NÃO SE MATE A SAUDADE
Muita gente fica feliz e diz que matou as saudades… Saudades de um amor, de um pai, de um filho, de um momento, acontecimento ou lugar, de um animal, ou de uma árvore.
Não digo isso. Eu quero que as saudades sejam vivas. E que vivam aqui, mesmo ao meu lado, e me vejam triste ou feliz, ou assim-assim.
As saudades ficam felizes se estivermos felizes, e dançam connosco cada momento da vida, ou choram connosco a dor que deixámos ou a que carregamos ainda. A saudade é uma penumbra emocional, vive e sente exatamente como nós.
Apenas temos entre nós e a saudade o intrometido tempo. Tido como: o inexorável e o implacável. O tempo sem rosto, o do princípio e do fim. O tempo do durante não se mede. Esse é fugaz, é o ápice. Está para ser e já foi.
O tempo é a distância sem medida que nos impomos agarrados às memórias. E nós vamos-lhe dando a natureza, a qualidade, e a intensidade do sentimento em cada momento.
Por tudo isto, nunca deixemos que se mate a saudade.
José António de Carvalho, 19-fevereiro-2025
Foto "Pinterest"