quinta-feira, 10 de abril de 2025

Poema "TEMPO"

PRAZER DA ESCRITA
2º desafio (LABIRINTO, RAMO, GATO) – Quarta-feira, 02-abril-2025

TEMPO

Caiu-me o cronómetro da vida no labirinto.
Perdi o tempo,
Perdi o mundo.
Quase perdi a poesia
Afogada no fio da areia
Que na ampulheta se esgotava.
Salvou-me um gato,
No seu impetuoso salto para caçar
A areia do rato do tempo,
Ao quebrar a ampulheta.

José António de Carvalho, 02-abril-2025
Foto Pinterest


segunda-feira, 7 de abril de 2025

Poema "QUARTO"

PROGRAMA "PRAZER DA ESCRITA"

4º desafio (QUARTO) – Sexta-feira, 04-abril-2025

Do meu quarto,
Vejo a lua em quarto crescente.
Também minguante,
vista do lado oposto.

Tal como a vida,
sempre cresce minguando. 
E não depende do lado
em que a observamos.


José António de Carvalho
Foto "Pinterest"









domingo, 2 de março de 2025

Poema "MENINA MULHER"

Poema da minha participação na Expoética 2025. Exposição que se insere na Braga Capital Europeia da Cultura 2025.


MENINA MULHER

Menina livre.
Menina que cresce
Por fora e por dentro,
Onde a vida acontece.

Menina que sonha,
Que faz e que veste,
Alimenta, e enaltece
Quem em si investe.
 
De este a oeste:
És Augusta dilema,
Romana e poema
De corpo silvestre.

De sul a norte:
És Mulher forte.
Mulher pioneira,
Bracara primeira,
Mais velha do que a Sé,
E de granítica fé.

Teus templos e santuários,
Altares do mundo crente,
Atraem tanta gente
De todos os lugares.

Tens na cabeça o Homem
Que no Cávado para.
E outro no teu ventre,
Este que é o Este,
Que a meio te separa.  

Gigante pequenina
Deste enorme mundo,
Ensaia, repete, ensina,
Confirma e assina:

Braga da porta nova,
Braga arsenalista,
Braga da memória,
Do labor e do amor;

Braga eclética,
Da Pátria,
Da Expoética;
Braga que faz…

Cidade Vida e Paz.

José António de Carvalho, 19-janeiro-2025
Foto da Expoética 2025








  

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

TEXTO "NÃO SE MATE A SAUDADE"


NÃO SE MATE A SAUDADE

Muita gente fica feliz e diz que matou as saudades… Saudades de um amor, de um pai, de um filho, de um momento, acontecimento ou lugar, de um animal, ou de uma árvore.

Não digo isso. Eu quero que as saudades sejam vivas. E que vivam aqui, mesmo ao meu lado, e me vejam triste ou feliz, ou assim-assim.

As saudades ficam felizes se estivermos felizes, e dançam connosco cada momento da vida, ou choram connosco a dor que deixámos ou a que carregamos ainda. A saudade é uma penumbra emocional, vive e sente exatamente como nós.

Apenas temos entre nós e a saudade o intrometido tempo. Tido como: o inexorável e o implacável. O tempo sem rosto, o do princípio e do fim. O tempo do durante não se mede. Esse é fugaz, é o ápice. Está para ser e já foi.

O tempo é a distância sem medida que nos impomos agarrados às memórias. E nós vamos-lhe dando a natureza, a qualidade, e a intensidade do sentimento em cada momento.

Por tudo isto, nunca deixemos que se mate a saudade.

José António de Carvalho, 19-fevereiro-2025
Foto "Pinterest"







terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

Poema "PRENDER O SONHO"


PRENDER O SONHO

Sonhei-te a pele
poro a poro,
linha a linha,
o verso e seu inverso.

Sonhei-te os lábios,
os beijos suaves,
o sorriso interior
num poema maior.

E sonhei-te os olhos,
os cabelos a voarem,
e as mãos tão suaves
a desenharem claves
no começo da partitura.

Escondi o calor do corpo
num arrepio de ternura
ao vislumbrar a claridade
do dia na noite escura.

E desci, desci…
na indómita vontade
de manter este sonho
bem colado a mim,
e longe da realidade.

José António de Carvalho, 10-fevereiro-2025
Pintura "Pinterest"



quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

Poema "A MARIA TERESA HORTA"


A MARIA TERESA HORTA (N: 20-05-1937; M: 04-02-2025)

Os teus poemas
são cheias de rio
no calor dos verões.

São espadas em punho
erguidas à intensa luz
do sol do mês de junho.

São a pele do corpo
o sangue, a carne
a voracidade das palavras.

São espelhos da mente
de uma alma condizente
na encruzilhada das estradas.

São os vetores da ligação
do prazer e do coração
de quem não é cobarde, 

fenómenos de paixão
em tempo de repressão 
da poesia 
que arde

e seiva penetrante
de poema inebriante
no final de qualquer tarde.

José António de Carvalho, 05-fevereiro-2025
Foto da autora - site da CM Póvoa de Varzim



domingo, 2 de fevereiro de 2025

Poema "AQUI E AGORA" (Soneto)


AQUI E AGORA

Corre como quem foge a ventos frios
Que a vida é em ti que se demora.
Eu sempre rezo para que chegue a hora
De abarcar em meus braços os teus rios.

Se te atrasas, minha alma triste chora
Tantos soluços surdos e arrepios,
Querendo o fim dos dias tão sombrios
P'ra ver a luz dos versos vida fora.

Por que razão andar por outra linha
Que nos leve por onde ela definha?
Se a vida nos ensina a ir pelo agora... 

Vou chamar-te bem alto e sem rodeios.
Tu, quem me satisfaz simples anseios:
Vem Primavera, vem! Sou quem te implora.

José António de Carvalho, 02-fevereiro-2025
Imagem Pinterest







terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Poema "FLORES DO PENSAMENTO"


FLORES DO PENSAMENTO


As lindas flores que trazes no olhar
Neste tímido final de janeiro
São fruta madura desse pomar,

Que amadureceu ainda antes de florir
Como os cravos livres que hão de abrir
Em abril, e perfumar o ano inteiro.

E não sabemos cantar a outra flor
Que não seja a liberdade e o amor.

José António de Carvalho, 27-janeiro-2025



sábado, 25 de janeiro de 2025

Poema "LUZ TRÉMULA"


LUZ TRÉMULA

Ao som das trombetas
E no meio dos silêncios
Vivo num mundo vasto,
Repleto de gente
A avançar para além.

Promessas de horizonte
Na auréola da retina.
E sempre a luz trémula
Presa ao pavio
A queimar os pés no fio.

Fica o ruído da porta
Que quase se fecha
E uma pequena fresta
Por onde o ar entra.

É essa pequena brecha
Que ainda permite ver
O tremeluzir da chama
Que teima em alumiar
O caminho a fazer.

José António de Carvalho, 26-janeiro-2025








quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

Poema "PRIMEIRA E ÚNICA VEZ"


PRIMEIRA E ÚNICA VEZ


Foram mais doze lançados ó tempo,
E vergados nesse ondular do vento
Que andaram juntando a perder de si.

Mas estes doze que agora queremos
Sejam luz no desenrolar da roca,
Da falsa roca que na vida temos.

E se a uns pode levar, nos deixe aqui,
Sem lugar a enganos ou qualquer troca
E não choremos pelo andar da roca.

Porque, se só vivemos uma vez,
Se ela sempre desfaz tudo o que fez…
Viver: Aqui e Agora; seja pra sempre

A nossa primeira e a única vez.

José António de Carvalho, 02-janeiro-2025
Foto "Pinterest"