quinta-feira, 10 de junho de 2021

Carta de "AMOR A PORTUGAL"

Esta carta integrou a Coletânea de cartas de Amor da Chiado Books, janeiro-2019


Meu Amor

Bem sei que as cartas caíram em desuso, mesmo assim não resisto a escrever-ta, porque não é uma simples carta, é uma carta de Amor.

Quero que a leias com todo o vagar e de coração aberto. Se for possível procura um lugar verde natural, belo e recatado, para que esta carta se torne muito especial e relevante para o nosso sentir.

Talvez a devas ler junto às margens dum rio, numa paisagem natural e florida.

Pode ser mesmo junto ao Tejo, onde passe pelo meio de searas doiradas e quando o sol espelhe nas águas e ilumine o teu rosto doce, ou que a tua alma de flor passe serenamente num pequeno barco à vela, longe de nós e perto da outra margem, mas que nos aproxime cada mais, e mais.

Ou na margem do Douro, onde se consiga ver a tua adorável silhueta projetada nas folhas douradas das videiras plantadas nas encostas das montanhas e com o rio a serpentear-se no vale, e o teu perfume dê aroma às uvas rosadas para nosso deleite, que se transformarão em vinho que nos há de inebriar e tornar os nossos corpos etéreos, tornando-os sublimes, quentes e amantes.

Também poderá ser junto ao Vouga e Ria de Aveiro, onde a água salgada entra no corpo da terra por tanto a querer, formando-se enormes espelhos d’água que realçarão a tua beleza, ou pelas suas ramificações em ribeiras e regatos, como se quisessem abraçar tudo. Tal como o nosso amor, que tudo quer envolver à nossa volta e colocar-nos ao centro, unidos e abraçados, debaixo de sol ameno.

Ah, como gostaria que a lesses em Viana do Castelo, no jardim junto ao Lima, em dia que não esteja frio nem se faça sentir vento forte. Ou ainda, se preferires subir o monte de Santa Luzia, poderás lê-la bem lá no cimo junto ao mosteiro, irás deslumbrar-te com a cidade e com a foz. Adivinharemos o sol a afundar no mar e subir pelo rio. E como é sublime e lenta a penetração das águas do rio no mar, misturando-se como as nuvens de vários tons, fazendo lembrar o despir das tuas roupas que encobrem tanta beleza simples e natural.

Minha querida, se a preferires ler em Caminha, bem junto ao rio Minho, em Cerveira ou Monção, ficarei igualmente feliz. Tu serás cada uma das ilhas que dormem no interior do seu leito e eu serei as águas frescas e vivas à sua volta.

Não posso ir mais longe, se te entusiasma a ideia de a leres junto ao Guadiana, pode ser em Alqueva, onde o amor não vê fronteiras, e beijamo-nos nos segredos da pérola de Olivença e abraçamo-nos na tão querida e bela planície alentejana.

Ou ainda lê-la junto ao Sado, mas toma cuidado, porque este rio corre de sul para norte, tem as belezas do teu corpo no seu estuário e do teu rosto na península de Tróia.

Assim termino, enviando-te um beijo de carinho e amor.

Amo-te minha Pátria! Amo-te Portugal!

José António de Carvalho



Sem comentários:

Enviar um comentário