quinta-feira, 31 de julho de 2025

Poema "DOR"


DOR

Há dias assim...

Com as palavras nas mãos
em frias manhãs de nevoeiro,
vindas de noites sem luares
p'lo fim da chama no luzeiro.

Dias que são como sem nada,
escusavam de ser sombrios,
podiam ter velas, navios
e toque de nova alvorada.

Os dias devem ter por regra
nascerem em manhãs Criança,
pularem na tarde finita
onde se ponha fim à guerra,
uma rocha em tão vil matança.

E se assim for...
A noite vem, e tanto faz
que haja ou não luar,
logo que haja amor,
haja pão, haja lar;
logo que haja PAZ.

José António de Carvalho, 31-julho-2025
Pintura de Monteiro da Silva - ARTE CELANO, Grupo de Artistas







sábado, 19 de julho de 2025

Poema "PERFEITA IMPERFEIÇÃO"


PERFEITA IMPERFEIÇÃO


Escrever acerca da mente humana
é como que escrever sobre o universo;
dois mundos surpreendentes, diversos.
Em ambos, a perfeição nos engana.

Dar conta de sonhos e anseios do Homem
é mergulhar em águas tão profundas;
águas cinzentas, escuras e inundas,
colérico degredo a quem as tomem.

Com ódio, sobranceria e ganância,
levam-nos nesta triste vida fora,
e vêm com os seus discursos, agora;
e na fome, as promessas de abundância.

Que sociedade esta, tão doente;
doença extrema, quase terminal.
Olhar bem dentro p'ra ver, afinal,
que caminho para seguir em frente.

José António de Carvalho, 19-julho-2025
Foto "Pinterest"






Poema: "AFRODITE, TU, DE CORPO NU"


AFRODITE, TU, DE CORPO NU

Eros eu. E tu, Afrodite, de corpo nu
a sentir os dedos de Cupido
tatearem sempre no sentido
de descobrirem o teu lago.

Lago que no teu largo prazer
aumente o caudal, e um mar
calmo de deleite passe a ser.

E quando a lua esconder a terra,
passaremos o desfiladeiro,
ouvindo a música calar o vento 
que vem dos montes da tua serra,
com o sol a inundar o rosto,
fazendo de agosto, o primeiro.

Ficamos a atar os sonhos que trago
aos que em ti geras no momento,
ludibriando as voltas dadas pela terra
no seu perpétuo movimento. 

José António de Carvalho, 15-julho-2025
Foto "Pinterest"



sábado, 12 de julho de 2025

Poema "CONTINUAR"


Poema lido por Suzy Mónica no programa "As Nossas Raízes" da Cidade Hoje Rádio, edição nº 1763, 12-julho-2025, a quem agradeço.


CONTINUAR

Por cada aurora que irrompa no horizonte,
por cada manhã que renove a esperança,
haverá sempre mais um dia
a escavar cruelmente
o caminho para a noite sombria.

E é na noite que cai o doloroso silêncio
que exige um revirar de fora para dentro,
onde a secura duma silhueta espelhada 
na lâmina da espada
dum estúpido ego, nos obriga a descansar
do peso de quem somos.

Não sei. Não sei. Não sei o que direi.
Provavelmente não direi nada.
Será mais sensato nada dizer.

Continuarei a fazer o que faço agora,
se não me esquecer de o fazer.

Continuarei a tentar encontrar os pedaços
que fui perdendo ao longo da viagem.
Essa já é uma exigente e árdua tarefa. 

E não tenho tempo.
Já não tenho tempo
para me perder nas sombras.

José António de Carvalho, 12-07-2025
Foto (Cai a noite) de António Miranda - Arte Celano, Grupo de Artistas 








domingo, 6 de julho de 2025

Poema "GRITEMOS: NÃO!!!"


GRITEMOS: NÃO!!!

Não! Não podemos deixar passar mais...
Esses mentirosos com ar de santos,
Que tudo destroem pela ganância
Do poder, e p'lo que roubam a tantos,
Matando famílias: filhos e pais;
Cujas vidas outrora foram festa.
Agora, são só cinzas pelos cantos.
O sol encoberto também atesta,
Que dor e morte já são tão usuais
Lançando-nos assim para a distância.
Também por medo não se manifesta
Grande revolta, ira ou repugnância.

José António de Carvalho, 06-julho-2025
Foto do Certificado "Fundación Amazonía Productiva - Poetas Intergalácticos, Equador"
 

quarta-feira, 2 de julho de 2025

Poema "ESTRANHEZAS"

Um poema à Maria Teresa Horta. Daí o título de um dos seus livros. 

ESTRANHEZAS 

Sigo a sul
para alcançar o norte.

Movo-me no centro
e perco-me nos enredos.

Mapeio com os dedos
o caminho a fazer. 

Cada vez mais perdido
apelo a outro sentido,

perguntando com a língua
onde fica o mar.

Responde-me Afrodite
que vá além do  limite

para ver os teus olhos
cerrarem-se de prazer,

sentindo a brisa
das ondas subir

e o mar sempre pronto
para as acolher. 

José António de Carvalho, 02-julho-2025
Foto Pinterest 



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