sexta-feira, 5 de abril de 2019

Poema "Palavras abafadas no âmago das palavras"



Palavras abafadas no âmago das palavras


Raios de sol
aprisionados no negrume das nuvens, que teimosamente se demoram para os deixar passar.

Olhares indiscretos
que desassossegam os nervos do mais pacífico dos oceanos.

Feridas ocultas
sob a pele de seda fina de cada sorriso mordido pela acutilância da dor.

Sorrisos perturbados
por violentas vagas em alto-mar que engolem qualquer ego impreciso.

Olhos doces
resistentes à angústia e à dor, permeados pela doçura do calor do amor.

Lábios húmidos
pelas lágrimas que distinguem o rosto de quem sente e o prazer que nunca desmentem.

Pele arrepiada
na luz refletida pela lâmina cortante e pelo toque de veludo que a engana no mesmo instante.

Fumo cinzento
dissipado do óleo efervescente misturado com o vermelho do  sangue respingado no acidente.

Livro proibido
da nudez da verdade em choque frontal e brutal com a ardileza da letra da lei e de quem a dita.

Coração fechado
na cerca do abismo subserviente à imposição prepotente e insensatez fatal de monstros e fantasmas vestidos de adamastor.

Andorinha venturosa
No despontar da vida eleva em cada voo penetrante o significado e a forma de cada verso, na força pungente de cada paixão esplendorosa.

José António de Carvalho, 05-abril-2019
Foto: Conceição Silva








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