quinta-feira, 15 de setembro de 2022

Poema "EMPRESTA-ME A TUA LÁGRIMA"


EMPRESTA-ME A TUA LÁGRIMA

A desventura que trago em mim
É cinza escura, e quase negra.
Não é começo, meio ou fim;
Mas uma linha reta, uma regra,
Que jamais se apagará da vida,
Tão mais sofrida do que vivida,
Talvez além do que a vista enxerga.

Por isso sou sisudo, cinzento e triste,
E se “tristezas não pagam dívidas”,
Nem as alegrias me dão o preciso
Para manter permanente sorriso
Que mal se esboça logo desiste
Porque a vida é andar na lâmina.

Chorar também não choro, já secaram,
E todas fariam um rio se se juntassem,
Daí que te peça uma simples lágrima,
E, talvez com ela, as minhas voltassem.

José António de Carvalho, 15-setembro-2022
Pintura de Monteiro da Silva; "A espera"




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