segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Poema "RUMORES DA POESIA"


RUMORES DA POESIA

Onde guardas a palavra que me disseste, e que me fez descobrir a doçura de fruta que as palavras podem ter?

Que silêncio secreto é este, que se abafa nas folhas de um livro guardado que nos faz voar quando o abrimos?

Diz-me com que jeito te pegue nas mãos, para procurar as palavras que bailam na tona das águas calmas do mar?

E quando alcanço o pensamento das árvores em rumor deste íngreme monte, onde é que repousas os silêncios dos versos dos teus poemas?

Oh… deixa-me ficar a contemplar o sol através da folhagem do pensamento, saciando-me a beber todas as gotas de poesia que vão caindo.

Deixa-me ficar assim… Tão perto do que é distante.

José António de Carvalho, 25-novembro-2024
Foto Pinterest (arte surrealista)








domingo, 24 de novembro de 2024

Texto "NATAL NO RIO" - Antologia de Natal da Chiado Editora

Texto que integra a Antologia de Natal - 2024, Chiado Editora.


NATAL NO RIO

Corre no rio da vida um mar de histórias reais verdadeiramente surreais, mais surreais do que a própria real racionalidade suporia, parecendo a mais pura ficção aquecida, horrivelmente testada e subtilmente não explicada.

Ora, a ficção da realidade é um útil opiáceo para o Homem, fazendo-o acreditar, andar, transformar-se, crescer e reproduzir-se. Crescer como um rio, que surge das singelas gotas de água lacrimejadas pelo ventre da terra e que se vão juntando até formarem um fino fio de água, dando as mãos a outras tantas gotinhas, e outras, e outros tantos mais fios de água, até formarem um caudal generoso designado por rio. Malogradas, muitas delas não sabem porque estendem a mão ou porque dão a mão. Apenas o fazem porque as outras também o fazem.

Como se sabe, o rio corre sempre aumentando o seu caudal através das afluências que chama a si, e por si vai deslizando de forma incorrigível até outro rio ou até ao mar. E no mar, tudo o que é lançado dilui-se na sua grandiosidade e perigosidade.

Nós, neste mar turbulento e turvo de ódio, ganância e guerra, não podemos nunca perder de vista o horizonte da nascente do rio, a nascente da água pura da vida inocente e frágil, da vista imaculada e sonhadora do menino que olha com angústia e tristeza para este rio, que no seu curso vai perdendo pureza e vai-se transformando numa mixórdia de águas impróprias.

Somos águas em movimento de um rio tendencialmente em degeneração de virtudes. Não deixemos morrer a criança que ainda pode viver em nós. Alimentemo-la todos os dias.

Olhando para a corrente do rio que somos, que aprendamos a conviver melhor com as nossas próprias margens e limites, com os nossos peixes, com as nossas plantas, com a biodiversidade que nos circunda, e com a nossa própria essência. Só assim o menino terá um brilhozinho de esperança nos seus olhitos.

Feliz Natal todos os dias!

José António de Carvalho
Vermoim, Vila Nova de Famalicão






terça-feira, 19 de novembro de 2024

Poema "CARTA AOS AMIGOS"


CARTA AOS AMIGOS

Amigos,
Sei que aos vossos olhos
posso parecer um pouco louco.
Sim. Apenas um pouco, 
daquilo que é a loucura total
do mundo em que vivemos.
Uma normal loucura mundial.

Razões para dizer isto
todos temos, todos têm.
No entanto,
são sinais que vão e vêm
por esse mundo infernal fora,
que perde o futuro no agora.

O pior disso tudo
é que não consigo ficar mudo…

E se isto pode parecer pranto,
sabendo que não sou santo,
peço-vos com a maior mesura
que, antes de selarem a minha,
saibam o que é a verdadeira loucura.

José António de Carvalho, 19-novembro-2024
Foto Pinterest



sábado, 9 de novembro de 2024

Poema "SEGURO PELO POEMA" - Inspirado no Poema de Joaquim Pessoa

Este poema foi inspirado em Joaquim Pessoa, e em jeito de resposta ao seu poema "AGARRA-TE AO POEMA", que vi e ouvi declamado pelo amigo e poeta António Soares Ferreira.

SEGURO PELO POEMA


Quando abro os olhos no meio da escuridão, eu vejo luz no poema.
Quando a solidão me lança no chão, levanto-me na força do poema.
Quando a mentira me mergulha no pântano, emerjo na limpidez do poema.
Quando a dureza da realidade me sufoca, eu grito pela boca do poema.
Quando o medo me impede de avançar, eu sinto a mão do poema.
Quando luto com a minha insegurança, sigo no leito do poema.
Quando a tristeza é tão forte como eu, deixo-me voar no sonho do poema.
Quando a dor me faz cambalear, eu bebo a cura no poema.
Quando não tenho o amor, eu abraço e beijo o poema.
Porque cada poema escrito é um caminho de luz para a vida.

José António de Carvalho, 09-novembro-2024
Foto "Pinterest"




quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Poema "HERÓIS DESPIDOS"


HERÓIS DESPIDOS


Na corda secava a roupa
Desse tempo de memórias
Que o forte sol aqueceu.
Eram divinas histórias
Que o mesmo enfraqueceu.

Triunfos inesperados
Desses heróis consagrados
Repletos de admiração
Que hoje já não são lembrados;
São heróis só de coração.

Agora, apenas os vãos
Dessa corda já despida.
E se a memória é pouca,
Esquecida está a roupa,
Remendada está a vida.

José António de Carvalho, 31-outubro-2024
Foto do Site "Duas Linhas - Povo que lavas no rio"





segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Poema "AINDA…"


AINDA…


Me lembro dos tempos agudos,
dos ventos agrestes, sisudos,
nos ombros dos homens cansados.

Também dos tempos de quimeras,
sons de flautas e violinos
vibrantes de sonhos sonhados.

Dos tempos de aventura e mel,
do lume e força da palavra
gravada em ouro com cinzel.

Recordo do que ainda me lembro,
tudo o resto de pouco importa,
se o tempo anda e com ele aprendo:

que a vida é só um setembro
com frio rosto de janeiro
cansado, a bater-me à porta.

José António de Carvalho, 28-outubro-2024
Quadro de António Miranda



sábado, 12 de outubro de 2024

Poema "TALVEZ POSSAS POR AMOR…"


TALVEZ POSSAS POR AMOR…

Talvez possas por amor…
Pegar na caneta
e fazer dela a eleita.

Fazer baixar armas
entre mares e desertos,
montanhas e savanas,
nos lugares mais discretos.

Terás que fazer viva paz
na vida que levas.
Viver na tranquilidade
afugentando as trevas.

As trevas da vida
são o cadafalso maior,

E a maior causa de morte
é a falta de amor.

José António de Carvalho, 12-outubro-2024
Foto "Pinterest"





segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Poema "MORTE"


MORTE


Sinto o tempo a bater perto.
O Inverno chegará num pestanejar.

É grave, a vida despida.
Gravíssimo, a vida faminta.
Arrepiante, a vida em fuga.
Degradante, a vida doente.
Nefasta, a vida sem sorte.
É crime, a vida sem vida.

E quem assim se sustenta,
Fecha os olhos e consente, 
Ou se dela se alimenta:

É um semeador da morte.

José António de Carvalho, 07-outubro-2024
Foto "Pinterest"



terça-feira, 24 de setembro de 2024

Poema "CAIS DO SILÊNCIO"


CAIS DO SILÊNCIO

Fico a chorar o verão
Que foi pelo labirinto
Sem saber a direção
Que tomar. Mas eu pressinto
Que ele vá na que prevejo:
Essa que chama o desejo.

Do verão fica a saudade
Que mais parece ilusão,
E do corpo frio que arde
Só se salva o coração,
P’la artéria que o alimenta
E que a esperança sustenta.

Mas o dia foge cedo
P’ra descer a noite fria,
Cais de silêncio do medo
Duma memória vazia.
E para o vazio encher
Novo dia há de nascer.

José António de Carvalho, 23-setembro-2024
Foto "Pinterest"




terça-feira, 3 de setembro de 2024

Poema - SETEMBRO


SETEMBRO


É mais um setembro calmo.
Sempre setembro maduro.
Que no ano é nono palmo,
A três palmos de um futuro.

Quem assim o tempo mede,
Mede-o pondo-lhe a mão
Movendo-o em toque leve,
E as folhas caem no chão.

É setembro, sopra a brisa
Que desprende o pensamento
Enquanto a alma se ameniza
Da angústia que vem no vento.

É setembro, tudo dito;
Vem com ele a nostalgia
A desdobrar o conflito
Entre mim e a noite fria.

José António de Carvalho, 02-setembro-2024
Quadro de António Miranda




quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Poema "O MENINO"

Este poema irá integrar a Antologia da Chiado Editora "ENTRE O SONO E O SONHO XVI"


O MENINO

Um menino pequenino
nos seus olhos de criança,
sonhava para o caminho
longas retas de esperança.

Olhava pelo postigo
Para ver a luz do dia,
Sempre fechado no abrigo
À medida que crescia.

O tempo lá foi passando,
O menino foi crescendo,
Nem podia acreditar
Nesse mundo que ia vendo.

Eram cidades inteiras
Em ruínas e desertas,
Alguns trapos de bandeiras.
Um horror de descobertas...

Fumos negros e os odores
A sangue já ressequido,
São agora mais duas cores
Que passam a andar consigo.

E perguntou para si:

Como seria aquele Homem
Que tudo aquilo fazia,
Poderia ser igual
Ao homem que em si crescia?...

José António de Carvalho, 28-agosto-2024
Vermoim, Vila Nova de Famalicão

Foto "Pinterest"






quarta-feira, 7 de agosto de 2024

TEXTO "FÉRIAS DE SONHO OU DOS SONHOS?"


FÉRIAS DE SONHO OU DOS SONHOS?

Com as férias quase a terminarem, são sempre poucos dias e pouco de quase tudo. Quase sem sair fisicamente de casa, apenas foram férias da rotina da hora de levantar e deitar. Coisas que, mesmo assim, não alterei muito. Grande parte do dia passo-o no meu silêncio quase ensurdecedor. Espero que os vizinhos não se aborreçam pela poluição sonora que lhes causo.

O dinheiro para as férias, por algumas vicissitudes muito frequentes na vida das pessoas, deu lugar a outras prioridades, até a outras oportunidades. Não me posso queixar à luz do que sou.

O dinheiro acaba por assumir-se como o centro de tudo: "A razão das razões". O que me parece altamente negativo para a vida e para a humanidade. Sim, a humanidade no seu todo. Porque todos sofrem com a lei desta visão, que é venerada e idolatrada para muito benefício de apenas alguns, mas que, depois, se estende numa longa rampa a descer até àquele que se encontra quase na base. Porém, mesmo assim, este acha-se inatingível, inalcançável, pelo que se encontra na base, e pisa-lhe na cabeça, esquecendo que tem tantos e tantos a pisarem a sua própria cabeça. Que dores de cabeça...    

As férias já são muito boas se tivermos leveza no pensamento, alegria no coração e o brilho na menina dos olhos pelo movimento do pequeno comboio dos sonhos, que devagarinho lá segue e avança, voando e navegando livremente de paraíso em paraíso, mergulhando-nos em bem-estar e satisfação.

Boas férias! E… sobretudo, Sonhe!!! Sonhe por si e por aquele que não sabe, não pode ou não o deixam sonhar. 

José António de Carvalho, 07-agosto-2024
Praia do Alemão - Portimão (Site: Viagens / Sapo)





terça-feira, 6 de agosto de 2024

Poema "FLORES DA VIDA"


FLORES DA VIDA

Minhas ideias imprecisas
Vindas no vento do além
Galgaram altas barreiras
E transformaram desertos
Em imagens verdadeiras.

Não. Nada digo a ninguém…
Que havia umas feiticeiras
Que saíam dos coretos
Para matarem os sonhos
A quem passasse por perto.

Só nas horas derradeiras
Hei de falar-vos, por certo,
Do sonho que uma vez tive
E que em mim resiste e vive,
De ver flores no deserto.

José António de Carvalho, 06-agosto-2024
Foto do quadro de António Miranda (Papoilas), em Exposição no "ESPAÇO CULTURA", Galeria de Exposições Temporárias, Barcelos. 

quinta-feira, 25 de julho de 2024

Poema "ILUSÕES DE VERÃO"


ILUSÕES DE VERÃO

Colo o pensamento no oceano
para serenar o espírito que ferve
pela vaga de lume que sai do sol,
e lançada sobre a terra
tudo arde.

Oh, misterioso e longínquo mar,
que assim te vejo intermitente:
tão perto de mim, tão longe,
tão dentro, e tão ausente…

Trago-te selvagem, ó desordeiro,
dentro da vida agreste, e avanças
com a espuma amarela do sal
a queimar o brilho dos olhos
das crianças.

Mais fresca é a brisa dos versos
que paira no ar presa ao dilema.
Assim breve, e verdadeiramente
minúscula é a esperança
que se respira no fim do poema.

Veloz e silencioso cavalo alado
que empurra a vida, que a enferma,
deixando para trás laivos de glória
evaporados na ilusão de falsa vitória.

José António de Carvalho, 25-julho-2024´
Pintura a óleo de Mariana Homem de Mello




domingo, 7 de julho de 2024

Poema "MAR DA VIDA"


MAR DA VIDA


Neste dourado do dia
onde a alma lá se aconchega
a esta paisagem sombria
noutro dia que ao fim chega.

O sol morno só aquece
onde o calor ainda existe,
se o não tem mais arrefece
nem com ajuda resiste.

Ah, que se sente a frescura
do nosso tempo a passar
na água, e nele a brancura
da espuma que veste o mar.

José António de Carvalho, 07-julho-2024
Foto "Pinterest"



domingo, 30 de junho de 2024

75.000 Visualizações - Sorteio do livro "SENTE, LOGO VIVES E SONHAS" - O premiado foi: ...



75.000 Visualizações - Sorteio do livro "SENTE, LOGO VIVES E SONHAS" 

A sorte, por aproximação nas dezenas, foi para Mauro Hilário.
Muitos Parabéns!

Agradeço que me forneça o endereço por msg privada para envio do livro.
Muito obrigado!
Um grande abraço a todos.



quinta-feira, 6 de junho de 2024

Poema "VIVER AGORA"


VIVER AGORA

Olhar à volta, ver o mundo
e não ver nada é a mesma coisa.

Tudo corre, tudo passa
sem nos ver e sem ser visto.

E o que se vê é algo já visto
há muito tempo, que agora é cisco.

Vem a curva trair a visão
e a visão turva é outra traição.

Natureza singela diz-nos o caminho
p’ra vida ser bela, mesmo que pouquinho.

Teça-se neste dia, a cada momento,
um nico de fantasia e gotinhas de alento.

José António de Carvalho, 06-junho-2024
Foto do relógio de sol - Quinta da Presa, Turismo Rural







quinta-feira, 23 de maio de 2024

Poema "FOGO"


FOGO

Olho os teus olhos
toco-lhes o brilho
e roubo-lhes o mel

E o sol dança
e aquece a lança
que espera Deidade

Pelos dedos semeia
o fogo nas veias
na busca da eternidade

num grito que se solta
do corpo incendiado
enquanto tudo morre à volta

José António de Carvalho, 23-maio-2024
Quadro de Ana Maria Fernandes







sábado, 11 de maio de 2024

Poema "ASAS REAIS"


ASAS REAIS

Asas lindas do pensamento
que andais agora tão cansadas…
nem sei qual a real razão
que as obriga a um voo tão lento.
Certo é que não é do vento
e nem das marés apressadas.

Agora já não travo lutas
que afundem o meu coração
nessa nebulosa do abismo.
E voar será sempre mais
um momento de elevação,
faúlha de tímido sonho
entre sopros de realismo.

José António de Carvalho, 11-maio-2024
Foto "Pinterest"






sábado, 4 de maio de 2024

Poema "DIGO-TE…"

Poema dedicado à minha mãe, feito para a Antologia "Minha Mãe" da Chiado Editora, invocando as Mães pelo seu dia. (08 de Maio)


DIGO-TE…

Encheste o cálice da vida
e eu nasci dentro do tempo,
lançado à ira de um frio janeiro.

Deste-me a mão e eu andei,
e até aprendi a fugir de ti.
Mas… logo, logo, regressava.

Colavas-me os teus olhos,
e sob o teu olhar eu crescia
sem que tu o percebesses.

Revoltava-me comigo e ia,
pensando que tinha crescido
em tudo, e também contigo.

Mas as raízes eram fortes,
agarradas à terra e às tuas mãos
que me continuaram a alimentar.

Por isso, ontem como hoje,
vendo que a vida nos foge,
és tão importante para mim.

Não para me amparares
ou orientares no caminho,
mas para sentir que estás comigo.

Quero que me envolvas no teu olhar
e nunca me sentirei sozinho.
É só assim que há primaveras
e o teu Dia, Mãe…

José António de Carvalho, 18-março-2024
Foto com a minha mãe no meu aniversário durante o jantar - Restaurante D. Henrique (Joane)