segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Poema "FOTOGRAFIA DE CRIANÇA"

Este poema foi lido, no dia 26-setembro-2020 (sábado), no programa "As Nossas Raízes", da Cidade Hoje Rádio, da autoria de Manuel Sanches e Suzy Mónica.

Também foi lido no programa "Hora Mágica, Poesia" da rádio MUM, ontem, dia 03-junho-2021. 


FOTOGRAFIA DE CRIANÇA

Olho-me naquela fotografia
Ainda a preto e branco
Era um miúdo sonhador
Com alguma ousadia
Sem ambição de ser doutor
Mas com algum jeito prá poesia.

E nela vejo tão pouca coisa
Porque em miúdo já era triste
Tempos em que se usava lousa
E que hoje nem sequer existe.

Era triste por causa da vida
Que nunca foi amiga de mim
E não é vida assim tão comprida
Olho pra trás e não vejo o princípio

E prá frente não quero ver o fim.

E se me perguntarem porque sou assim.
Eu respondo: - Porque sim!

José António de Carvalho, 30-Setembro-2019
Foto minha






sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Poema "AS VINDIMAS"

Este poema foi lido, no dia 12-setembro-2020 (sábado), no programa "As Nossas Raízes", da Cidade Hoje Rádio, da autoria de Manuel Sanches e Suzy Mónica.


AS VINDIMAS

Vira-se o povo prás vinhas
de mãos lestas, alma doce
e canta a alegria e a dor
e bramidos do trator

É música de rotina
que passa por concertina
e lá sobe a alta colina
naquele ar confrangedor.

Vento fresco e desordeiro
sopra leve em folha fulva
e lá se vai colhendo a uva
em gargalhadas no outeiro.

Tanto se colam os dedos
das uvas açucaradas
onde se abafam segredos
entre nuvens carregadas...

Os bagos todos ralados
A malta morta, cansada
mas feliz com o repasto:
Pagamento da jornada.

José António de Carvalho, 27-setembro-2019
Foto de Conceição Silva


terça-feira, 24 de setembro de 2019

Poema "OUTONO" (soneto revisto em 23-09-2019)

Este poema foi lido, no dia 19-setembro-2020 (sábado), no programa "As Nossas Raízes", da Cidade Hoje Rádio, da autoria de Manuel Sanches e Suzy Mónica.

Link do vídeo da magnífica declamação do poema por Abraão Marinho (Br.). Clique no LINK

https://draft.blogger.com/blog/post/edit/751351972005589426/3577010110731332145


OUTONO

Entregas-me teus dias em metade
Metade luz e brilho, depois noite
Dia alegria. A noite fria, açoite
O vento leva as folhas à vontade

Levanta o pó da terra ressequida
Só terra basta para não ser nada
Anseia água como amante a amada
Triste, vazia, seca, tão encolhida.

Sinto o outono da minha alma cansada
Mais pesado que o teu, mãe natureza
Foram-se os frutos, resta hoje a pobreza.

Pouco fica de vida ensolarada
Dias quentes e gente apaixonada
Venham dias que levem a tristeza!

José António de Carvalho, 23-setembro-2019 (poema revisto)
Pintura de António Miranda - Grupo Arte Celano

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Poema "NOITE"

Participei com este poema no XXIII de poesia do Grupo Arte & Literatura Recanto da Poesia, a convite de Nilma Soares.


NOITE

É na noite que bebo as maiores e doces poções de amor.
Onde se misturam sabores de suculentos e doces frutos.

Onde cresce a fome de primaveras seguidas de verões,
De tempestades de relâmpagos abraçados em apagões.

Libertam-se nuvens de ousadas fantasias do meu peito,
Fogosas lavas inflamadas, fumegantes, a saírem de vulcões.

E assim são os nossos tempos fundidos de céu…
E o desejo saudável de sentir o latejar à luz do breu.

José António de Carvalho, 18-setembro-2019 (Nova versão em 15-setembro-2020)
Foto de Conceiçao Silva







quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Poema "Lágrimas"

Lágrimas

São gotas de água salgada
Que destes meus olhos se evadem
Nem sequer sabem a razão
Verdadeira pelo que o fazem.

São como esferas de metal
Que metal este tão pesado
Se quando chegam ao chão
Furam na terra ao outro lado.

São como diamantes brutos
Com as impurezas da vida
Mas de valores absolutos
Tal como ela, incompreendida.

No meio desta ambivalência
Mais parece que ontem nasci
Subi a palmilhar a prudência
Em gotas salgadas desci!...


José António de Carvalho, 11-setembro-2019
Pintura a óleo de Conceição Silva


domingo, 8 de setembro de 2019

Poema "Noites"

Noites

O dia desesperou-se e foi
pra outro lado.

Veio a noite
e com ela o mesmo fado.

O fado de sempre.
Também o que tocou de dia,
em arrufos de tristeza e melancolia
como Verónicas na procissão.

E são tantos os passos da paixão
e os feixes de fogo em clarão,
que nos enche de alegria
e esperança pra outro dia.

A noite não é mais que a preparação
da fórmula exata da alquimia
de aquecer bem o coração
e sonhar com o novo dia…

José António de Carvalho, 08-setembro-2019
Foto JA18C

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Poema "Setembro"

Setembro

Deixa-me estar só no meu canto
Onde os dias perdem a pressa
Se afago a vida no meu pranto
É porque a saudade regressa.

Quero ver as uvas maduras
No meio das folhas douradas
Esperam mãos ágeis, seguras
Para as destronar das ramadas.

Deixa-me olhar só para ti
Com os meus olhos tão nublados
Pra ver que nem tudo perdi...
Ainda há homens apaixonados.

Deixa-me ver a Igreja Velha
Ouvir o som do violino
Até chegar a primavera
Para voltar a ser menino.

José António de Carvalho, 05-setembro-2019
Foto do Palácio da Igreja Velha, FB

sábado, 31 de agosto de 2019

Poema "NÃO VISTO FATO PRÁ POESIA"

VÍDEO DA DECLAMAÇÃO DO POEMA PELA AMIGA ROSÁRIO SERRADO DE FREITAS.



NÃO VISTO FATO PRÁ POESIA

Não posso vestir o fato pra te dizer ó poesia
Se ele me ata os braços, como posso eu abraçar-te?…
E as calças que me prendem o andar na tua direção.

Depois, depois… a gravata, asfixia-me a respiração
Se a voz tem de sair livre como grito de andorinha
Que vive e explora o presente e o futuro adivinha.

A camisa, mesmo tendo a frescura de um rio
Contrai-me o sorriso e o palpitar do coração
Se estou no meio das tempestades da tua imensidão.

As peúgas… pobres peúgas. São quem segura as palavras simples
Que deslizam por mim como a água pelas montanhas
Por entre fragas profundas cortadas nas suas entranhas.

De facto, não posso usar o fato pra te dizer ó poesia
Porque és livre, tão livre como a branca luz do dia
Como asas de pássaro a cruzarem os céus de alegria.

José António de Carvalho, 30-agosto-2019
Foto Google



domingo, 25 de agosto de 2019

Poema "SE TE TELEFONASSE"

Para a poeta amiga Cláudia Lundgren (Brasil).
Poema lido, no dia 22-agosto-2020 (sábado), no programa "As Nossas Raízes", da Cidade Hoje Rádio, da autoria de Manuel Sanches e Suzy Mónica. 


SE TE TELEFONASSE

Perguntar-te-ia se estás bem…
Se o sol nasceu radiante
e se ainda se mantém.

Se ouves os pássaros
a fugirem da condenação à morte
e são tantos os interesses
que lhes ditam essa sorte.

Se te telefonasse…
Enviaria uma força mágica
que acabasse com esse inferno,
essa realidade tão trágica.

Perguntar-te-ia,
Se alguma coisa poderá mudar
nas mentes dos poderosos,
ou se continuaremos a andar
pelos caminhos mais ruinosos.

Se te telefonasse…
Dir-te-ia que estou triste,
que receio tanto pelo futuro,
já que o Homem tanto insiste
em erguer à sua volta um muro.

E que cada muro que a vida tem
é preciso derrubá-lo,
e se não tem
não é preciso edificá-lo. 

Espero que fiques bem!

O telefone?!…
É melhor comprá-lo!!!!

José António de Carvalho, 25-agosto-2019
Foto Conceição Silva

sábado, 24 de agosto de 2019

Poema "TUM, TUM, TUM..." (soneto)


TUM, TUM, TUM...

Será gente que bate assim à porta?
Que bater?!... Quem se faz anunciar?
Não é bom, este entrar do lado da horta
E co'a porta fechada, assim entrar

Entrada surda... E lá se vai deitar.
Baque frio, a espalhar só falsidade
Para não ter com quem se defrontar
Macabra, a aproveitar a ingenuidade.

E ela por mais que seja aguardada
Mas de tão indesejada aparição
Bem podia cair em um vulcão

Para se lhe barrar bem à entrada.
E a morte tornar-se-ia cinza e fogo
Acabando com este bruto jogo.

José António de Carvalho, 24-agosto-2019
Foto Conceição Silva


sábado, 17 de agosto de 2019

Poema "Festa na minha terra"


Poema lido, no dia 15-agosto-2020 (sábado), no programa "As Nossas Raízes", da Cidade Hoje Rádio, da autoria de Manuel Sanches e Suzy Mónica. 


Festa na minha terra

Acordas estonteantemente bela
até receias não estares bem acordada
se tens dia no dia, e dia na própria madrugada.

As luzes são milhentas e a flores ornamentada
assim te apresentas, prá grande gala preparada…
Ó minha terra, tens tudo sem quereres nada!

E quem lembra os anos em que não há festa
nem te vestes de princesa, nem é dia na madrugada
nem agosto é agosto… e toda a gente protesta.

E com os filhos da terra e os que de fora vêm
a emoldurarem as ruas na passagem da procissão
e são famílias inteiras, uns crentes e outros não.

E nesta multiplicidade de sentires e de paixões
Lá se vai o agosto e as férias, mas ficam as orações
nas gentes desta terra, e um orgulho nos corações.

José António de Carvalho, 17- agosto-2019
Foto de Rosário Pinho




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quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Poema "Os dedos"


Os dedos

São setas desferidas ao sol
Pétalas furtadas às violetas
Em finas agulhas desassombradas
Hirtas e firmes põem um fim às tretas.

Centopeias nas teclas do piano
Notas soltas que saltitam pelo ar
Ao desenhar os dias do ano
Nas contas de “tirar” e somar.

São linhas finas de fortes desejos
Estendidas pela aridez da pele
E lábios desabados aos beijos
Astrolábios sábios em mar de mel.

Os dedos tocam notas musicais
O canto da natureza e do mar
O assobiar do vento e dos pardais
Ordenam belas canções de embalar.

Os dedos são verdadeiros, leais
E cúmplices uns e outros entre si
Pequenos, grandes, são fundamentais
Pra escrever um poema para ti.

José António de Carvalho, 15-agosto-2019

Foto de Conceição Silva



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terça-feira, 13 de agosto de 2019

Poema "METADES DO TODO"


METADES DO TODO


Lá se veste de poeta
figurão meio idiota
a olhar para parte incerta
e ar obtuso. Não se importa.

O seu ver enviesado
um quinhão da sua herança
à dor não fora poupado
nem mesmo quando criança.

De idiota é metade
a outra tem maior vigor
é mordaz e tem saudade
tem energia, tem cor.

Tem um querer controverso
tem pétalas, tem magia
palavras nuas e o verso
do que viveu nesse dia.

José António de Carvalho, 13-agosto-2019
Foto de Conceição Silva







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sábado, 10 de agosto de 2019

Poema "MÊS DE AGOSTO NA DEVESA" (acróstico)

Poema lido, no dia 15-agosto-2020 (sábado), no programa "As Nossas Raízes", da Cidade Hoje Rádio, da autoria de Manuel Sanches e Suzy Mónica. 


MÊS DE AGOSTO NA DEVESA – Acróstico

Lembras-te do agosto em que corrias
Indo pelo Parque da Devesa fora
Nunca paravas e sorrias
Davas vida à natureza que lá mora
O que ainda fazes todos os dias.

Mas algum tempo já passou
Êxito teu quando me confundias
Se os caminhos que fazes agora

Duma forma bem apurada
Entras pela natureza apaixonada.

Aguarda por mim bela e sorridente
Gosto de te ver correr e sorrir
Ou que alguém te cumprimente
Saldas as contas num instante.
Todos os dias vais ao parque
O que te dá “corpo são em sã mente”!!!

José António de Carvalho, 10-agosto-2019
Foto da Página FB "Parque da Devesa"



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terça-feira, 6 de agosto de 2019

Poema: "O Caminho do soneto ao contrário" (soneto)


Poema lido no programa "As Nossas Raízes", de hoje, de 01-agosto-2020, da Cidade Hoje Rádio, da autoria de Manuel Sanches e Suzy Mónica.

Nota: Ouso um pouco da vida neste soneto ao contrário.


O CAMINHO DO SONETO AO CONTRÁRIO 

Resumo no terceto este fadário
Do soneto, tão grande o desafio
Partir do fim, poema ao contrário.

É como ver as coisas invertidas
É caminhar na vida e ficar novo
Assim elas são muito mais sentidas…

Subir da foz do rio pra nascente
D' águas misturadas pra pureza
Realizando um sonho incoerente
Contrário à lei da natureza.

Em surpresa, no lume da chegada
Quando sobes a praia de repente
Ó deusa que me marcas com pegada…
Vem devagar, vem calma e docemente!

José António de Carvalho, 06-agosto-2019
Foto de Conceição Silva








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quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Poema "São flores"


São flores

Aceita as flores atadas com palavras
colhidas dos jardins cultivados em mim

Trata-as bem. Dá-lhes todo o alimento
Também as palavras são sustento

São tulipas e rosas e cravos vermelhos
entre elas espreitam amores-perfeitos

Contempla-as e rouba-lhes o perfume
que te inebria e em ti deflagra o lume

Põe o vestido azul-céu em seda fina
Que sempre usas se te vestes de menina

E dança com as flores no braçado
nas cores e perfumes e músicas
e sensações que temos sonhado

Neste poema que ao ouvido te segredo…

José António de Carvalho, 01-agosto-2019
Foto de Conceição Silva


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sábado, 27 de julho de 2019

Poema "SÓ MAIS UM DIA"


SÓ MAIS UM DIA

O sol parece que andou
como a ave quando esvoaça
mas se ninguém reparou
é só o dia que passa.

História que alguém narrou
de gente que muito abraça
se o sol parece que andou
mais outro dia que passa.

E se mais alguém pensou
que o caminho não é de ida
é alguém que se enganou
nas contas que fez à vida.

E se quem tanto hesitou
se o tempo é ameaça
é porque jamais amou
em cada dia que passa.

José António de Carvalho, 28-07-2019
Foto de Conceição Silva



quinta-feira, 25 de julho de 2019

Poema "LIVRO DE POESIA"



LIVRO DE POESIA


Se tu fores o meu livro,
sejas o meu livro aberto
de capa misteriosa
e com mãos cheias de afeto.

Um livro de poesia
com fotos de rosmaninho
vestido com luz do dia
na chegada de mansinho.

Os teus olhos são as páginas
que folheio uma a uma,
e sorvo palavras leves
na frescura da bruma.

Teus lábios encarnados,
são versos arrancados
ainda mais embaraçados
pelos beijos desejados
e que nunca são dados.

E os fios dos teus cabelos,
misteriosos novelos,
gemem a desenrolarem,
ondas nuas a quebrarem
de emaranhados tão belos.

Eu só fingia que dormia 
enquanto o teu livro lia…

José António de Carvalho, 25-julho-2019 (alterado em  22-julho-2020)
Foto de Conceição Silva



terça-feira, 23 de julho de 2019

Poema "OS SONHOS TAMBÉM ACORDAM"


OS SONHOS TAMBÉM ACORDAM


Chama por mim bem cedo
Para acordar dos braços da madrugada
Ainda sem o sol ter nascido
E se vejam as estrelas a brilhar…

Como será bom este acordar!

Chama por mim em voz forte
Depois de me teres levado na tua noite
Por um rio de águas transparentes
Que seduz as estrelas reluzentes
Pra amenizar os corpos quentes…

Como será delicioso este acordar!

Chama por mim ao ouvido
Pra não assustares os meus sentidos
Que ainda repousam docemente
Sobre a ternura do teu corpo quente
Que toda a noite se matou a remar
Contra a maior fúria deste mar…

Como será nascer neste acordar!...

José António de Carvalho, 23-julho-2019
Foto de Conceição Silva