quinta-feira, 14 de maio de 2020

Poema "O MERCADORIAS DA MEIA-NOITE"

Poema lido por Ana Coelho na Rádio Voz de Alenquer, no programa de hoje 29-05-2020, no programa Livro Aberto.


O MERCADORIAS DA MEIA-NOITE

Faltavam cinco pra meia-noite, ainda,
Partia o touro de ferro da Trofa,
Vinha a galope estridente na linha,
E não trazia gente na galhofa.

Num correr metálico e pachorrento,
Ferro a esmagar ferro, ensurdecedor.
Na linha a mulher de pé tanto tempo
Esperava por vagões e trator…

Ilusões levantam-se à passagem.
Assobiava no meio do escuro,
Deixava p’ra trás o Ave, e na outra margem
Pessoas sonhavam melhor futuro.

Falta lucidez, mas lá discerni
Mil sacos amarrados num vagão
Com a esperança que nunca perdi
De ir no comboio pra Famalicão.

Entendimento só do coração,
Realidades que a mente deflagra
Hoje é sol, mas já foi escuridão
“O mercadorias” ao ir p’ra Braga.

As voltas que esta vida sempre dá
E que nos faz relembrar o passado,
Desse tempo de amor que vivi lá,
E do comboio a passar em Lousado.

José António de Carvalho, 14-maio-2020
Foto: Museu Ferroviário de Lousado





4 comentários:

  1. A vida é cheia de partidas e de chegadas!Desses momentos ficam memórias, algumas bem saudosas.
    Gostei muito do poema, e do sentimento que ele transmite.Escrito com o coração. PARABÉNS José António.

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  2. Magnifico Poema que nos transporta nessa viagem de outrora. Bem haja.

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