
É assim que sempre aprendo
Pouco a pouco, vamos indo,
P'lo caminho vão dizendo...
Só os escuto dormindo.

José António de Carvalho, 08-maio-2020


Quadras de António Aleixo
na Voz do saudoso ator Mário Viegas (Clique no link, vídeo)

https://www.youtube.com/watch?v=ilWmtAUQ_Es


(Estátua do poeta popular em Loulé)

quarta-feira, 6 de maio de 2020

Poema "LÍNGUA-MÃE" (soneto)


LÍNGUA-MÃE
(1º DIA MUNDIAL DA LÍNGUA PORTUGUESA)

Quantas bocas sorriem de alegria,
Quantos sorrisos fazem tua graça,
Tanta beleza nunca se amordaça
Nos milhões que te falam neste dia.

Irmãos que a história, bem longa, ligou,
Voa por todo o mundo, esta ave alada.
Uma comunidade renovada,
Pátria-língua, o maior bem se adotou.

E se nela se faz entendimentos
Ou se lavra a melhor literatura
E puxam p'los melhores argumentos.

O meu linguajar sem a formosura
Dos vultos que lhe dão grandes momentos,
Dádiva graciosa e alma futura.

José António de Carvalho, 05-maio-2020
Foto "Bonecos Urbanos" de Sandra Escudeiro






segunda-feira, 4 de maio de 2020

Pequeno texto "COM DIA MARCADO"


COM DIA MARCADO

Parece que os dias se esgotam por entre os dedos, e os luares não são tão luminosos quanto deveriam ser.

A magia dos dias surge envolta em penumbras e nuvens.

Nada é água pura, nada é nítido, nada é líquido.

Há lutas entre as forças e fraquezas de cada ser, guerras de cortar à faca os cabelos
e de arrancar a pele com as unhas.

Saiba que a partir de amanhã se retomará alguma da normalidade dentro da maior anormalidade que se nos poderá afigurar normal.

José António de Carvalho, 03-maio-2020


sexta-feira, 1 de maio de 2020

Poema "FECHA-SE A PORTA, ABRE-SE A JANELA"



FECHA-SE A PORTA, ABRE-SE A JANELA

Abandonados aos nadas da vida
A cumprir esta dura quarentena,
Dura forma de vida, enegrecida,
Que desfaz todo e qualquer preconceito.
E pensar se assim é que vale a pena
Ou se antes é que era bom, com efeito.

O caminho até aqui bem nos mostra
Que o Homem é como um outro ser qualquer…
E se for para viver como uma ostra
Ou pra andar aqui a dormir como um gato,
Qualquer dia desatino de facto,
Ou ainda terei alguém que mo vai dizer.

Mesmo estando nesta guerra escondidos,
Mas que o inimigo nos vê por inteiro,
Segue os nossos passos desprotegidos…
Oh minh’ alma exausta, exposta ó desgaste,
Nem calculas o susto que pregaste
P’la falta da luz do teu candeeiro.

Ainda assim vejo p'la minha janela
Que o sol, o mar e os campos estão aí,
Que sorriem como outrora. Mas ela,
Confinada, oh... que vida torturada!
Triste como leoa acorrentada,
Numa ténue esperança ainda sorri!

José António de Carvalho, 27-abril-2020
Foto da capa da Antologia



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