CONTINUAR
por cada manhã que renove a esperança,
haverá sempre mais um dia
a escavar cruelmente
o caminho para a noite sombria.
E é na noite que cai o doloroso silêncio
que exige um revirar de fora para dentro,
onde a secura duma silhueta espelhada
na lâmina da espada
dum estúpido ego, nos obriga a descansar
do peso de quem somos.
Não sei. Não sei. Não sei o que direi.
Provavelmente não direi nada.
Será mais sensato nada dizer.
Continuarei a fazer o que faço agora,
se não me esquecer de o fazer.
Continuarei a tentar encontrar os pedaços
que fui perdendo ao longo da viagem.
Essa já é uma exigente e árdua tarefa.
E não tenho tempo.
Já não tenho tempo
para me perder nas sombras.
José António de Carvalho, 12-07-2025
Foto (Cai a noite) de António Miranda - Arte Celano, Grupo de Artistas
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