segunda-feira, 25 de julho de 2022

Poema "UMA FÉ"


UMA FÉ

Sentes dos meus braços todo o calor
que vem da montanha, bem lá do alto,
nesse regato fresco que, de salto em salto,
quer transformar-se num mar de amor?

Então viajas no tempo do mar,
no das estrelas, vezes ao dia,
da natureza e do sol, quem lhes confia
a alma e a vida, a fé dum novo acordar.

Se a minha boca brotasse a doçura
Desse olhar de palavras mães dos versos
que no meu coração moram submersos,
meus poemas fariam lei na ternura
de filhos abraçados nos regressos.

José António de Carvalho, 25-julho-2022
Foto da revista "Bula"





sábado, 16 de julho de 2022

Poema "LEMBRANÇA"


LEMBRANÇA



A lembrança mora
onde o tempo se repete,
despido pela memória
que finge o tempo quente.

É tão fria como o vazio
cravado em cada arrepio,
e a alma tanto clama
pelo calor de frágil chama.

Rebelde e inocente,
vai embora como a andorinha,
a rasgar caminho novamente
entre nuvens, mas sozinha…

E sonha mais uma vez
voltar à casa que fez
deixando p’ra trás a que tinha,
fazendo da velha a nova casinha.
Casas de que nunca se desfez…

José António de Carvalho, 11-julho-2022
Desenho de António Miranda







quarta-feira, 29 de junho de 2022

Poema "ALENTEJO, PORTUGAL"



ALENTEJO, PORTUGAL


Abraça-me loucamente
para me segurares à vida,
que vivo arduamente
como se estivesse perdida.

Ama-me docemente
como se o sol nascesse,
e se se põe precocemente
é como se não houvesse
mais razões p'ra ser vivida.

É assim que quero ficar
com este sonho no peito,
porque depois passa o efeito
da deliciosa bebida.

José António de Carvalho, 29-junho-2022
Foto de "Agricultura e Mar"












domingo, 12 de junho de 2022

Poema "CONTIGO"


CONTIGO


Contigo vêm os abraços,
Os beijos molhados,
O mar e as ondas,
E os corpos enrolados,

E vem o estio e o calor,
A água calma no rio,
E esta sede do amor.

E vem a música calma,
E o dia e a noite,
E a tempestade na alma.

E a volúpia acelerada
Que levita os sentidos,
Levanta as ondas do corpo
Entre surdos gemidos,
Enquanto o ventre espera…

E perde-se tudo do mundo
Quando atingimos o alto
Ao chegarmos ao fundo
Abraçados nesse salto
Que salta a Primavera
Quando o Verão se apodera.

José António de Carvalho, 11-junho-2022
Desenho de "Pinterest.pt/pin"


sábado, 11 de junho de 2022

Poema "NOSSA PÁTRIA"


NOSSA PÁTRIA


Nesta Pátria de Camões,
Lusos, quinhentos milhões;
Talvez mais, quem sabe?…
A chave com a qual se abre
Novas portas ao mundo.

Seta do fado e do poema,
No esplendor da sua beleza,
Nestes quatro e noutros cantos
Se canta: a língua portuguesa…

Traça o rumo da nossa Nação;
Que voa e navega em cada verso,
Levando os tesouros d’uma união,
Elos de oiro forjados p’la língua,
Fazendo nossos, povos irmãos,
Que a adotam e transformam,
Medida única de memória,
E nela se reescreve a história.

Levam-na no coração
Ao coração do mundo,
P’ró coração do Universo.
E no caminho sempre de ida,
Sempre em frente, rumo ó futuro,
Jamais terá queda ou regresso
Se transpõe e derruba, qualquer muro…

José António de Carvalho, 09-junho-2022
Certificado e menção de participação no Evento Poético "Somos Pátria", organizado pela poeta e amiga Graça Canhão.






quarta-feira, 1 de junho de 2022

Poema "UM DIA VOLTAREI AO MAR"


UM DIA VOLTAREI AO MAR


Levo todas as lembranças comigo
Atiradas p’rás bermas, na passagem,
P’la estrada da vida onde prossigo.
Gravuras e agruras duma viagem.

Regressarei sem ser reconhecido,
Porque os versos são músicas cantadas...
Harpas de cordas de ouro enobrecido
Sempre vibrantes às pontas dos dedos
Ligeiros p'las músicas já tocadas.

Farei que nasça um poema completo
Como o mar que sonha com o regresso
De luz e vida a esse mar tão concreto…
Sempre eterno e belo mar… e seu avesso.

José António de Carvalho, 01-junho-2022
Foto "Pinterest"





quinta-feira, 26 de maio de 2022

Poema "POESIA SUSPEITA"


POESIA SUSPEITA

Permanece diante de mim.
Deixa-me embaraçado comigo.
Torna-me num frágil adolescente,
Neste sentir pontiagudo, já antigo,
De vento a entrar pelo postigo.

Não vos inquieteis por eu ficar assim,
Que é defeito meu, eu vo-lo digo…

Se acordo por dentro de repente
A transbordar-me para um jardim,
De olhos esbugalhados de castigo
Por não prender cá dentro a semente
Germinada pelo contentamento sem fim
De querer aprender a ver-te assim.

É quando me quedo mudo. E repouso,
Ao faltarem-me as forças quando te ouso.

José António de Carvalho, 24-maio-2022
Pintura "Pinterest"



sábado, 14 de maio de 2022

Poema "O CALOR DA LUTA"


O CALOR DA LUTA

Se de mim escondes a flor
O que direi eu ao meu Deus?
Que beber de ti os pingos do amor
É subir da terra ao alto dos céus.

E se céus há mais do que um
O meu e o teu, e ainda outro,
E se buscamos ainda mais algum
É porque só dois nos sabe a pouco.

E ficamos a voar num largo sorriso
De pupilas em chamas e corpos quentes,
Depois da batalha corpo-a-corpo
Guardamos as armas ainda fumegantes,
Sob um céu que jamais será o de antes.

José António de Carvalho, 14-maio-2022
Pintura a óleo de "Light in Thebox"


quarta-feira, 20 de abril de 2022

Poema "ASA DE ABRIL"


ASA DE ABRIL



Pega numa flor, num cravo, ou rosa;
vê o filme do mundo, lê a prosa,
desse sonho a esvoaçar de verdade.
Ergue-te bem alto ó Liberdade!

Desenrola-te e perde o medo.
Deixa de ser um ideal, um segredo,
que nos flameja só por dentro.
Atinge-nos com o teu olhar atento!

Passeia-te neste mundo distraído
que explora e mata, sem ser punido,
como se fosse uma lúgubre savana,
em que o mais forte o fraco engana.
Isso é o terror vestido de modernidade…
Ergue-te bem alto ó Liberdade!

E não há maior traição que nos sirvam
do que a fome que a tantos obrigam,
e o roubo do suor a outros tantos
por aqueles que passam por “santos”.

E desse Abril só ficou a quimera,
e a beleza de cada nova Primavera,
que sempre nos traz brilho e cor,
que nos permite gritar com fervor:

- Ergue-te bem alto, ó Liberdade!!!


José António de Carvalho, 10-abril-2022
Foto: "Cultura de Rua"









sexta-feira, 15 de abril de 2022

Quase Poema " VIVER A PÁSCOA"



VIVER A PÁSCOA


Bebi uns copos.
Pesa-me a cabeça.
O corpo já pesava antes,
embora mais leve do que nunca…

É sexta-feira Santa,
mas foi dia de trabalho.

Quase ninguém lembrou a Paixão e Morte de Jesus.

Terá sido em vão?
- Foi!

Quero dizer:
- Não! Não foi!

Nem que apenas um único ser humano a lembre.

Nunca estive tão lúcido para o dizer:
Se o Homem não pensa na morte,
ignorando-a tão somente,
infligindo exploração, sofrimento
e abandono, a troco de míseros vinténs,
por vaidades e laivos de loucura, 
exibindo-se nos píncaros da avareza,
e com ela, a autodestruição, o exibicionismo,
o egoísmo, a ligeireza.

O desrespeito do congénere,
a ardileza na cama,
a comercialização do corpo,
a adulteração de valores,
a destruição da natureza.

A mentira da verdade, e a verdade mentirosa.
Sabe-se lá quantos outros sentimentos mais…

Já não me apetece escrever.
A solidão hoje mata-me.
Não consigo parar de pensar
no sofrimento de todos os “Jesus” que sofrem.

Venha a Páscoa para se fazer LUZ.
Que seja mesmo um dia Feliz,
porque a nossa felicidade cansa…

José António de Carvalho, 15-abril-2022
Foto "iStock"




quinta-feira, 7 de abril de 2022

Poema "OS MEUS DIAS DE SOL"


OS MEUS DIAS DE SOL


Quando olho para o mar
deixo-me sempre encantar
pelas avenidas dos sonhos,
e não os consigo parar.

São como pérolas pequeninas
ter as tuas mãos nas minhas
a aquecerem as palmas,
Atando assim as nossas almas.

Os teus lábios são sonhos rubros
que arrepiam o corpo todo.
E sempre que o tempo desce,
Esse, que não se esquece,
Faz-me bem, ao sonhar o dobro.

E fico muitos dias a cantar
o que de bom a vida tem,
Porque os que passo a chorar
não falo deles a ninguém.

José António de Carvalho, 14-fevereiro-2022
Foto de Conceição Silva







segunda-feira, 4 de abril de 2022

Poema "A POESIA É UM LUGAR"


A POESIA É UM LUGAR



Que não tem lugar certo;
é como um canal estreito
onde passam todas as letras
que jorram dum frágil peito
como água no deserto.

É ópio não sendo droga,
que também corre nas veias.
E quando nela te enleias
jamais consegues desatar
as cordas que te estão a atar.

Ela vagueia por aí,
aquém e além-mar,
até nos astros… que eu já vi,
noutros lugares em que ainda se sorri,
apesar de ninguém a apanhar.

José António de Carvalho, 03-abril-2022
Foto de "El sitio de noticias del Tecnológico de Monterrey"




quarta-feira, 23 de março de 2022

Poema "NUNCA QUISESTE"


NUNCA QUISESTE


Nunca quiseste sentir
o pulsar da terra húmida,
nem o fulgor das manhãs
a lançarem o sol na vida.

Nunca ousaste dizer
que o mundo parava
quando o dia bebia a luz
e a noite à noite sonhava.

Nunca sonhaste sonhar
com o dia a meio do meio-dia,
nem o que a noite sentia
com o rio adentrar o mar.

José António de Carvalho, 23-março-2022
Foto net.







sábado, 19 de março de 2022

Poema "PAI…" (19-03-2022)



PAI…


Conforto-me com o que ficou,
Se vem a crescer esta saudade.
As palavras mudam com a idade
Que o tempo já sem tempo gastou.

Dirias:
“Palavras para quê?”

Eu sei!…

Que os dias continuam a andar
Como galgos brancos nas florestas,
Correndo loucos entre as giestas,
Sem saberem quando parar.

É uma dura realidade...
Nos olhos, lágrimas de saudade.

Um abraço, PAI.

José António de Carvalho, 19-março-2022
Foto "Dreamstime"



segunda-feira, 14 de março de 2022

Poema "NA CURVA DO POEMA"

Poema da minha participação no 5º desafio 2022_ Criatividade sem Limites do Livro Aberto, subordinado ao tema: "Na Curva do Poema". Este desafio foi lançado aos autores, pela Ana Coelho, para as sessões do "Livro Aberto" de 11 e 18 de março-2022,  edição nº 5 de 2022, na Rádio Voz de Alenquer.


NA CURVA DO POEMA


Na sinusoide da vida
perco sempre as retas,
mas já fico contente
com pequenos segmentos,
que ficam sempre mais curtos,
se se perdem os comprimentos,
até se reduzirem a pontos.

Mas até os pontos desaparecem
se voarem as marcas no vento.
Nunca sonhei com as retas,
agora, nem com um segmento.

A vida também não é um círculo
pois não se volta à partida,
Entra-se nela em corrida
sem qualquer direção definida.

Na frente há um triângulo
como a ponta da lança
que o caminho vai desbravando,
e, ponto a ponto, lá avança.

Vem o retângulo, depois,
A definhar pelo caminho,
Se tinha lados iguais, a dois…
aos poucos vão-se encurtando
ficando só um quadradinho.

Vendo-se a vida pelo quadrado
perde-se o horizonte e o mar,
dois lados começam a esticar
surgindo o retângulo final.

Mas a poesia sem geometria
não mede o Homem, que afinal,
sem medo e sem hipocrisia:
Aceita esse fim de poema fatal.


José António de Carvalho, 10-março-2022
Foto Google





terça-feira, 8 de março de 2022

Poema "TU, MULHER" (Dia Internacional da MULHER - 2022)


TU, MULHER…

 

És margem direita,

rio e foz,

estuário com voz,

corrente afoita.

 

És delírio e proeza,

corpo cinzelado

p’los dedos moldado,

princípio da natureza.

 

És fogo e estio,

balada inocente,

Sol brando poente,

vela de navio.

 

És noite e dia,

também, sol nascente,

ângulo de diamante

a refletir alegria.

 

Parabéns!…

Hoje também é teu dia!!!!

 

José António de Carvalho, 08-março-2022

Pintura “Pinterest”



Muito obrigado, amiga das letras Maria João Braga!



domingo, 6 de março de 2022

Texto "A ALDEIA E O FUTURO"

Este foi o texto da minha participação no 4º desafio 2022_ Criatividade sem Limites do Livro Aberto. No qual tive que incluir as palavras: "Aldeias, pastoril, manhãs, vida, tintas, amoroso, misterioso, murmúrios, brancas, sibilantes, cântico", do poema "As Aldeias" de António Gomes Leal (Sec. XIX/XX). Quando escrevi o texto apenas conhecia as 11 palavras do desafio lançado pela Ana Coelho, no seu programa "Livro Aberto", edição 4 de 2022, da Rádio Voz de Alenquer.


A ALDEIA E O FUTURO

 

A subtração da vida nas ALDEIAS acelera o fim a cada dia que passa.

As MANHÃS BRANCAS, agora, só nos cânticos das pessoas quando acordam aos poucos, os poucos moradores da aldeia, com os sons SIBILANTES da VIDA PASTORIL na sua subida aos montes. Já não se distingue o tom do CÂNTICO AMOROSO do odioso. Tudo isso é imprevisível, nublado, até MISTERIOSO.

Há MURMÚRIOS e lamentos por todos os lados, pela idade da pessoa mais jovem do lugar, que conta já 64 anos. E é ele quem se encarrega de bem cedo levar os rebanhos para as pastagens.

Sobe aos montes o quase reformado, e ficam na aldeia os reformados. E todos, os cinco moradores, estão-se nas TINTAS para o terem filhos: -não querem mais filhos-. Importa agora os filhos das ovelhas e das cabras que lhes vão garantindo a vida. Todavia, pensando melhor, quem precisa de uma reforma é a “aldeia” do país.

 

José António de Carvalho, 03-março-2022


 


segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Poema "O PEITO"


O PEITO

 

É onde cai a formosura

das pétalas das flores

que subtilmente

vão descendo das árvores.

 

É onde sossega o sussurro

e cala o soluço

por entre o calor do afago

dum paraíso campestre

que adormece os deuses.

 

É onde se faz voar o sonho

que alimenta todo o corpo

para crescerem asas de outro voo.

 

É onde repousa o decote

na dormência da alma,

e se ancora o espírito

na impetuosidade dos lábios

de subirem os degraus

para uma outra dimensão:


É a morada do coração!...

 

José António de Carvalho, 28-fevereiro-2022

Pintura de Monteiro da Silva - ARTE CELANO - Grupo de Artistas




sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Poema "SERÁ PRIMAVERA?"


Poema lido hoje, sábado, 26-fevereiro-2022, na Rádio Cidade Hoje, no programa "As Nossas Raízes"  de Manuel Sanches e Suzy Mónica.


SERÁ PRIMAVERA?

 

Como pode haver Primavera

com os dias a acordarem na morte,

a caírem no refúgio das lágrimas,

a deslizarem na neve sem sorte…

 

Será uma Primavera doente,

no crescer das árvores oportunistas

imersa numa vaidade indecente

sedenta de horrendas conquistas

que mata o brilho do sol nascente.

 

José António de Carvalho, 25-fevereiro-2022

Foto "Hypeness"





sábado, 19 de fevereiro de 2022

Poema "SEGREDOS DO MAR"


SEGREDOS DO MAR

 

Sei lá por que razão

me perco nesse enrolar,

nas águas buliçosas,

rudes e estonteantes do mar.

 

Incólume de culpa

do arrepio salgado,

brejeiro e arrogante

de sentimento inflamado.

 

Quadro deslumbrante

que o Sol adormece,  

devasso da noite

que a Lua enlouquece;

e à sua fúria

o mundo estremece.

 

José António de Carvalho, 19-fevereiro-2022

Foto da minha autoria