Poema a Santo António - Lido hoje no programa "As Nossas Raízes", da Cidade Hoje Rádio, da autoria de Manuel Sanches e Suzy Mónica.
Pensava o povo contente
Que a vida era sempre a andar,
Sem curvas, seguir em frente,
Sem para trás ter de olhar.
Mas o vírus lá mostrou
Que o pequeno se faz grande,
Que a humanidade abanou
Tanto o medo que ele expande.
Que tristeza, se não há festas
Nem romarias de gente,
Vê-se a vida pelas frestas
De uma forma consciente.
Sem os balões a subir
Sem fogueiras pra saltar,
Nem garrafas para abrir,
Sem sardinhas a pingar,
Nem noitadas, nem abraços,
Nem foguetes a estalar,
Sem gente com seus cansaços
De nas marchas dançar,
Nem ricos vestidos brancos,
Nem véus aos sete ventos,
Mas há choro pelos cantos
No ruir dos casamentos.
É tão caro o manjerico
Que o alho nem o pode ver,
Ó santinho tu és rico
Toda a gente te quer ter.
A primavera lá vai
Pra ficarmos no verão,
De casa a gente não sai
Pra comer sardinha e pão.
Estas verdades tão cruas,
O queixume, a solidão,
A esperança de ir prás ruas
Pró ano em Famalicão.
José António de Carvalho, 12-junho-2020
Foto do anúncio do Programa "As Nossas Raízes" da Cidade Hoje, Rádio
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