ASTROS
Ainda sinto como poucos
onde se espraiam correntes,
onde se perdem os lábios,
onde se afagam os dentes.
Ainda sinto como loucos
fogo vivo, tempos quentes,
magnete dos astrolábios
que levaram às nascentes.
REVELO-ME ATRAVÉS DE SIMPLES VERSOS (Reservados os direitos de autor)
Meu Amor
Bem sei que as cartas caíram em desuso, mesmo assim não resisto a
escrever-ta, porque não é uma simples carta, é uma carta de Amor.
Quero que a leias com todo o vagar e de coração aberto. Se for possível
procura um lugar verde natural, belo e recatado, para que esta carta se torne
muito especial e relevante para o nosso sentir.
Talvez a devas ler junto às margens dum rio, numa paisagem natural e
florida.
Pode ser mesmo junto ao Tejo, onde passe pelo meio de searas doiradas e
quando o sol espelhe nas águas e ilumine o teu rosto doce, ou que a tua alma de
flor passe serenamente num pequeno barco à vela, longe de nós e perto da outra
margem, mas que nos aproxime cada mais, e mais.
Ou na margem do Douro, onde se consiga ver a tua adorável silhueta projetada
nas folhas douradas das videiras plantadas nas encostas das montanhas e com o
rio a serpentear-se no vale, e o teu perfume dê aroma às uvas rosadas para
nosso deleite, que se transformarão em vinho que nos há de inebriar e tornar os
nossos corpos etéreos, tornando-os sublimes, quentes e amantes.
Também poderá ser junto ao Vouga e Ria de Aveiro, onde a água salgada
entra no corpo da terra por tanto a querer, formando-se enormes espelhos d’água
que realçarão a tua beleza, ou pelas suas ramificações em ribeiras e regatos,
como se quisessem abraçar tudo. Tal como o nosso amor, que tudo quer envolver à
nossa volta e colocar-nos ao centro, unidos e abraçados, debaixo de sol ameno.
Ah, como gostaria que a lesses em Viana do Castelo, no jardim junto ao Lima,
em dia que não esteja frio nem se faça sentir vento forte. Ou ainda, se
preferires subir o monte de Santa Luzia, poderás lê-la bem lá no cimo junto ao
mosteiro, irás deslumbrar-te com a cidade e com a foz. Adivinharemos o sol a afundar
no mar e subir pelo rio. E como é sublime e lenta a penetração das águas do rio
no mar, misturando-se como as nuvens de vários tons, fazendo lembrar o despir das
tuas roupas que encobrem tanta beleza simples e natural.
Minha querida, se a preferires ler em Caminha, bem junto ao rio Minho, em
Cerveira ou Monção, ficarei igualmente feliz. Tu serás cada uma das ilhas que
dormem no interior do seu leito e eu serei as águas frescas e vivas à sua volta.
Não posso ir mais longe, se te entusiasma a ideia de a leres junto ao
Guadiana, pode ser em Alqueva, onde o amor não vê fronteiras, e beijamo-nos nos
segredos da pérola de Olivença e abraçamo-nos na tão querida e bela planície
alentejana.
Ou ainda lê-la junto ao Sado, mas toma cuidado, porque este rio corre
de sul para norte, tem as belezas do teu corpo no seu estuário e do teu rosto
na península de Tróia.
Assim termino, enviando-te um beijo de carinho e amor.
Amo-te minha Pátria! Amo-te
Portugal!
José António de Carvalho
José António de Carvalho, 17-maio-2021
Foto: "gettyimages.com.br"
DO ALTO DA MINHA TERRA
QUEM SABE SE UM DIA…
Venceremos as diferenças,
Cumpriremos os desígnios,
Apagaremos os interesses,
Riscaremos o egoísmo,
Viveremos em respeito
E esqueceremos a regalia
Do privilégio individual
Para a comum alegria...
Aí…, nesse dia,
Talvez experimentemos
O calor que corre nas veias,
E assim alimentemos
O sentimento de família!!!!
José António de Carvalho, 14-maio-2021
Foto Eurocid - Dia Internacional da Família
ECLIPSE VERDE
Num ano de tanto sofrer
Andava de negro vestido,
E tão necessária a mudança.
Que assim lá começo a correr
E se desço o negro prá calça,
Visto a camisa da esperança.
José António de Carvalho, 11-maio-2021
Sporting Clube de Portugal sagra-se Campeão
Nacional de Futebol
19 anos depois.
Participei com este poema no programa Livro Aberto da RVA, de Ana Coelho, emissões de 30-abril e 07-maio-2021.
SEMENTES DO LIVRO
José António de Carvalho, 28-abril-2021
RAZÕES DO POEMA
As amarguras de mais um dia
não podem matar as ilusões,
e mesmo nas mais duras traições
há caminho pra nova alegria.
Sonho com uma vida tranquila
que afugente a injusta crueldade,
que com ar vil e sempre reguila
lavre cicatriz na eternidade.
Em breves gestos de alegria,
deixo-a sorrir, cheirar as rosas,
afastando os espinhos do tédio,
para fundar no poema a raiz
como um vício que me faz feliz…