sexta-feira, 27 de março de 2020

Poema "A RUA DOS VELHOS"



A RUA DOS VELHOS

Vivo numa rua de velhos.
Esses tais velhos sem idade,
Os que rejeitam os conselhos,
Que rezingam como fedelhos,
Que não vivem a liberdade.

Sem terem dó nem piedade
Para infligirem diabruras,
Desertos de seriedade,
Cravam dentes e ditaduras,
Vulcões de lava de maldade.

Vivo numa rua de velhos,
A rua que reflete o mundo,
Que quebra todos os espelhos,
Estando ele já todo moribundo
Por ignorarem os conselhos.

Vivo numa rua de velhos,
Na rua de mil e um receios…

José António de Carvalho, 27-março-2020
Aguarela de Mendes da Costa Belmiro




terça-feira, 24 de março de 2020

Poema "NÃO ADORMEÇAS!"


NÃO ADORMEÇAS!

Tens os olhos tão cansados!
Tão cansados, tão cansados…
que as pálpebras parecem cortinas.

Vê se as dominas!
Não as deixes a seu gosto!

Parecem as meninas
que escondem o desgosto.

Ai, se elas se fecham.
Se elas se fecham,
estás a dar-lhes aso
Que se façam sol no ocaso…

Não te deixes adormecer!...

José António de Carvalho, 24-março-2020
Foto: © Mactrunk #27305333

sábado, 21 de março de 2020

Poema "ENCONTRO DESMARCADO"

Este poema foi feito para o Dia Mundial da Poesia. O dia em que teria a apresentação do meu livro na Biblioteca Municipal da Póvoa de Varzim (Diana-Bar), 20-março-2020, e que foi cancelada devido à pandemia do Corona-vírus.

Este poema foi lido, ontem, 20-março-2021 (sábado), no programa "As Nossas Raízes", da Cidade Hoje Rádio, da autoria de Manuel Sanches e Suzy Mónica.



ENCONTRO DESMARCADO

Tínhamos um encontro marcado
para este dia,
nos braços do mar,
nos olhos do sol,
saudados pelos gritos das gaivotas,
astutas devotas.

Um encontro enredado
na rede dos pescadores,
que as enrolam,
e nelas cosem simples versos
e enlaçam todas as dores.

Tínhamos encontro marcado
na doçura salgada da maresia.

Sentíamos já o coração tão apertado
quando o nosso encontro foi desmarcado.

Fico tão triste por o teu dia
definhar nos enredos da pandemia…
Mas eu resisto e não desisto,
elevo-te aqui a todas as constelações
para te cantar, poesia…

José António de Carvalho, 21-março-2020
Foto da Internet



domingo, 15 de março de 2020

Poema "A VIDA"

A VIDA

Sobre ela queremos decidir:
Dar,
alterar,
retardar,
antecipar,
manipular,
tirar…

E chega alguém,
um ínfimo nada,
por decisão sabe-se lá de quem,
apenas na sua face alterada,
e mostra-nos que neste caminho:
Não somos nada.
Nunca fomos nada.
E nunca seremos nada.

Porque a vida muda
sem que o Homem se descubra.

José António de Carvalho, 15-março-2020
Foto de Conceição Silva




sexta-feira, 13 de março de 2020

Poema "VEM PRIMAVERA!"


Este poema foi apresentado no Evento de Poesia online do Grupo Mel Poesias, no dia 22 de setembro-2020.
Participei também com este poema no XIV Evento Literário de Poesia do Grupo Arte & Literatura Recanto da Poesia, Tema: "Primavera" (O amor colhe flores), a convite da amiga das letras Nilma Soares.

VEM PRIMAVERA!


Disseram-me que vens só e linda...
Só uma parte da verdade!

Vens tu e vem o Sol,
e as flores...
oh, e as rosas...

Vem toda a natureza,
bela e formosa,
e o amor ainda!

E trazes alegrias e risos
nesse teu rosto de azul céu,
coloridos de vida infinda
que espreitam desse teu véu!

E dás-nos sonho. Espaços
que se estendem pelos montes;
e chilreios de pássaros...
e águas cristalinas
a brotar das fontes!

E o teu largo regaço
tanto nos preenche de mimos,
fazendo-nos sentir
outra vez meninos.

Trazes todas as melodias:
O canto dos grilos,
e o zunir das abelhas
do seu mergulho nas flores.
Trazes mais luz... todos os dias!

Vem Primavera, vem!
Nesse quadro de fantasias,
um clarão, uma explosão,
o despertar das alegrias...
Traz contigo a esperança também!
Vem Primavera, vem!...

José António de Carvalho, 13-março-2020
Foto de Conceição Silva







quarta-feira, 11 de março de 2020

Poema “COVERSUS”

“COVERSUS”

Não me recordo deste estado
Que se me afigura anormal
Ver o "tuga" tão atormentado
Com a saúde em Portugal.

Não me recordo de tal medo
E de tão brutal confusão
Manterem em grande segredo
Pra logo assustar a nação.

Só me lembro de igual mania
Assim é bem à portuguesa
Ó povo fazer tirania…
É tratá-lo com ligeireza.

Mas quero por isto se fique
E que brandamente nos custe
Para ficarmos bem da psique
Que quem governa não nos assuste.

José António de Carvalho, 11-março-2020
Foto Net





sábado, 7 de março de 2020

Poema "Alma nua sem asas"

Concurso organizado pelo Grupo Livro Aberto - Rádio Voz de Alenquer
Responsável: Ana Coelho
Seleção: Ana Acto

Alma nua sem asas

Nesta nossa pequena terra
Que atira os adjetivos fora,
As pérolas de quem cá mora,
Um futuro que assim se emperra,
Deixando-nos todos à nora.

Pobre povo… não sais à rua,
Não cultivas as flores certas,
Já não voas de asas abertas,
Nem teu sonho sequer flutua…
Foi-se o riso e ficou a alma nua.

Alma deste povo que chora
Lágrimas de sangue, e que amua,
Que perde o riso e que vai embora,
Perde a força e que já não atua,
E que ajuda também não implora…

José António de Carvalho, 02-março-2020


quinta-feira, 5 de março de 2020

Poema "SE ELA CHEGAR"

Poema dedicado à Mulher - Dia Internacional da Mulher, 08-março-2020 (domingo)
Este poema foi a concurso do Dia da Mulher, do Grupo "Templo da Palavra" 


SE ELA CHEGAR

Faz-se tarde, tão tarde para ti,
Mais tarde do que o dia que tarda
Na esperança de cada amanhecer
Na tua chegada na vanguarda…
Na vanguarda do Homem.

Se na natureza foste a primeira,
Uma aurora cintilante, companheira,
Nos dias que a vida consome…
Roubados de forma sorrateira
Em cada ruga do teu luar
Que nasce no teu alto mar
E na brandura da tua força verdadeira.

Salpicas vida e amor
E melodias na brisa calma,
Abraças os filhos, afagas a dor,
E tens ainda o brilho nos olhos
Para te doares toda em amor,
O amor de todos os sonhos,
Dos sonhos arrebatados à alma…

José António de Carvalho, 05-março-2020
Desenho de Hamilton Ramos Afonso







quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Poema "A uma pintura"


A UMA PINTURA

Abro os meus olhos como duas janelas,
uma delas para te ver,
a outra para te escrever.

E observo…
Vejo a doçura dos teus olhos densos…
Densos e calmos.

E vejo a meiguice de menina traquinas que sonha,
e sonha com poesia e liberdade.

Nos teus lábios vejo um infindável mar…
de águas calmas e sensualidade.

Será, talvez, um mar de versos
que tanto gostaria de escutar.

Mas também um mar diverso
onde gostaria de mergulhar
todas as minhas palavras,
as que te digo e as que te escrevo,
e as que não te sei dizer.

E eu fico somente pela minha pequenez,
de quem não te sabe descrever…

José António de Carvalho, 28-janeiro-2020
Pintura de Belmiro Mendes da Costa




Poema "Narcisismo"

NARCISISMO

Naquele ar imperador
A olhar com sobranceria
Quem estava em seu redor
Num cio que o embevecia.

Talvez tivesse escolhido
Coligir a obra de outro homem
Naquele ar de aborrecido
A quem os atos consomem.

No tempo que lhe foi dado,
Fê-lo com todo o primor
Falando desse passado
Elevando-se um senhor.

Pouco resta desse dia,
Se as nuvens apareceram
Com elas só a poesia
Que os outros escreveram.

José António de Carvalho, 26-fevereiro-2020
Pintura "Narciso" (1594-1596), Caravaggio



quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Poema "Hoje não. Amanhã talvez!..."

Hoje não. Amanhã talvez!...


Se soubesse o teu caminho
tomaria sempre um rumo diferente do teu.
Um rumo que nos permitisse ver olhos nos olhos
e pudéssemos apenas fitar os olhares receosos,
como a fera e a presa, e a presa e a fera.

Esta bilateralidade do ver teria de ser mantida e respeitada.
Eu tentaria escapar sempre às tuas investidas
e tu recear-me-ias pelo meu olhar decidido,
porque não era chegada ainda a hora para o nosso encontro.

E que ninguém se permita a decidir por nós,
forçando encontros inusitados pelo caminho,
num caminho que não quero nosso, o meu e o teu.

Quem sabe se um dia não possa mudar de linha…

E, no meio dos meus cansaços de viver só,
no meio das minhas angústias e dores dilacerantes,
no meio da poeira dos meus versos secos
ou dos invernos -infernos- gelados e soturnos,
nas incoerências da chegada do rio
a um mar revolto de dor e lágrimas salgadas,
e neste meu solitário e já penoso caminhar,
possa dizer a alguém que nos junte o caminho…

E será como que o fim do mundo.

E a fera... a fera atingirá mortalmente a sua presa.

José António de Carvalho, 20-fevereiro-2020
Pintura de Monteiro da Silva



quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Poema "Brinca hoje, Carnaval"

Concurso de Carnaval - 2020 do Grupo Mel Poesias

Brinca hoje,
Carnaval

Deixa voar o pensamento,
Deixa que o riso vá no vento,
Deixa que o coração abrace
Num abraço que enlace…

Deixa correr essa folia,
Sente o batimento da alegria,
Deixa suspenso o porvir
E sossega o conseguir…

Aproveita esta ocasião,
Porque o amanhã será ladrão
Da alegria que tens hoje
E que da carne te foge!!!

José António de Carvalho, 18-fevereiro-2020
Foto net



segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Poema "(Uni) diversidade"

A propósito do acontecimento de ontem no Estádio D. Afonso Henriques, em Guimarães, tinha este poema feito e aproveito para partilhar convosco.

DISCRIMINAÇÃO - Não se trata apenas da diferença de cor, porque, diferenças, existem em muitas outras dimensões do ser humano, e são alvo de discriminação e intolerância, até pela forma como as pessoas se apresentam e comunicam.
A diferença deve unir-nos!... 

Participei com este poema no concurso organizado pelo Grupo Arte & Literatura Recanto da Poesia, Encontro Pôr do Sol, tema: "Os Anjos não têm Cor"


“Uni” diversidade

Como este mundo é tão diverso
Na cultura e no viver também.
Se posso fazer um lindo verso
A prosa e o poema são o reverso
Da moeda que ninguém detém.

A poesia é livre e sempre voa
Em mundo atado na diferença
E quando dizem que a cor destoa,
Se assim o dizem é tão à toa…
São palavras ocas e sem crença.

Somos todos iguais na razão,
Nos direitos, também nos deveres.
Ajudar quem pede a tua mão,
Se o fizer sem ter outra intenção...
A tua ofereces se puderes.

Não olhes se é folclore ou fado,
Se dança ao nascer ou morrer,
Pinta o rosto e põe filho ao lado,
Amanha a terra à enxada e arado,
É cultura… dada p'lo nascer.

José António de Carvalho, 07-fevereiro-2020
Foto net






quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Poema "Cedências e reticências"

Cedências e reticências

Sinto a tua mão
sobre a minha,
levemente,
e o coração pungente,
também se sente…

Sinto os teus dedos
Leves, sobre os lábios,
desvendando segredos,
secretamente guardados
nos vãos dos nossos medos
e nos pelos arrepiados…

Sinto esses beijos
nas bocas sufocados,
são nosso flamejo
em vales encantados,
dos corpos em desejo
nos astros alcançados.

Sinto o teu calor
recreando-se em mim,
como fonte de fulgor
para dizer – sim!
Assim… por favor!
Fica assim…
Meu amor!
É dia de São Valentim!

José António de Carvalho, 14-fevereiro-2020
Pintura “Magia”, Monteiro da Silva 


Poema "Apostas"

Apostas

O céu hoje vestiu-se de cinzento
Como uma fria espera na antecâmara,
Envolta de um escuro pardacento
e vestes com laivos de desalento
Pelos galhos que a vida p’ra si chama.

Não é desembrulhar o sofrimento…
É mais o embrulhar da minha esperança,
Que vai voando como o pó no vento,
Em fio resistente que ainda alimento
Sem perder a linha da temperança.

A realidade é um sortimento
De fugas, com a verosimilhança
A uma loba penando ferimento
Em uivos de agonia no momento
De vida e morte. Apostas na aliança...

José António de Carvalho, 12-fevereiro-2020
Foto de Conceição Silva


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Poema "Raízes e palavras" p/ a Cidade Hoje, Rádio e Televisão


Poema da comemoração do 30º aniversário do programa "As nossas raízes" da Rádio Cidade Hoje, Jornal e Televisão - do Círculo de Cultura Famalicense.

Homenagem aos amigos Manuel Sanches e Suzy Mónica Sanches (apresentadores do programa).

Raízes e palavras

São vozes… sabe-se lá de onde?
Que falam tão rapidamente,
Se lhes falo, ninguém responde…
Serão mesmo vozes de gente?

Palavras que entram pelas casas
Na pele da espuma das ondas,
Gaivotas brancas… só com asas.
Ouve em silêncio e não respondas...

Falam com alguma piada
Que são da Cidade Hoje, Rádio:
 “- No ar… dia e noite e madrugada!”
Falam para um vasto auditório.

Hora certa para as notícias
De Famalicão e da cidade,
Seguidas de algumas delícias
Lançadas em publicidade.

Como o programa abre em boa hora,
Entre as dezoito e vinte e uma,
Pra que ninguém fique por fora
Há que ouvir as dicas, uma a uma.

A poesia é uma arte
Com um bom lugar nesta mesa,
Difundida por toda a parte
na sua jovial beleza.

A volta inteira ao Concelho,
Andar por festas, romarias
Deste povo, o melhor espelho
De tantas... tantas alegrias.

A música da nossa terra
Desta nossa Famalicão
Tem presença, depois encerra
Na terceira hora, pois então.

Como o tempo voa tão rápido
Mais veloz do que um gavião
Desde a grande estreia na rádio
Raízes de Famalicão.

Assim se plantam as raízes
com história, longevidade,
Foram trinta anos tão felizes…
Mais virão, com estoicidade.

E aos mentores do programa
Ambos Sanches como apelido
Salva de palmas os aclama
P'lo tempo que lhe és retido.
  
Uma salva de palmas para: Susy Mónica e para o pai Manuel Sanches!... Também para a Cidade Hoje, Rádio, Jornal e Televisão.


Poema de José António de Carvalho, 29-janeiro-2020