sábado, 11 de outubro de 2025

Poema "TRECHOS DE UM DIÁRIO"


TRECHOS DE UM DIÁRIO
  
Carrego dias longos
e árvores cansadas,
campos dourados
que ainda sonham junho,
começos e finais de dias
de brisas mansas,
meses, anos e vidas
suspensos em fios por dentro.

Ainda me movem
as ilusões que vejo
de olhos fechados,
e a tua silhueta 
a fugir na pele das águas paradas
de longínquos mares secretos.

A liberdade,
só em sonho
a ela temos direito,
ou nos versos livres,
desamarrados de dogmas e costumes,
curados da mentira epidémica.

Já não sei se o que sinto
é água ou dor,
ou o alvoroço
do desmaio das flores
que vão murchando no tempo.

Mas sei que os cravos
são almas livres,
e que as rosas 
são brisas de perfume inebriante.

Sei que o respeito e o sorriso,
o olhar e o silêncio,
a mão e o seu calor,
também são mensagens de amor.

José António de Carvalho, 11-outubro-2025





segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Poema "SONHOS DE OUTONO"


SONHOS DE OUTONO

A luz nas tardes de outono
vai-se esvaindo na ternura
dum singelo sonho ou sono,
a quebrar a desventura.

Mas a noite transfigura-o
num plácido mar de gelo,
na mão o temor segura-o
por longas noites de apelo,

E ela virá deslumbrada,
do fim do tempo de ócio
na sua altiva chegada
para o próximo equinócio...

Minha primavera amada
quantos sonhos tu nos dás,
ideal de alma cansada
que busca o belo na paz.

José António de Carvalho, 29-setembro-2025
Foto "Pinterest"







quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Poema "OUTONO POETA"


OUTONO
POETA

O poeta vive a natureza.
Naturalmente, se apaixona
por toda a sua beleza.
Paixão que não abandona.

Vive a viajar nos astros
sem o pé sair da terra,
a gastar sapatos gastos
num sonho que não encerra.

No Inverno canta a neve
na ânsia que o frio passe,
e nos versos sempre pede
que a primavera o abrace.

Esse amor à primavera
é sentimento tão forte 
que o leva pela quimera
sempre fugindo da morte.

Tem o seu  auge no verão,
mas em si já tudo chora
p'la vinda doutra estação,
a que no próprio mora.

Ventos leves vão soprando
na alma, de si, entristecida,
e o outono vai chegando
empurrando-o mais na vida.

José António de Carvalho, 24-setembro-2025
Foto "Pinterest"




domingo, 21 de setembro de 2025

OPINIÃO: "EUROPA DÁ UMA "ABADA" A ZERO"



EUROPA DÁ UMA "ABADA" A ZERO
AOS GRANDES BLOCOS GEOPOLÍTICOS EXISTENTES

Vinha do trabalho, porque também trabalho ao domingo, no carro, a ouvir as notícias das 18h  da Rádio Renascença (RR), e fiquei a saber que Portugal e outros países, reconheceram ou vão reconhecer nos próximos dias o Estado da Palestina. E fizeram-no ou vão fazê-lo, precisamente, nos Estados Unidos, onde se realizará a conferência da ONU. 

Não importa quem fez a declaração em primeiro lugar (desta vez, parece que foi Portugal), a Espanha fê-lo há um ano atrás, ou quem fará no futuro, importa que sejam muitos estados, e que a Europa deu um primeiro passo de firmeza e verticalidade nos valores da ordem mundial: A PAZ E A LIBERDADE.

Ora, a posição que agora está a ser tomada por vários países da UE, na minha opinião de mero cidadão comum, atira o EUA para o desconforto da ambiguidade da sua posição, ao defender o país invasor (Israel) no médio Oriente, e  na guerra da Europa parece que apoia a Ucrânia, mas não se declara oposição prática à Rússia. Ou será que apoia no seu íntimo, e de forma não declarada, "os invasores" nas duas situações? Ainda mais gritante é o que acontece com a posição da Rússia, que defende os invadidos da Palestina e, ela própria, faz guerra para se impor na Ucrânia.

Cá para mim, Rússia e EUA, podem até ter um acordo secreto para um "fechar de olhos" ao que um e o outro faz, no Médio Oriente e na Ucrânia, para que não hajam grandes consequências práticas na relação entre os dois países e nos seus objetivos.  

Na prática, e ao largo de tudo isto, beneficia a China, com o enfraquecimento e a dispersão de recursos e atenções das potências que economicamente lhe podem fazer frente.

A posição portuguesa e europeia pode não ter grandes efeitos práticos, mas não deixa de ser a posição mais sensata, mais humana, e a única que é linear e aceitável: O FIM DA GUERRA ONDE QUER QUE HAJA GUERRA.

Por tudo isso, sejam os governos da cor política que forem, o mesmo em relação a partidos e organizações ou, até mesmo, o cidadão comum, devemos, penso eu, rever-nos na validação da posição europeia pela PAZ.

Um abraço pela PAZ.
Foto net "segurilatam.com"

   



terça-feira, 16 de setembro de 2025

Poema "OLHAR O MESMO MAR"





OLHAR
O MESMO MAR

Ah, que os olhos alcançam
as velas de longínquo sonho, 
onde o tempo vive parado
na imensidão desse mar salgado.

Se chamarem por mim
não sairei daqui.
Deixem-me por aqui ficar
a desfiar sonhos que sempre vivi,

ver os caminhos que não percorri,
para conseguir agora encontrar
a paz que procuro
em outro horizonte do mesmo mar.

José António de Carvalho, 16-setembro-2025
Foto da minha autoria


 

quinta-feira, 11 de setembro de 2025

Reflexão "VELHO"



VELHO

De que importam todas as tuas capacidades se estás velho?

Hoje, a idade não é um posto. Hoje, a idade é um desgosto.

És colocado de parte.
Não há beijos.
Não há sorrisos.
Não há carinho.
Não há toque.
Não há companhia. 
Não há saber acumulado.
Não há paciência.
Não há importância.
Não há céus, nem sonhos. 
Não há horizontes.
Só tens importância na utilidade. 
Não há mais nada.

Há apenas o fim.
Entretém-te a preparar o fim.
O teu fim só. E só no teu fim.
Dói?
Ninguém te mandou viver demais.

O pior, é que é uma roda que anda para todos. 

E quando te quiserem vender o contrário, não acredites. É apenas negócio.

Valha-te pelo menos o amor incondicional do teu cão,
a luz que te entra pela janela do sonho,
o sol que faz caminho pelos teus olhos a cada manhã:
através de um olhar,
um gesto,
uma palavra,
uma saudação,
uma música,
uma recordação, 
um poema,
um livro,
ou um sentimento que guardas como uma flor venerada no teu jardim interior;
já és feliz.

Já podes viver feliz.

Haja lucidez e memória.

José António de Carvalho, 11-setembro-2025
Foto "Pinterest"









quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Poema "SOBRESSALTO"



SOBRESSALTO

Já percorri muitos caminhos,
já perdi tempo,
já perdi tanto... 
Andei, ouvi, falei, escrevi,
até calado fiquei.

Do que ouvi ou li
houve sempre algo que ganhei, 
algo que sempre aprendi. 
Do que falei,
se calhar nada ensinei.
Do que escrevi,
a ninguém iluminei.
E tantas vezes me perdi.

Nesta "sócia" vida que temos,
ouvir o mais que pudermos.
Ter arte, esconder o pranto, 
fazer o caminho de desencanto,
fugindo ao lume do forno
onde se arde,
mesmo que morno.

Há lições que aprendi,
que me agitaram o ser,
de que o meu grito calado, 
mesmo ficando abafado,
dar-me-iam a paz
que sempre procurei,
que sempre pedi.
Mas se a tive,
nunca a senti.

José António de Carvalho, 10-setembro-2025
Imagem "Pinterest"










quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Poema "ROTINAS QUE MATAM"


ROTINAS QUE MATAM

Há uma porta entreaberta
entre o que fomos e o que somos.

Há um ritual divino em deixar passar
as ondas da imaginação que se levantam.

Ganham força as rotinas vãs
que moem os segundos que são de viver.

Mas o ponto de rutura vem na brisa,
e num ápice torna-se em vendaval,
lançando por terra todos os sonhos.

E lá voltamos a reaprender a edificar,
a colocar novas portas para depois abrir.

E faremos sempre as mesmas coisas
até que as forças se esfumem.

José António de Carvalho, 27-agosto-2025
Foto "Pinterest"




domingo, 24 de agosto de 2025

Texto Redondo "A VIDA É O QUE É"


A vida é o que é.

E não é motivo para  nos sentirmos melhores nem piores do que toda a gente. Somos o que somos, por termos aprendido, ou não, o que deveríamos e poderíamos, o que escolhera-mos ou permitira-mos que alguém tivesse escolhido por nós.

Vivemos o que vivemos, porque, face a todas a contingências e a nossa forma de ser e estar na vida, escolhemos e só tivemos oportunidade de viver dessa forma.

Não somos mais nem menos do que nós próprios, com todas as aprendizagens, com todos os erros e acertos nas escolhas, com todas as nossas capacidades e limitações, com tudo o que nos fora colocado à frente, oportunidades e dificuldades.

Aposto que se tivesse tido professores (em todas as áreas da vida, todos com quem aprendi) bem diferentes dos que tive, seria hoje uma pessoa também muito diferente. Melhor ou pior pessoa? Não se sabe. Ninguém o sabe, nem poderá dizer.

Portanto, não podemos nem devemos sentir-nos orgulhosos nem dececionados pelo que somos. Somos o que somos e não pode haver discussão. Ponto. Mas podemos mudar.

É a única coisa que podemos almejar: tentar melhorar de acordo com o que somos.  Sem que isso perturbe os outros ou nos faça sentir desconfortáveis perante nós mesmos. Façamo-lo convictamente.

Todos temos oportunidades de mudar. Que a mudança seja: Melhorar no futuro. Já, é passado. O  futuro é agora. A caminho da luz.

José António de Carvalho, 24-agosto-2025
Foto "Pinterest"



quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Poema "ENTRE GEMIDOS E FALAS"



ENTRE GEMIDOS E FALAS

As palavras desordenadas
nos lábios de cereja
e o delicioso suco
da longa madrugada
que a manhã beija

onde se perde tudo
para dar significado
a tudo se ter
e mais ainda se quer

A ramagem no chão
arrancada ao consentimento
vai despindo o sentimento
com o rodopiar da mão

O candeeiro estremece
na sombra que entontece
e a tontura diz, sim

Gritas e dizes, não
forçando o mundo ao movimento
e eu não fujo de mim
vou voando no vento

Denuncias-te ao meu ouvido
num tom embriagado
pelo tempo adormecido
Sim, agora... Sim

Estendemo-nos no universo
de mão dada, lado a lado
a sonhar e a sentir, que
o prazer de cada verso
no poema fora plantado.

José António de Carvalho, 21-agosto-2025
Foto de Shian Sood, pintura "Pinterest"
















 

















  

segunda-feira, 18 de agosto de 2025

Poema "SEREI INGRATO?"

(POEMA INSTANTÂNEO COMO OS PUDINS)


SEREI INGRATO?

Se me dissessem agora que estava a chover,
ficava tão agradecido às nuvens,
ao vapor de água;
à física, pela evaporação e pela condensação,
ao sol, pela ajuda na evaporação,
ao frio da altitude, pela condensação,
aos ventos, que juntam as nuvens,
à gravidade, que traz as gotas até nós.

Mas não. Não vou agradecer a ninguém.
Serei ingrato?
Talvez...

Mas julgo que não.
Simplesmente, não chove...
e a alma do nosso país continua a arder.

José António de Carvalho, 18-agosto-2025
Foto Pinterest




domingo, 10 de agosto de 2025

Poema "SE SOUBESSE SONHAR..."


SE SOUBESSE SONHAR...

Imagino-te na onda que vem do mar,
alcanço-te na espuma que te envolve os pés,
beijo-te na brisa fresca salpicada das ondas,
levito a meio, no seio do tempo que és.

Depois é noite, e...

É tempo de cair no negro regresso.
E na frescura da brisa, regelo,
na espuma que desaparece, perco-te,
na onda que volta ao mar, o sonho vai.

Recolho-me para me
ressignificar.

José António de Carvalho, 08-agosto-2025
Pintura de António Miranda



quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Poema "CINZAS"


CINZAS

Se ao menos fosse inverno
seria até acolhedor
estar dentro do inferno
e sentir-lhe o calor.

Mas não. É verão.
É um agosto ardente
indo além da razão,
um inferno no presente.

A chama imponente
a devorar a vida.
Ficam os despojos,
restos de nadas, cinza,

E os olhos mortos
de todos os que lutam,
não dos que mandam.
Esses, sorriem ainda...

Tragam água.
Tragam muita água,
para matar a dor
e afogar a mágoa
de viver este horror.

José António de Carvalho, 06-agosto-2025
Pintura de António Miranda - ARTE CELANO - Grupo de Artistas



quinta-feira, 31 de julho de 2025

Poema "DOR"


DOR

Há dias assim...

Com as palavras nas mãos
em frias manhãs de nevoeiro,
vindas de noites sem luares
p'lo fim da chama no luzeiro.

Dias que são como sem nada,
escusavam de ser sombrios,
podiam ter velas, navios
e toque de nova alvorada.

Os dias devem ter por regra
nascerem em manhãs Criança,
pularem na tarde finita
onde se ponha fim à guerra,
uma rocha em tão vil matança.

E se assim for...
A noite vem, e tanto faz
que haja ou não luar,
logo que haja amor,
haja pão, haja lar;
logo que haja PAZ.

José António de Carvalho, 31-julho-2025
Pintura de Monteiro da Silva - ARTE CELANO, Grupo de Artistas







sábado, 19 de julho de 2025

Poema "PERFEITA IMPERFEIÇÃO"


PERFEITA IMPERFEIÇÃO


Escrever acerca da mente humana
é como que escrever sobre o universo;
dois mundos surpreendentes, diversos.
Em ambos, a perfeição nos engana.

Dar conta de sonhos e anseios do Homem
é mergulhar em águas tão profundas;
águas cinzentas, escuras e inundas,
colérico degredo a quem as tomem.

Com ódio, sobranceria e ganância,
levam-nos nesta triste vida fora,
e vêm com os seus discursos, agora;
e na fome, as promessas de abundância.

Que sociedade esta, tão doente;
doença extrema, quase terminal.
Olhar bem dentro p'ra ver, afinal,
que caminho para seguir em frente.

José António de Carvalho, 19-julho-2025
Foto "Pinterest"






Poema: "AFRODITE, TU, DE CORPO NU"


AFRODITE, TU, DE CORPO NU

Eros eu. E tu, Afrodite, de corpo nu
a sentir os dedos de Cupido
tatearem sempre no sentido
de descobrirem o teu lago.

Lago que no teu largo prazer
aumente o caudal, e um mar
calmo de deleite passe a ser.

E quando a lua esconder a terra,
passaremos o desfiladeiro,
ouvindo a música calar o vento 
que vem dos montes da tua serra,
com o sol a inundar o rosto,
fazendo de agosto, o primeiro.

Ficamos a atar os sonhos que trago
aos que em ti geras no momento,
ludibriando as voltas dadas pela terra
no seu perpétuo movimento. 

José António de Carvalho, 15-julho-2025
Foto "Pinterest"



sábado, 12 de julho de 2025

Poema "CONTINUAR"


Poema lido por Suzy Mónica no programa "As Nossas Raízes" da Cidade Hoje Rádio, edição nº 1763, 12-julho-2025, a quem agradeço.


CONTINUAR

Por cada aurora que irrompa no horizonte,
por cada manhã que renove a esperança,
haverá sempre mais um dia
a escavar cruelmente
o caminho para a noite sombria.

E é na noite que cai o doloroso silêncio
que exige um revirar de fora para dentro,
onde a secura duma silhueta espelhada 
na lâmina da espada
dum estúpido ego, nos obriga a descansar
do peso de quem somos.

Não sei. Não sei. Não sei o que direi.
Provavelmente não direi nada.
Será mais sensato nada dizer.

Continuarei a fazer o que faço agora,
se não me esquecer de o fazer.

Continuarei a tentar encontrar os pedaços
que fui perdendo ao longo da viagem.
Essa já é uma exigente e árdua tarefa. 

E não tenho tempo.
Já não tenho tempo
para me perder nas sombras.

José António de Carvalho, 12-07-2025
Foto (Cai a noite) de António Miranda - Arte Celano, Grupo de Artistas 








domingo, 6 de julho de 2025

Poema "GRITEMOS: NÃO!!!"


GRITEMOS: NÃO!!!

Não! Não podemos deixar passar mais...
Esses mentirosos com ar de santos,
Que tudo destroem pela ganância
Do poder, e p'lo que roubam a tantos,
Matando famílias: filhos e pais;
Cujas vidas outrora foram festa.
Agora, são só cinzas pelos cantos.
O sol encoberto também atesta,
Que dor e morte já são tão usuais
Lançando-nos assim para a distância.
Também por medo não se manifesta
Grande revolta, ira ou repugnância.

José António de Carvalho, 06-julho-2025
Foto do Certificado "Fundación Amazonía Productiva - Poetas Intergalácticos, Equador"
 

quarta-feira, 2 de julho de 2025

Poema "ESTRANHEZAS"

Um poema à Maria Teresa Horta. Daí o título de um dos seus livros. 

ESTRANHEZAS 

Sigo a sul
para alcançar o norte.

Movo-me no centro
e perco-me nos enredos.

Mapeio com os dedos
o caminho a fazer. 

Cada vez mais perdido
apelo a outro sentido,

perguntando com a língua
onde fica o mar.

Responde-me Afrodite
que vá além do  limite

para ver os teus olhos
cerrarem-se de prazer,

sentindo a brisa
das ondas subir

e o mar sempre pronto
para as acolher. 

José António de Carvalho, 02-julho-2025
Foto Pinterest 



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quinta-feira, 26 de junho de 2025

Poema "DESERTO"


DESERTO


Entreguei as minhas guardas,
As minhas mãos, os meus dedos,
Trémulos de frio e medos,
Às horas das madrugadas.

Agora, olho para o tempo
vago na sua viagem,
Fazendo a sua passagem
Num rasto de desalento.

E não há qualquer ternura,
Nem as rosas perfumadas
viveram, foram cortadas
Por qualquer alma impura,

Fazendo o caminho perto,
Alcancei flores no oásis
Num fio de horas fugazes
Transformado num deserto.

José António de Carvalho, 25-junho-2025
Foto "Pinterest"



quinta-feira, 24 de abril de 2025

Poema "ABRIL, LIBERDADE E…"

Poema lido na Rádio Cidade Hoje, no programa "As Nossas Raízes", emissão de 26-abril-2025, pela Suzy Mónica, a quem agradeço. Agradeço também ao Sr. Manuel Sanches por ter integrado o poema no programa. .

ABRIL, LIBERDADE E…

Abre-te abril, sonha e brilha,
traz as flores do passado
nesse teu cravo esmerado,
que a esp’rança é tua filha.

Em cada aurora se canta
luz do hino dum sonho novo,
pátria gravada num povo
que o seu país agiganta.

É bom tê-lo assim na história,
mas queremo-lo semente
a eclodir constantemente
cada dia, e na memória.

E o país prosseguirá
para além de tudo isso
num sólido compromisso
que a liberdade verá.

Seguirá à nossa frente
hasteada na saudade
a bandeira da verdade
para cumprir Abril, sempre!

José António de Carvalho, 18-abril-2025
Pintura Pinterest



quinta-feira, 10 de abril de 2025

Poema "TEMPO"

PRAZER DA ESCRITA
2º desafio (LABIRINTO, RAMO, GATO) – Quarta-feira, 02-abril-2025

TEMPO

Caiu-me o cronómetro da vida no labirinto.
Perdi o tempo,
Perdi o mundo.
Quase perdi a poesia
Afogada no fio da areia
Que na ampulheta se esgotava.
Salvou-me um gato,
No seu impetuoso salto para caçar
A areia do rato do tempo,
Ao quebrar a ampulheta.

José António de Carvalho, 02-abril-2025
Foto Pinterest


segunda-feira, 7 de abril de 2025

Poema "QUARTO"

PROGRAMA "PRAZER DA ESCRITA"

4º desafio (QUARTO) – Sexta-feira, 04-abril-2025

Do meu quarto,
Vejo a lua em quarto crescente.
Também minguante,
vista do lado oposto.

Tal como a vida,
sempre cresce minguando. 
E não depende do lado
em que a observamos.


José António de Carvalho
Foto "Pinterest"









domingo, 2 de março de 2025

Poema "MENINA MULHER"

Poema da minha participação na Expoética 2025. Exposição que se insere na Braga Capital Europeia da Cultura 2025.


MENINA MULHER

Menina livre.
Menina que cresce
Por fora e por dentro,
Onde a vida acontece.

Menina que sonha,
Que faz e que veste,
Alimenta, e enaltece
Quem em si investe.
 
De este a oeste:
És Augusta dilema,
Romana e poema
De corpo silvestre.

De sul a norte:
És Mulher forte.
Mulher pioneira,
Bracara primeira,
Mais velha do que a Sé,
E de granítica fé.

Teus templos e santuários,
Altares do mundo crente,
Atraem tanta gente
De todos os lugares.

Tens na cabeça o Homem
Que no Cávado para.
E outro no teu ventre,
Este que é o Este,
Que a meio te separa.  

Gigante pequenina
Deste enorme mundo,
Ensaia, repete, ensina,
Confirma e assina:

Braga da porta nova,
Braga arsenalista,
Braga da memória,
Do labor e do amor;

Braga eclética,
Da Pátria,
Da Expoética;
Braga que faz…

Cidade Vida e Paz.

José António de Carvalho, 19-janeiro-2025
Foto da Expoética 2025








  

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

TEXTO "NÃO SE MATE A SAUDADE"


NÃO SE MATE A SAUDADE

Muita gente fica feliz e diz que matou as saudades… Saudades de um amor, de um pai, de um filho, de um momento, acontecimento ou lugar, de um animal, ou de uma árvore.

Não digo isso. Eu quero que as saudades sejam vivas. E que vivam aqui, mesmo ao meu lado, e me vejam triste ou feliz, ou assim-assim.

As saudades ficam felizes se estivermos felizes, e dançam connosco cada momento da vida, ou choram connosco a dor que deixámos ou a que carregamos ainda. A saudade é uma penumbra emocional, vive e sente exatamente como nós.

Apenas temos entre nós e a saudade o intrometido tempo. Tido como: o inexorável e o implacável. O tempo sem rosto, o do princípio e do fim. O tempo do durante não se mede. Esse é fugaz, é o ápice. Está para ser e já foi.

O tempo é a distância sem medida que nos impomos agarrados às memórias. E nós vamos-lhe dando a natureza, a qualidade, e a intensidade do sentimento em cada momento.

Por tudo isto, nunca deixemos que se mate a saudade.

José António de Carvalho, 19-fevereiro-2025
Foto "Pinterest"







terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

Poema "PRENDER O SONHO"


PRENDER O SONHO

Sonhei-te a pele
poro a poro,
linha a linha,
o verso e seu inverso.

Sonhei-te os lábios,
os beijos suaves,
o sorriso interior
num poema maior.

E sonhei-te os olhos,
os cabelos a voarem,
e as mãos tão suaves
a desenharem claves
no começo da partitura.

Escondi o calor do corpo
num arrepio de ternura
ao vislumbrar a claridade
do dia na noite escura.

E desci, desci…
na indómita vontade
de manter este sonho
bem colado a mim,
e longe da realidade.

José António de Carvalho, 10-fevereiro-2025
Pintura "Pinterest"



quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

Poema "A MARIA TERESA HORTA"


A MARIA TERESA HORTA (N: 20-05-1937; M: 04-02-2025)

Os teus poemas
são cheias de rio
no calor dos verões.

São espadas em punho
erguidas à intensa luz
do sol do mês de junho.

São a pele do corpo
o sangue, a carne
a voracidade das palavras.

São espelhos da mente
de uma alma condizente
na encruzilhada das estradas.

São os vetores da ligação
do prazer e do coração
de quem não é cobarde, 

fenómenos de paixão
em tempo de repressão 
da poesia 
que arde

e seiva penetrante
de poema inebriante
no final de qualquer tarde.

José António de Carvalho, 05-fevereiro-2025
Foto da autora - site da CM Póvoa de Varzim



domingo, 2 de fevereiro de 2025

Poema "AQUI E AGORA" (Soneto)


AQUI E AGORA

Corre como quem foge a ventos frios
Que a vida é em ti que se demora.
Eu sempre rezo para que chegue a hora
De abarcar em meus braços os teus rios.

Se te atrasas, minha alma triste chora
Tantos soluços surdos e arrepios,
Querendo o fim dos dias tão sombrios
P'ra ver a luz dos versos vida fora.

Por que razão andar por outra linha
Que nos leve por onde ela definha?
Se a vida nos ensina a ir pelo agora... 

Vou chamar-te bem alto e sem rodeios.
Tu, quem me satisfaz simples anseios:
Vem Primavera, vem! Sou quem te implora.

José António de Carvalho, 02-fevereiro-2025
Imagem Pinterest