TRECHOS DE UM DIÁRIO
Carrego dias longos
e árvores cansadas,
campos dourados
que ainda sonham junho,
começos e finais de dias
de brisas mansas,
meses, anos e vidas
suspensos em fios por dentro.
Ainda me movem
as ilusões que vejo
de olhos fechados,
e a tua silhueta
a fugir na pele das águas paradas
de longínquos mares secretos.
A liberdade,
só em sonho
a ela temos direito,
ou nos versos livres,
desamarrados de dogmas e costumes,
curados da mentira epidémica.
Já não sei se o que sinto
é água ou dor,
ou o alvoroço
do desmaio das flores
que vão murchando no tempo.
Mas sei que os cravos
são almas livres,
e que as rosas
são brisas de perfume inebriante.
Sei que o respeito e o sorriso,
o olhar e o silêncio,
a mão e o seu calor,
também são mensagens de amor.
José António de Carvalho, 11-outubro-2025