POVO QUE LAVAVAS NO RIO
Povo que lavavas no rio,
Talhaste com o conhecimento
As tábuas do teu caixão.
Pode ser que te arrependas
Do que fazes, e são ofensas
Que todas as vidas levarão.
Os que comem à mesa redonda
Onde nunca faltou o pão
Afundam-se no ganho e no ter,
Por troca do que é ser
Filhos na mesma condição.
Mas há quem não se esconda
De alertar a bons pulmões
Dos interesses em negociações
Que lavam a morte do futuro
Sem qualquer compaixão.
Ficarão secos e agrestes
Os solos, os rios, e as vestes
De quem sonha na cama.
E numa nova condição,
Em que o amor se derrama,
Faça-se da vida a grande arma,
Em verdade, de irmão para irmão.
José António de Carvalho, 03-agosto-2022