4º desafio (QUARTO) – Sexta-feira, 04-abril-2025
Vejo a lua em quarto crescente.
Também minguante,
vista do lado oposto.
Tal como a vida,
sempre cresce minguando.
E não depende do lado
em que a observamos.
José António de Carvalho
REVELO-ME ATRAVÉS DE SIMPLES VERSOS (Reservados os direitos de autor)
4º desafio (QUARTO) – Sexta-feira, 04-abril-2025
PROCURA
Procuro-te nos barcos
de velas içadas ao vento,
nas proas levantadas
a rasgarem mares
de dores e desalento.
Nos travos de alegria
bebidos dum sonho
pintado a branco.
Mas depois aponho
que são apenas fantasia.
Procuro-te assim
sem rumo, sem norte,
a poucas páginas do fim…
Páginas gastas, amareladas,
que dizem tudo de mim
e também da minha sorte.
RUMORES DA POESIA
Onde guardas a palavra que me disseste, e que me fez descobrir a doçura de fruta que as palavras podem ter?
Que silêncio secreto é este,
que se abafa nas folhas de um livro guardado que nos faz voar quando o abrimos?
Diz-me com que jeito te pegue
nas mãos, para procurar as palavras que bailam na tona das águas calmas do mar?
E quando alcanço o pensamento das
árvores em rumor deste íngreme monte, onde é que repousas os silêncios dos
versos dos teus poemas?
Oh… deixa-me ficar a
contemplar o sol através da folhagem do pensamento, saciando-me a beber todas as
gotas de poesia que vão caindo.
Deixa-me ficar assim… Tão
perto do que é distante.
Texto que integra a Antologia de Natal - 2024, Chiado Editora.
NATAL NO RIO
Corre no rio da vida um mar de histórias reais verdadeiramente surreais, mais surreais do que a própria real racionalidade suporia, parecendo a mais pura ficção aquecida, horrivelmente testada e subtilmente não explicada.
Ora, a ficção da realidade é
um útil opiáceo para o Homem, fazendo-o acreditar, andar, transformar-se,
crescer e reproduzir-se. Crescer como um rio, que surge das singelas gotas de
água lacrimejadas pelo ventre da terra e que se vão juntando até formarem um
fino fio de água, dando as mãos a outras tantas gotinhas, e outras, e outros
tantos mais fios de água, até formarem um caudal generoso designado por rio.
Malogradas, muitas delas não sabem porque estendem a mão ou porque dão a mão.
Apenas o fazem porque as outras também o fazem.
Como se sabe, o rio corre
sempre aumentando o seu caudal através das afluências que chama a si, e por si
vai deslizando de forma incorrigível até outro rio ou até ao mar. E no mar,
tudo o que é lançado dilui-se na sua grandiosidade e perigosidade.
Nós, neste mar turbulento e
turvo de ódio, ganância e guerra, não podemos nunca perder de vista o horizonte da
nascente do rio, a nascente da água pura da vida inocente e frágil, da vista
imaculada e sonhadora do menino que olha com angústia e tristeza para este rio,
que no seu curso vai perdendo pureza e vai-se transformando numa mixórdia de
águas impróprias.
Somos águas em movimento de um
rio tendencialmente em degeneração de virtudes. Não deixemos morrer a criança
que ainda pode viver em nós. Alimentemo-la todos os dias.
Olhando para a corrente do rio
que somos, que aprendamos a conviver melhor com as nossas próprias margens e
limites, com os nossos peixes, com as nossas plantas, com a biodiversidade que
nos circunda, e com a nossa própria essência. Só assim o menino terá um brilhozinho
de esperança nos seus olhitos.
Feliz Natal todos os dias!
FÉRIAS DE SONHO OU DOS SONHOS?
Com as férias quase a terminarem, são sempre poucos dias e
pouco de quase tudo. Quase sem sair fisicamente de casa, apenas foram férias da
rotina da hora de levantar e deitar. Coisas que, mesmo assim, não alterei
muito. Grande parte do dia passo-o no meu silêncio quase ensurdecedor. Espero
que os vizinhos não se aborreçam pela poluição sonora que lhes causo.
O dinheiro para as férias, por algumas vicissitudes muito
frequentes na vida das pessoas, deu lugar a outras prioridades, até a outras
oportunidades. Não me posso queixar à luz do que sou.
O dinheiro acaba por assumir-se como o centro de tudo:
"A razão das razões". O que me parece altamente negativo para a vida
e para a humanidade. Sim, a humanidade no seu todo. Porque todos sofrem com a lei
desta visão, que é venerada e idolatrada para muito benefício de apenas alguns,
mas que, depois, se estende numa longa rampa a descer até àquele que se
encontra quase na base. Porém, mesmo assim, este acha-se inatingível,
inalcançável, pelo que se encontra na base, e pisa-lhe na cabeça, esquecendo
que tem tantos e tantos a pisarem a sua própria cabeça. Que dores de
cabeça...
As férias já são muito boas se tivermos leveza no pensamento,
alegria no coração e o brilho na menina dos olhos pelo movimento do pequeno
comboio dos sonhos, que devagarinho lá segue e avança, voando e navegando
livremente de paraíso em paraíso, mergulhando-nos em bem-estar e satisfação.
Boas férias! E… sobretudo, Sonhe!!! Sonhe por si e por aquele
que não sabe, não pode ou não o deixam sonhar.