Hoje não. Amanhã talvez!...
Se soubesse o teu caminho
tomaria sempre um rumo diferente do teu.
Um rumo que nos permitisse ver olhos nos olhos
e pudéssemos apenas fitar os olhares receosos,
como a fera e a presa, e a presa e a fera.
Esta bilateralidade do ver teria de ser mantida e
respeitada.
Eu tentaria escapar sempre às tuas investidas
e tu recear-me-ias pelo meu olhar decidido,
porque não era chegada ainda a hora para o nosso encontro.
E que ninguém se permita a decidir por nós,
forçando encontros inusitados pelo caminho,
num caminho que não quero nosso, o meu e o teu.
Quem sabe se um dia não possa mudar de linha…
E, no meio dos meus cansaços de viver só,
no meio das minhas angústias e dores dilacerantes,
no meio da poeira dos meus versos secos
ou dos invernos -infernos- gelados e soturnos,
nas incoerências da chegada do rio
a um mar revolto de dor e lágrimas salgadas,
e neste meu solitário e já penoso caminhar,
possa dizer a alguém que nos junte o caminho…
E será como que o fim do mundo.
E a fera... a fera atingirá mortalmente a sua presa.
José António de Carvalho, 20-fevereiro-2020
Pintura de Monteiro da Silva
A incerteza da certeza nobre poeta. Intenso.
ResponderEliminarMuito obrigado pela leitura e análise, amiga Ana Costa Silva!
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