terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Poema "FLORES DO PENSAMENTO"


FLORES DO PENSAMENTO


As lindas flores que trazes no olhar
Neste tímido final de janeiro
São fruta madura desse pomar,

Que amadureceu ainda antes de florir
Como os cravos livres que hão de abrir
Em abril, e perfumar o ano inteiro.

E não sabemos cantar a outra flor
Que não seja a liberdade e o amor.

José António de Carvalho, 27-janeiro-2025



sábado, 25 de janeiro de 2025

Poema "LUZ TRÉMULA"


LUZ TRÉMULA

Ao som das trombetas
E no meio dos silêncios
Vivo num mundo vasto,
Repleto de gente
A avançar para além.

Promessas de horizonte
Na auréola da retina.
E sempre a luz trémula
Presa ao pavio
A queimar os pés no fio.

Fica o ruído da porta
Que quase se fecha
E uma pequena fresta
Por onde o ar entra.

É essa pequena brecha
Que ainda permite ver
O tremeluzir da chama
Que teima em alumiar
O caminho a fazer.

José António de Carvalho, 26-janeiro-2025








quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

Poema "PRIMEIRA E ÚNICA VEZ"


PRIMEIRA E ÚNICA VEZ


Foram mais doze lançados ó tempo,
E vergados nesse ondular do vento
Que andaram juntando a perder de si.

Mas estes doze que agora queremos
Sejam luz no desenrolar da roca,
Da falsa roca que na vida temos.

E se a uns pode levar, nos deixe aqui,
Sem lugar a enganos ou qualquer troca
E não choremos pelo andar da roca.

Porque, se só vivemos uma vez,
Se ela sempre desfaz tudo o que fez…
Viver: Aqui e Agora; seja pra sempre

A nossa primeira e a única vez.

José António de Carvalho, 02-janeiro-2025
Foto "Pinterest"





sábado, 28 de dezembro de 2024

Poema "PROCURA"


PROCURA

Procuro-te nos barcos
De velas içadas ao vento,
Nas proas levantadas
A rasgarem mares
De dores e desalento.

Nos travos de alegria
Bebidos dum sonho
Pintados a branco.
Mas depois aponho
Que são apenas fantasia.

Procuro-te assim
Sem rumo, sem norte,
A poucas páginas do fim…
Páginas gastas, amareladas,
Que dizem tudo de mim
E também da minha sorte.

José António de Carvalho, 28-dezembro-2024
Pintura de António Miranda






sábado, 21 de dezembro de 2024

Poema "SOL DE NATAL"


Em 2024, o solstício de inverno ocorre este sábado, às 9h21 (horário de Lisboa), no Hemisfério Norte – este momento é mais do que apenas um evento astronómico: é o ponto de viragem da nossa viagem anual em torno do sol.


SOL DE NATAL

Vem Sol, Nasce!
Nasce Luz   Natural!

Fio     de seda,
Branda,   branca,
Alva,   de alvura
Transcendental.

Vem   e desce-nos
Primeiro;
Ensina-nos,
Preenche-nos
E     eleva-nos,
O ano inteiro,
Na Tua Luz Natural
       De Amor
       De Natal!

Feliz Natal a Todos!

José António de Carvalho, 21-dezembro-2024
Foto "Pinterest"



segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Poema "RUMORES DA POESIA"


RUMORES DA POESIA

Onde guardas a palavra que me disseste, e que me fez descobrir a doçura de fruta que as palavras podem ter?

Que silêncio secreto é este, que se abafa nas folhas de um livro guardado que nos faz voar quando o abrimos?

Diz-me com que jeito te pegue nas mãos, para procurar as palavras que bailam na tona das águas calmas do mar?

E quando alcanço o pensamento das árvores em rumor deste íngreme monte, onde é que repousas os silêncios dos versos dos teus poemas?

Oh… deixa-me ficar a contemplar o sol através da folhagem do pensamento, saciando-me a beber todas as gotas de poesia que vão caindo.

Deixa-me ficar assim… Tão perto do que é distante.

José António de Carvalho, 25-novembro-2024
Foto Pinterest (arte surrealista)








domingo, 24 de novembro de 2024

Texto "NATAL NO RIO" - Antologia de Natal da Chiado Editora

Texto que integra a Antologia de Natal - 2024, Chiado Editora.


NATAL NO RIO

Corre no rio da vida um mar de histórias reais verdadeiramente surreais, mais surreais do que a própria real racionalidade suporia, parecendo a mais pura ficção aquecida, horrivelmente testada e subtilmente não explicada.

Ora, a ficção da realidade é um útil opiáceo para o Homem, fazendo-o acreditar, andar, transformar-se, crescer e reproduzir-se. Crescer como um rio, que surge das singelas gotas de água lacrimejadas pelo ventre da terra e que se vão juntando até formarem um fino fio de água, dando as mãos a outras tantas gotinhas, e outras, e outros tantos mais fios de água, até formarem um caudal generoso designado por rio. Malogradas, muitas delas não sabem porque estendem a mão ou porque dão a mão. Apenas o fazem porque as outras também o fazem.

Como se sabe, o rio corre sempre aumentando o seu caudal através das afluências que chama a si, e por si vai deslizando de forma incorrigível até outro rio ou até ao mar. E no mar, tudo o que é lançado dilui-se na sua grandiosidade e perigosidade.

Nós, neste mar turbulento e turvo de ódio, ganância e guerra, não podemos nunca perder de vista o horizonte da nascente do rio, a nascente da água pura da vida inocente e frágil, da vista imaculada e sonhadora do menino que olha com angústia e tristeza para este rio, que no seu curso vai perdendo pureza e vai-se transformando numa mixórdia de águas impróprias.

Somos águas em movimento de um rio tendencialmente em degeneração de virtudes. Não deixemos morrer a criança que ainda pode viver em nós. Alimentemo-la todos os dias.

Olhando para a corrente do rio que somos, que aprendamos a conviver melhor com as nossas próprias margens e limites, com os nossos peixes, com as nossas plantas, com a biodiversidade que nos circunda, e com a nossa própria essência. Só assim o menino terá um brilhozinho de esperança nos seus olhitos.

Feliz Natal todos os dias!

José António de Carvalho
Vermoim, Vila Nova de Famalicão






terça-feira, 19 de novembro de 2024

Poema "CARTA AOS AMIGOS"


CARTA AOS AMIGOS

Amigos,
Sei que aos vossos olhos
posso parecer um pouco louco.
Sim. Apenas um pouco, 
daquilo que é a loucura total
do mundo em que vivemos.
Uma normal loucura mundial.

Razões para dizer isto
todos temos, todos têm.
No entanto,
são sinais que vão e vêm
por esse mundo infernal fora,
que perde o futuro no agora.

O pior disso tudo
é que não consigo ficar mudo…

E se isto pode parecer pranto,
sabendo que não sou santo,
peço-vos com a maior mesura
que, antes de selarem a minha,
saibam o que é a verdadeira loucura.

José António de Carvalho, 19-novembro-2024
Foto Pinterest



sábado, 9 de novembro de 2024

Poema "SEGURO PELO POEMA" - Inspirado no Poema de Joaquim Pessoa

Este poema foi inspirado em Joaquim Pessoa, e em jeito de resposta ao seu poema "AGARRA-TE AO POEMA", que vi e ouvi declamado pelo amigo e poeta António Soares Ferreira.

SEGURO PELO POEMA


Quando abro os olhos no meio da escuridão, eu vejo luz no poema.
Quando a solidão me lança no chão, levanto-me na força do poema.
Quando a mentira me mergulha no pântano, emerjo na limpidez do poema.
Quando a dureza da realidade me sufoca, eu grito pela boca do poema.
Quando o medo me impede de avançar, eu sinto a mão do poema.
Quando luto com a minha insegurança, sigo no leito do poema.
Quando a tristeza é tão forte como eu, deixo-me voar no sonho do poema.
Quando a dor me faz cambalear, eu bebo a cura no poema.
Quando não tenho o amor, eu abraço e beijo o poema.
Porque cada poema escrito é um caminho de luz para a vida.

José António de Carvalho, 09-novembro-2024
Foto "Pinterest"




quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Poema "HERÓIS DESPIDOS"


HERÓIS DESPIDOS


Na corda secava a roupa
Desse tempo de memórias
Que o forte sol aqueceu.
Eram divinas histórias
Que o mesmo enfraqueceu.

Triunfos inesperados
Desses heróis consagrados
Repletos de admiração
Que hoje já não são lembrados;
São heróis só de coração.

Agora, apenas os vãos
Dessa corda já despida.
E se a memória é pouca,
Esquecida está a roupa,
Remendada está a vida.

José António de Carvalho, 31-outubro-2024
Foto do Site "Duas Linhas - Povo que lavas no rio"





segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Poema "AINDA…"


AINDA…


Me lembro dos tempos agudos,
dos ventos agrestes, sisudos,
nos ombros dos homens cansados.

Também dos tempos de quimeras,
sons de flautas e violinos
vibrantes de sonhos sonhados.

Dos tempos de aventura e mel,
do lume e força da palavra
gravada em ouro com cinzel.

Recordo do que ainda me lembro,
tudo o resto de pouco importa,
se o tempo anda e com ele aprendo:

que a vida é só um setembro
com frio rosto de janeiro
cansado, a bater-me à porta.

José António de Carvalho, 28-outubro-2024
Quadro de António Miranda



sábado, 12 de outubro de 2024

Poema "TALVEZ POSSAS POR AMOR…"


TALVEZ POSSAS POR AMOR…

Talvez possas por amor…
Pegar na caneta
e fazer dela a eleita.

Fazer baixar armas
entre mares e desertos,
montanhas e savanas,
nos lugares mais discretos.

Terás que fazer viva paz
na vida que levas.
Viver na tranquilidade
afugentando as trevas.

As trevas da vida
são o cadafalso maior,

E a maior causa de morte
é a falta de amor.

José António de Carvalho, 12-outubro-2024
Foto "Pinterest"





segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Poema "MORTE"


MORTE


Sinto o tempo a bater perto.
O Inverno chegará num pestanejar.

É grave, a vida despida.
Gravíssimo, a vida faminta.
Arrepiante, a vida em fuga.
Degradante, a vida doente.
Nefasta, a vida sem sorte.
É crime, a vida sem vida.

E quem assim se sustenta,
Fecha os olhos e consente, 
Ou se dela se alimenta:

É um semeador da morte.

José António de Carvalho, 07-outubro-2024
Foto "Pinterest"



terça-feira, 24 de setembro de 2024

Poema "CAIS DO SILÊNCIO"


CAIS DO SILÊNCIO

Fico a chorar o verão
Que foi pelo labirinto
Sem saber a direção
Que tomar. Mas eu pressinto
Que ele vá na que prevejo:
Essa que chama o desejo.

Do verão fica a saudade
Que mais parece ilusão,
E do corpo frio que arde
Só se salva o coração,
P’la artéria que o alimenta
E que a esperança sustenta.

Mas o dia foge cedo
P’ra descer a noite fria,
Cais de silêncio do medo
Duma memória vazia.
E para o vazio encher
Novo dia há de nascer.

José António de Carvalho, 23-setembro-2024
Foto "Pinterest"




terça-feira, 3 de setembro de 2024

Poema - SETEMBRO


SETEMBRO


É mais um setembro calmo.
Sempre setembro maduro.
Que no ano é nono palmo,
A três palmos de um futuro.

Quem assim o tempo mede,
Mede-o pondo-lhe a mão
Movendo-o em toque leve,
E as folhas caem no chão.

É setembro, sopra a brisa
Que desprende o pensamento
Enquanto a alma se ameniza
Da angústia que vem no vento.

É setembro, tudo dito;
Vem com ele a nostalgia
A desdobrar o conflito
Entre mim e a noite fria.

José António de Carvalho, 02-setembro-2024
Quadro de António Miranda




quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Poema "O MENINO"

Este poema irá integrar a Antologia da Chiado Editora "ENTRE O SONO E O SONHO XVI"


O MENINO

Um menino pequenino
nos seus olhos de criança,
sonhava para o caminho
longas retas de esperança.

Olhava pelo postigo
Para ver a luz do dia,
Sempre fechado no abrigo
À medida que crescia.

O tempo lá foi passando,
O menino foi crescendo,
Nem podia acreditar
Nesse mundo que ia vendo.

Eram cidades inteiras
Em ruínas e desertas,
Alguns trapos de bandeiras.
Um horror de descobertas...

Fumos negros e os odores
A sangue já ressequido,
São agora mais duas cores
Que passam a andar consigo.

E perguntou para si:

Como seria aquele Homem
Que tudo aquilo fazia,
Poderia ser igual
Ao homem que em si crescia?...

José António de Carvalho, 28-agosto-2024
Vermoim, Vila Nova de Famalicão

Foto "Pinterest"






quarta-feira, 7 de agosto de 2024

TEXTO "FÉRIAS DE SONHO OU DOS SONHOS?"


FÉRIAS DE SONHO OU DOS SONHOS?

Com as férias quase a terminarem, são sempre poucos dias e pouco de quase tudo. Quase sem sair fisicamente de casa, apenas foram férias da rotina da hora de levantar e deitar. Coisas que, mesmo assim, não alterei muito. Grande parte do dia passo-o no meu silêncio quase ensurdecedor. Espero que os vizinhos não se aborreçam pela poluição sonora que lhes causo.

O dinheiro para as férias, por algumas vicissitudes muito frequentes na vida das pessoas, deu lugar a outras prioridades, até a outras oportunidades. Não me posso queixar à luz do que sou.

O dinheiro acaba por assumir-se como o centro de tudo: "A razão das razões". O que me parece altamente negativo para a vida e para a humanidade. Sim, a humanidade no seu todo. Porque todos sofrem com a lei desta visão, que é venerada e idolatrada para muito benefício de apenas alguns, mas que, depois, se estende numa longa rampa a descer até àquele que se encontra quase na base. Porém, mesmo assim, este acha-se inatingível, inalcançável, pelo que se encontra na base, e pisa-lhe na cabeça, esquecendo que tem tantos e tantos a pisarem a sua própria cabeça. Que dores de cabeça...    

As férias já são muito boas se tivermos leveza no pensamento, alegria no coração e o brilho na menina dos olhos pelo movimento do pequeno comboio dos sonhos, que devagarinho lá segue e avança, voando e navegando livremente de paraíso em paraíso, mergulhando-nos em bem-estar e satisfação.

Boas férias! E… sobretudo, Sonhe!!! Sonhe por si e por aquele que não sabe, não pode ou não o deixam sonhar. 

José António de Carvalho, 07-agosto-2024
Praia do Alemão - Portimão (Site: Viagens / Sapo)





terça-feira, 6 de agosto de 2024

Poema "FLORES DA VIDA"


FLORES DA VIDA

Minhas ideias imprecisas
Vindas no vento do além
Galgaram altas barreiras
E transformaram desertos
Em imagens verdadeiras.

Não. Nada digo a ninguém…
Que havia umas feiticeiras
Que saíam dos coretos
Para matarem os sonhos
A quem passasse por perto.

Só nas horas derradeiras
Hei de falar-vos, por certo,
Do sonho que uma vez tive
E que em mim resiste e vive,
De ver flores no deserto.

José António de Carvalho, 06-agosto-2024
Foto do quadro de António Miranda (Papoilas), em Exposição no "ESPAÇO CULTURA", Galeria de Exposições Temporárias, Barcelos. 

quinta-feira, 25 de julho de 2024

Poema "ILUSÕES DE VERÃO"


ILUSÕES DE VERÃO

Colo o pensamento no oceano
para serenar o espírito que ferve
pela vaga de lume que sai do sol,
e lançada sobre a terra
tudo arde.

Oh, misterioso e longínquo mar,
que assim te vejo intermitente:
tão perto de mim, tão longe,
tão dentro, e tão ausente…

Trago-te selvagem, ó desordeiro,
dentro da vida agreste, e avanças
com a espuma amarela do sal
a queimar o brilho dos olhos
das crianças.

Mais fresca é a brisa dos versos
que paira no ar presa ao dilema.
Assim breve, e verdadeiramente
minúscula é a esperança
que se respira no fim do poema.

Veloz e silencioso cavalo alado
que empurra a vida, que a enferma,
deixando para trás laivos de glória
evaporados na ilusão de falsa vitória.

José António de Carvalho, 25-julho-2024´
Pintura a óleo de Mariana Homem de Mello




domingo, 7 de julho de 2024

Poema "MAR DA VIDA"


MAR DA VIDA


Neste dourado do dia
onde a alma lá se aconchega
a esta paisagem sombria
noutro dia que ao fim chega.

O sol morno só aquece
onde o calor ainda existe,
se o não tem mais arrefece
nem com ajuda resiste.

Ah, que se sente a frescura
do nosso tempo a passar
na água, e nele a brancura
da espuma que veste o mar.

José António de Carvalho, 07-julho-2024
Foto "Pinterest"