REVELO-ME ATRAVÉS DE SIMPLES VERSOS (Reservados os direitos de autor)
sexta-feira, 19 de agosto de 2022
Poema "FUTILIDADES"
FUTILIDADES
Sei lá de onde vem o sentimento
Que se empoleira nos caminhos da vida
E leva para longe o que está perto,
E quer à força os ventos dos desertos.
Sei lá porque é que o amor é vulnerável,
E a vulnerabilidade e o amor são parceiros
Dos dias e das noites, do nascer e do pôr-do-sol.
E a vida fica toda preenchida de inutilidades.
Coisas inúteis, sentimentos inúteis, e futilidades…
E agarramos isso para lhe darmos a importância
De urdir todas as teias e tecer todas as vidas.
E é tão somente a mais que comum cobardia.
É delicioso o sol nascer depois de se ter posto…
José António de Carvalho, 19 agosto-2022
quinta-feira, 18 de agosto de 2022
Poema "OLHARES A CORES" - Coletânea "Invisíveis olhares" RVA
OLHARES A CORES
Imagino a vida a cores
Pintada suavemente
Pelos dedos voadores
Que percebem fielmente
A razão dos pormenores.
Olho longe, sempre em frente,
Abraço as nuvens, e a luz
Que o Sol dá a toda a gente,
A quem me guia e conduz
No respeito mais silente.
Ouço o romance das flores,
Vejo a mudez das nações,
Mordo a fome, calo horrores,
Surdas notas das canções.
Vejo tudo. E do que vejo,
Sendo pouco mais que nada,
É bem mais do que o desejo
De nascer na madrugada.
O poema será um livro;
Um livro livre de medos,
Um coração livre e vivo,
Frágil barco destemido
Guiado pelos meus dedos.
José António de Carvalho, 30-junho-2022
quarta-feira, 3 de agosto de 2022
Poema "POVO QUE LAVAVAS NO RIO"
POVO QUE LAVAVAS NO RIO
Povo que lavavas no rio,
Talhaste com o conhecimento
As tábuas do teu caixão.
Pode ser que te arrependas
Do que fazes, e são ofensas
Que todas as vidas levarão.
Os que comem à mesa redonda
Onde nunca faltou o pão
Afundam-se no ganho e no ter,
Por troca do que é ser
Filhos na mesma condição.
Mas há quem não se esconda
De alertar a bons pulmões
Dos interesses em negociações
Que lavam a morte do futuro
Sem qualquer compaixão.
Ficarão secos e agrestes
Os solos, os rios, e as vestes
De quem sonha na cama.
E numa nova condição,
Em que o amor se derrama,
Faça-se da vida a grande arma,
Em verdade, de irmão para irmão.
José António de Carvalho, 03-agosto-2022
segunda-feira, 25 de julho de 2022
Poema "UMA FÉ"
Sentes dos meus braços todo o calor
que vem da montanha, bem lá do alto,
nesse regato fresco que, de salto em salto,
quer transformar-se num mar de amor?
Então viajas no tempo do mar,
no das estrelas, vezes ao dia,
da natureza e do sol, quem lhes confia
a alma e a vida, a fé dum novo acordar.
Se a minha boca brotasse a doçura
Desse olhar de palavras mães dos versos
que no meu coração moram submersos,
meus poemas fariam lei na ternura
de filhos abraçados nos regressos.
José António de Carvalho, 25-julho-2022
sábado, 16 de julho de 2022
Poema "LEMBRANÇA"
LEMBRANÇA
A lembrança mora
onde o tempo se repete,
despido pela memória
que finge o tempo quente.
É tão fria como o vazio
cravado em cada arrepio,
e a alma tanto clama
pelo calor de frágil chama.
Rebelde e inocente,
vai embora como a andorinha,
a rasgar caminho novamente
entre nuvens, mas sozinha…
E sonha mais uma vez
voltar à casa que fez
deixando p’ra trás a que tinha,
fazendo da velha a nova casinha.
Casas de que nunca se desfez…
José António de Carvalho, 11-julho-2022
quarta-feira, 29 de junho de 2022
Poema "ALENTEJO, PORTUGAL"
domingo, 12 de junho de 2022
Poema "CONTIGO"
CONTIGO
Contigo vêm os abraços,
Os beijos molhados,
O mar e as ondas,
E os corpos enrolados,
E vem o estio e o calor,
A água calma no rio,
E esta sede do amor.
E vem a música calma,
E o dia e a noite,
E a tempestade na alma.
E a volúpia acelerada
Que levita os sentidos,
Levanta as ondas do corpo
Entre surdos gemidos,
Enquanto o ventre espera…
E perde-se tudo do mundo
Quando atingimos o alto
Ao chegarmos ao fundo
Abraçados nesse salto
Que salta a Primavera
Quando o Verão se apodera.
José António de Carvalho, 11-junho-2022
sábado, 11 de junho de 2022
Poema "NOSSA PÁTRIA"
NOSSA PÁTRIA
Nesta Pátria de Camões,
Lusos, quinhentos milhões;
Talvez mais, quem sabe?…
A chave com a qual se abre
Novas portas ao mundo.
Seta do fado e do poema,
No esplendor da sua beleza,
Nestes quatro e noutros cantos
Se canta: a língua portuguesa…
Traça o rumo da nossa Nação;
Que voa e navega em cada verso,
Levando os tesouros d’uma união,
Elos de oiro forjados p’la língua,
Fazendo nossos, povos irmãos,
Que a adotam e transformam,
Medida única de memória,
E nela se reescreve a história.
Levam-na no coração
Ao coração do mundo,
P’ró coração do Universo.
E no caminho sempre de ida,
Sempre em frente, rumo ó futuro,
Jamais terá queda ou regresso
Se transpõe e derruba, qualquer muro…
José António de Carvalho, 09-junho-2022
quarta-feira, 1 de junho de 2022
Poema "UM DIA VOLTAREI AO MAR"
UM DIA VOLTAREI AO MAR
Levo todas as lembranças comigo
Atiradas p’rás bermas, na passagem,
P’la estrada da vida onde prossigo.
Gravuras e agruras duma viagem.
Regressarei sem ser reconhecido,
Porque os versos são músicas cantadas...
Harpas de cordas de ouro enobrecido
Sempre vibrantes às pontas dos dedos
Ligeiros p'las músicas já tocadas.
Farei que nasça um poema completo
Como o mar que sonha com o regresso
De luz e vida a esse mar tão concreto…
Sempre eterno e belo mar… e seu avesso.
José António de Carvalho, 01-junho-2022
quinta-feira, 26 de maio de 2022
Poema "POESIA SUSPEITA"
POESIA SUSPEITA
Permanece diante de mim.
Deixa-me embaraçado comigo.
Torna-me num frágil adolescente,
Neste sentir pontiagudo, já antigo,
De vento a entrar pelo postigo.
Não vos inquieteis por eu ficar assim,
Que é defeito meu, eu vo-lo digo…
Se acordo por dentro de repente
A transbordar-me para um jardim,
De olhos esbugalhados de castigo
Por não prender cá dentro a semente
Germinada pelo contentamento sem fim
De querer aprender a ver-te assim.
É quando me quedo mudo. E repouso,
Ao faltarem-me as forças quando te ouso.
José António de Carvalho, 24-maio-2022
sábado, 14 de maio de 2022
Poema "O CALOR DA LUTA"
O CALOR DA LUTA
Se de mim escondes a flor
O que direi eu ao meu Deus?
Que beber de ti os pingos do amor
É subir da terra ao alto dos céus.
E se céus há mais do que um
O meu e o teu, e ainda outro,
E se buscamos ainda mais algum
É porque só dois nos sabe a pouco.
E ficamos a voar num largo sorriso
De pupilas em chamas e corpos quentes,
Depois da batalha corpo-a-corpo
Guardamos as armas ainda fumegantes,
Sob um céu que jamais será o de antes.
José António de Carvalho, 14-maio-2022
quarta-feira, 20 de abril de 2022
Poema "ASA DE ABRIL"
ASA DE ABRIL
Pega numa flor, num cravo, ou rosa;
vê o filme do mundo, lê a prosa,
desse sonho a esvoaçar de verdade.
Ergue-te bem alto ó Liberdade!
Desenrola-te e perde o medo.
Deixa de ser um ideal, um segredo,
que nos flameja só por dentro.
Atinge-nos com o teu olhar atento!
Passeia-te neste mundo distraído
que explora e mata, sem ser punido,
como se fosse uma lúgubre savana,
em que o mais forte o fraco engana.
E não há maior traição que nos sirvam
do que a fome que a tantos obrigam,
e o roubo do suor a outros tantos
por aqueles que passam por “santos”.
E desse Abril só ficou a quimera,
e a beleza de cada nova Primavera,
que sempre nos traz brilho e cor,
que nos permite gritar com fervor:
- Ergue-te bem alto, ó Liberdade!!!
José António de Carvalho, 10-abril-2022
sexta-feira, 15 de abril de 2022
Quase Poema " VIVER A PÁSCOA"
VIVER A PÁSCOA
Bebi uns copos.
Pesa-me a cabeça.
O corpo já pesava antes,
embora mais leve do que nunca…
É sexta-feira Santa,
mas foi dia de trabalho.
Quase ninguém lembrou a Paixão e Morte de Jesus.
- Foi!
Quero dizer:
- Não! Não foi!
Nem que apenas um único ser humano a lembre.
Nunca estive tão lúcido para o dizer:
Se o Homem não pensa na morte,
ignorando-a tão somente,
infligindo exploração, sofrimento
e abandono, a troco de míseros vinténs,
exibindo-se nos píncaros da avareza,
e com ela, a autodestruição, o exibicionismo,
o egoísmo, a ligeireza.
O desrespeito do congénere,
a ardileza na cama,
a comercialização do corpo,
a destruição da natureza.
A mentira da verdade, e a verdade mentirosa.
Sabe-se lá quantos outros sentimentos mais…
Já não me apetece escrever.
A solidão hoje mata-me.
Não consigo parar de pensar
no sofrimento de todos os “Jesus” que sofrem.
Venha a Páscoa para se fazer LUZ.
Que seja mesmo um dia Feliz,
porque a nossa felicidade cansa…
José António de Carvalho, 15-abril-2022
quinta-feira, 7 de abril de 2022
Poema "OS MEUS DIAS DE SOL"
OS MEUS DIAS DE SOL
Quando olho para o mar
deixo-me sempre encantar
pelas avenidas dos sonhos,
e não os consigo parar.
São como pérolas pequeninas
ter as tuas mãos nas minhas
a aquecerem as palmas,
Atando assim as nossas almas.
Os teus lábios são sonhos rubros
que arrepiam o corpo todo.
E sempre que o tempo desce,
Esse, que não se esquece,
Faz-me bem, ao sonhar o dobro.
E fico muitos dias a cantar
o que de bom a vida tem,
Porque os que passo a chorar
não falo deles a ninguém.
José António de Carvalho, 14-fevereiro-2022
segunda-feira, 4 de abril de 2022
Poema "A POESIA É UM LUGAR"
A POESIA É UM LUGAR
Que não tem lugar certo;
é como um canal estreito
onde passam todas as letras
que jorram dum frágil peito
como água no deserto.
É ópio não sendo droga,
que também corre nas veias.
E quando nela te enleias
jamais consegues desatar
as cordas que te estão a atar.
Ela vagueia por aí,
aquém e além-mar,
até nos astros… que eu já vi,
noutros lugares em que ainda se sorri,
apesar de ninguém a apanhar.
José António de Carvalho, 03-abril-2022
quarta-feira, 23 de março de 2022
Poema "NUNCA QUISESTE"
NUNCA QUISESTE
Nunca quiseste sentir
o pulsar da terra húmida,
nem o fulgor das manhãs
a lançarem o sol na vida.
Nunca ousaste dizer
que o mundo parava
quando o dia bebia a luz
e a noite à noite sonhava.
Nunca sonhaste sonhar
com o dia a meio do dia,
nem o que a noite sentia
com o rio adentrar o mar.
José António de Carvalho, 23-março-2022
sábado, 19 de março de 2022
Poema "PAI…" (19-03-2022)
PAI…
Conforto-me com o que ficou,
Se vem a crescer esta saudade.
As palavras mudam com a idade
Que o tempo já sem tempo gastou.
Dirias:
“Palavras para quê?”
segunda-feira, 14 de março de 2022
Poema "NA CURVA DO POEMA"
Poema da minha participação no 5º desafio 2022_ Criatividade sem Limites do Livro Aberto, subordinado ao tema: "Na Curva do Poema". Este desafio foi lançado aos autores, pela Ana Coelho, para as sessões do "Livro Aberto" de 11 e 18 de março-2022, edição nº 5 de 2022, na Rádio Voz de Alenquer.
NA CURVA DO POEMA
Na sinusoide da vida
perco sempre as retas,
mas já fico contente
com pequenos segmentos,
que ficam sempre mais curtos,
se se perdem os comprimentos,
até se reduzirem a pontos.
Mas até os pontos desaparecem
se voarem as marcas no vento.
Nunca sonhei com as retas,
agora, nem com um segmento.
A vida também não é um círculo
pois não se volta à partida,
Entra-se nela em corrida
sem qualquer direção definida.
Na frente há um triângulo
como a ponta da lança
que o caminho vai desbravando,
e, ponto a ponto, lá avança.
Vem o retângulo, depois,
A definhar pelo caminho,
Se tinha lados iguais, a dois…
aos poucos vão-se encurtando
ficando só um quadradinho.
Vendo-se a vida pelo quadrado
perde-se o horizonte e o mar,
dois lados começam a esticar
surgindo o retângulo final.
Mas a poesia sem geometria
não mede o Homem, que afinal,
sem medo e sem hipocrisia:
Aceita esse fim de poema fatal.
José António de Carvalho, 10-março-2022
Foto Google
terça-feira, 8 de março de 2022
Poema "TU, MULHER" (Dia Internacional da MULHER - 2022)
TU, MULHER…
És margem direita,
rio e foz,
estuário com voz,
corrente afoita.
És delírio e proeza,
corpo cinzelado
p’los dedos moldado,
princípio da natureza.
És fogo e estio,
balada inocente,
Sol brando poente,
vela de navio.
És noite e dia,
também, sol nascente,
ângulo de diamante
a refletir alegria.
Parabéns!…
Hoje também é teu dia!!!!
José António de Carvalho, 08-março-2022
Pintura “Pinterest”
Muito obrigado, amiga das letras Maria João Braga!
domingo, 6 de março de 2022
Texto "A ALDEIA E O FUTURO"
A ALDEIA E O FUTURO
A subtração da vida nas ALDEIAS
acelera o fim a cada dia que passa.
As MANHÃS BRANCAS, agora, só nos
cânticos das pessoas quando acordam aos poucos, os poucos moradores da aldeia, com
os sons SIBILANTES da VIDA PASTORIL na sua subida aos montes. Já não se
distingue o tom do CÂNTICO AMOROSO do odioso. Tudo isso é imprevisível, nublado,
até MISTERIOSO.
Há MURMÚRIOS e lamentos por
todos os lados, pela idade da pessoa mais jovem do lugar, que conta já 64 anos.
E é ele quem se encarrega de bem cedo levar os rebanhos para as pastagens.
Sobe aos montes o quase
reformado, e ficam na aldeia os reformados. E todos, os cinco moradores, estão-se
nas TINTAS para o terem filhos: -não querem mais filhos-. Importa agora os
filhos das ovelhas e das cabras que lhes vão garantindo a vida. Todavia,
pensando melhor, quem precisa de uma reforma é a “aldeia” do país.
José António de Carvalho,
03-março-2022