quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Poema "FRIO DE VERÃO"

Poema agraciado com Diploma de Participação na - ACCADEMIA POETICA MONDIALE "ERATO" PORTOGALLO - Representada pela amiga das letras Rosa Céu.


FRIO DE VERÃO


Há um frio velado em cada canto da casa,
nos olhos nublados pelo tempo e pela glória.

Um frio cortante nas gavetas da memória,
vencedor traiçoeiro no mais duro golpe de asa.

Um frio dilacerante nas águas do rio,
alojado no coração num caudal disforme.

Um frio nos olhos que tudo gasta e consome,
planícies, montes... e a magia da sua história.

Um frio que se apossa do corpo e que o extravasa,
matando o sentido da vida segura em fio.

Um fio de voz no frio da tarde sem brio
e nos tropeções das palavras mudas da casa.

José António de Carvalho, 27-agosto-2020
Quadro de Maria Brito





segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Poema "JARDIM DE ROSAS "

Este poema foi lido, no dia 29-agosto-2020 (sábado), no programa "As Nossas Raízes", da Cidade Hoje Rádio, da autoria de Manuel Sanches e Suzy Mónica.


 JARDIM DE ROSAS

Tinha um jardim cheio de rosas.
Tantas rosas de várias cores,
também vermelhas, tão sedosas...
Mas que doce mel, essas flores.

As pétalas eram veludo,
suaves ós dedos, a tudo…

Mas deixaste de assim as veres,
o encanto das mil e uma cores,
não só dessas da cor do amor,
mas também de outra qualquer flor
que lá se tivesse criado.

Que solo desafortunado!...

Olhas-lhe no tronco e não a flor, 
tão pouco queres ver a cor.
Só pedúnculos espetados
num chão que te parece morto.

Só hastes e tantos espinhos
Em troncos tristes… e sozinhos.

José António de Carvalho, 24-agosto-2020
Foto da internet


domingo, 23 de agosto de 2020

Poema "SE NADA RESTA"


SE NADA RESTA 


“Cai o Carmo e a Trindade…”

Estando nós no meio dela,
duma manhosa tempestade,
asfixiando-se os soluços
pela sangria dos recursos
no parapeito da janela.

Como sempre gosto de vê-la
com seus ares de Cinderela.
Mas cortou a corda ó Romeu,
que caiu como ovo no chão,
e num surdo suspiro em vão
lá fechou os olhos e morreu.

“Cai o Carmo e a Trindade”,
e tudo o resto é saudade…

José António de Carvalho, 23-agosto-2020
Quadro do Museu Arqueológico de Lisboa


quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Poema "NUMA MARQUESA"

Poema de participação no programa "Livro Aberto" da Rádio Voz de Alenquer, emissão de sexta-feira, 21-agosto-2020, da autoria da amiga Ana Coelho, rubrica "Criatividade Sem Limites", e com dez palavras retiradas de um poema da Marquesa de Alorna (amor, crime, atração, pecado, agitado, unem, afinidade, converter, razão, defender).

Também foi lido, no dia 29-agosto-2020 (sábado), no programa "As Nossas Raízes", da Cidade Hoje Rádio, da autoria de Manuel Sanches e Suzy Mónica. 


NUMA MARQUESA


Soubesse eu defini-lo em branca cor…
Amor - Gerado na raiz da paixão,
Crescido como pecado em calor
De lava incandescente de vulcão.

É crime senti-lo brotar do peito?
Se a atração é mais forte que a da Terra,
Em polos harmonizados num leito
Agitado como as armas na guerra.

Defender a linha do sentimento,
Dar razão à ordem do coração,
É converter em sorriso o lamento,
Que unem os seres em pura dação.

E quando perco esse rasto do raio,
A afinidade do céu com o sol,
Dispo-me de mim, e nunca mais saio,
E tranco as portas como um caracol.

José António de Carvalho, 19-agosto-2020
Foto de Conceição Silva




domingo, 16 de agosto de 2020

Poema "HÁ DIAS PRA SEMPRE"

Poema lido, no dia 22-agosto-2020 (sábado), no programa "As Nossas Raízes", da Cidade Hoje Rádio, da autoria de Manuel Sanches e Suzy Mónica. 

HÁ DIAS PRA SEMPRE

Há dias em que tudo chove
Tal é a tristeza que sinto,
Em que a esperança que me move
Perde-se nesse labirinto.

Outros dias há, cai um orvalho
Que é leve como o algodão,
Penso-te a ires para o trabalho
E só vais no meu coração.

Uma partida que, sei lá,
Por muito que me perguntem,
Digo-lhes que razões não as há,
Se só há razões que nos juntem.

José António de Carvalho, 16-agosto-2020
Pintura de Belmiro Mendes da Costa



sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Poema "HINO DO POVO"

Poema de participação no programa "Livro Aberto" da Rádio Voz de Alenquer, emissão de sexta-feira, 14-agosto-2020, da autoria da amiga Ana Coelho, rubrica "Criatividade Sem Limites"


HINO DO POVO

Canta, canta porque é novo
Este cantar verde e florido,
Porque é hino deste povo
Cuja esp’rança tem esquecido.

Cantar a esperança florida
Na força de tanto trabalho
É andar com a pátria erguida
Tão alto como se eleva o malho.

Bem do alto todos nos malham
Os "barrigudos" do país,
E o suor dos que trabalham
É um jato de chafariz.

Mas quem canta seu mal espanta,
Dores frias que na vida sente,
Esses nós cegos na garganta
São voz muda de tanta gente.

José António de Carvalho, 14-agosto-2020
Quadro de Monteiro da Silva




quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Poema "VERSOS MAL COSTURADOS" (Horizontes da Poesia - Desafio nº 85 - 2020)


VERSOS MAL COSTURADOS



Não tenho palavras, tão pouco imagens,
apenas as tuas mãos e os teus dedos,
que nas costuras são apenas passagens, 
onde rendo e me rendo nos meus medos.

E coses os meus versos no viés
por baixo da fina bainha da blusa.
E os sonhos da revolta das marés
beijam, agridem e matam, quem a usa.

Não tenho como medir as palavras,
se o sentimento é ainda mais branco,
as sílabas mal contadas são escravas
às mãos dum cobarde fecho no flanco.

Se estes versos morrerem na costura
por terem sido mal alinhavados,
são versos hirtos e com armadura
em outros mares jamais navegados.


José António de Carvalho, 06-agosto-2020
Imagem – Horizontes da Poesia - nº 85, Desafio de 2 a 8-08-2020






quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Poema "É TÃO POUCO"


É TÃO POUCO



Deixa-me estar assim deitado
neste sono meio cansado,
com o meu pensamento estreito
pela dor que trago no peito.

Deixa-me olhar para as gaivotas,
parecem perdidas nas rotas,
e no seu voar tão pausado
mostram-nos um mundo cansado.

Deixa ver as ondas do mar,
onde sempre me perco a olhar,
e no meu mundo pequenino
baloiçam crenças de menino.

Deixa-me ver o que não vi,
se algo no mundo ainda sorri.
Da minha pequena janela,
ainda se espreita vida bela.


José António de Carvalho, 05-agosto-2020
Foto da minha autoria



terça-feira, 4 de agosto de 2020

Divagação "DESABAFO EM LETRA GRANDE"


DESABAFO EM LETRA GRANDE


Já houve quem duvidasse

Da minha saúde mental,

Mas é o que penso: – Foda-se,

Pra quem manda em Portugal!


José António de Carvalho, 03-agosto-2020
Foto da Wikipedia (Palácio de S. Bento) e Mapa Escolar da Fnac