quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Poema "ROTINAS QUE MATAM"


ROTINAS QUE MATAM

Há uma porta entreaberta
entre o que fomos e o que somos.

Há um ritual divino em deixar passar
as ondas da imaginação que se levantam.

Ganham força as rotinas vãs
que moem os segundos que são de viver.

Mas o ponto de rutura vem na brisa,
e num ápice torna-se em vendaval,
lançando por terra todos os sonhos.

E lá voltamos a reaprender a edificar,
a colocar novas portas para depois abrir.

E faremos sempre as mesmas coisas
até que as forças se esfumem.

José António de Carvalho, 27-agosto-2025
Foto "Pinterest"




domingo, 24 de agosto de 2025

Texto Redondo "A VIDA É O QUE É"


A vida é o que é.

E não é motivo para  nos sentirmos melhores nem piores do que toda a gente. Somos o que somos, por termos aprendido, ou não, o que deveríamos e poderíamos, o que escolhera-mos ou permitira-mos que alguém tivesse escolhido por nós.

Vivemos o que vivemos, porque, face a todas a contingências e a nossa forma de ser e estar na vida, escolhemos e só tivemos oportunidade de viver dessa forma.

Não somos mais nem menos do que nós próprios, com todas as aprendizagens, com todos os erros e acertos nas escolhas, com todas as nossas capacidades e limitações, com tudo o que nos fora colocado à frente, oportunidades e dificuldades.

Aposto que se tivesse tido professores (em todas as áreas da vida, todos com quem aprendi) bem diferentes dos que tive, seria hoje uma pessoa também muito diferente. Melhor ou pior pessoa? Não se sabe. Ninguém o sabe, nem poderá dizer.

Portanto, não podemos nem devemos sentir-nos orgulhosos nem dececionados pelo que somos. Somos o que somos e não pode haver discussão. Ponto. Mas podemos mudar.

É a única coisa que podemos almejar: tentar melhorar de acordo com o que somos.  Sem que isso perturbe os outros ou nos faça sentir desconfortáveis perante nós mesmos. Façamo-lo convictamente.

Todos temos oportunidades de mudar. Que a mudança seja: Melhorar no futuro. Já, é passado. O  futuro é agora. A caminho da luz.

José António de Carvalho, 24-agosto-2025
Foto "Pinterest"



quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Poema "ENTRE GEMIDOS E FALAS"



ENTRE GEMIDOS E FALAS

As palavras desordenadas
nos lábios de cereja
e o delicioso suco
da longa madrugada
que a manhã beija

onde se perde tudo
para dar significado
a tudo se ter
e mais ainda se quer

A ramagem no chão
arrancada ao consentimento
vai despindo o sentimento
com o rodopiar da mão

O candeeiro estremece
na sombra que entontece
e a tontura diz, sim

Gritas e dizes, não
forçando o mundo ao movimento
e eu não fujo de mim
vou voando no vento

Denuncias-te ao meu ouvido
num tom embriagado
pelo tempo adormecido
Sim, agora... Sim

Estendemo-nos no universo
de mão dada, lado a lado
a sonhar e a sentir, que
o prazer de cada verso
no poema fora plantado.

José António de Carvalho, 21-agosto-2025
Foto de Shian Sood, pintura "Pinterest"
















 

















  

segunda-feira, 18 de agosto de 2025

Poema "SEREI INGRATO?"

(POEMA INSTANTÂNEO COMO OS PUDINS)


SEREI INGRATO?

Se me dissessem agora que estava a chover,
ficava tão agradecido às nuvens,
ao vapor de água;
à física, pela evaporação e pela condensação,
ao sol, pela ajuda na evaporação,
ao frio da altitude, pela condensação,
aos ventos, que juntam as nuvens,
à gravidade, que traz as gotas até nós.

Mas não. Não vou agradecer a ninguém.
Serei ingrato?
Talvez...

Mas julgo que não.
Simplesmente, não chove...
e a alma do nosso país continua a arder.

José António de Carvalho, 18-agosto-2025
Foto Pinterest




domingo, 10 de agosto de 2025

Poema "SE SOUBESSE SONHAR..."


SE SOUBESSE SONHAR...

Imagino-te na onda que vem do mar,
alcanço-te na espuma que te envolve os pés,
beijo-te na brisa fresca salpicada das ondas,
levito a meio, no seio do tempo que és.

Depois é noite, e...

É tempo de cair no negro regresso.
E na frescura da brisa, regelo,
na espuma que desaparece, perco-te,
na onda que volta ao mar, o sonho vai.

Recolho-me para me
ressignificar.

José António de Carvalho, 08-agosto-2025
Pintura de António Miranda



quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Poema "CINZAS"


CINZAS

Se ao menos fosse inverno
seria até acolhedor
estar dentro do inferno
e sentir-lhe o calor.

Mas não. É verão.
É um agosto ardente
indo além da razão,
um inferno no presente.

A chama imponente
a devorar a vida.
Ficam os despojos,
restos de nadas, cinza,

E os olhos mortos
de todos os que lutam,
não dos que mandam.
Esses, sorriem ainda...

Tragam água.
Tragam muita água,
para matar a dor
e afogar a mágoa
de viver este horror.

José António de Carvalho, 06-agosto-2025
Pintura de António Miranda - ARTE CELANO - Grupo de Artistas