quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Poema "LÁGRIMA SOLITÁRIA" e Vídeo da declamação


LÁGRIMA SOLITÁRIA



Esse leve cristal ancorado no maior desencanto,
parado na sua nudez à luz do sol, no olho, ao canto.

Juntou-se a outros e outros, tantos mais cristais…
vestiu-se com traje único, de uma só lágrima.

Abandonou a casa húmida e evoluiu desorientada,
deslizou aturdida pelo meio dos enredos do corpo.

Desse corpo vertido numa montanha invertida,
e quanto mais ela descia, mais frio 
ainda sentia.

A lágrima nua, num corpo tão nu quanto ela,
caiu sobre o sapato negro, espelhante e congelou.
O sapato que cobria um pé tão nu quanto o corpo.

E a lágrima aí permaneceu só, congelada e fria. 
Tão fria até à chegada de nova primavera ao coração.

José António de Carvalho, 11-novembro-2020
Foto da internet





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