sábado, 20 de junho de 2020

Poema " DEPOIS DA CURVA"

Poema lido no programa "As Nossas Raízes", da Cidade Hoje Rádio, da autoria de Manuel Sanches e Suzy Mónica. 


DEPOIS DA CURVA


Penso na curva da vida,
Que nunca se sabe onde está…
Aqui, além, sabe-se lá.

Não tenhamos pressa do amanhã.
Não tenhamos pressa de nada.
No amanhã tudo se acabará.

Depois de chegada a curva,
Virá uma visão turva
Do que não se sabe se há,
Desse lado oculto,
Desse lado de lá…

José António de Carvalho, 20-junho-2020
Foto do Trilho do Caminho Santiago (2018)


quarta-feira, 17 de junho de 2020

Poema "IMAGENS TUAS"

Poema com que participei no programa "Livro Aberto" da Rádio Voz de Alenquer, emissão de sexta-feira 19-junho-2020, da autoria de Ana Coelho, na rúbrica "Criatividade Sem Limites"


IMAGENS TUAS

Retenho nos olhos imagens tuas
Num caudaloso rio de memórias.
Substituir-te… é perder as puas,
Eco do tecer das nossas histórias.

Se cantas, arrepio-me, és feliz…
Tão difícil que é a nossa música,
Se o teu olhar esquecido nada diz,
Perco-te no enredo da vida física.

Essa luz de que tanto me embrenhei,
Não tem outra qualquer explicação,
Senão que essa luz fui eu que a inventei,
À luz da luz, dum cego coração.


José António de Carvalho, 17-maio-2020
Pintura de António Miranda






sábado, 13 de junho de 2020

Poema "QUADRAS DE SANTO ANTÓNIO – 2020 (PANDÉMICO)"

Poema a Santo António - Lido hoje no programa "As Nossas Raízes", da Cidade Hoje Rádio, da autoria de Manuel Sanches e Suzy Mónica. 


QUADRAS DE SANTO ANTÓNIO – 2020 (PANDÉMICO)


Pensava o povo contente
Que a vida era sempre a andar,
Sem curvas, seguir em frente,
Sem para trás ter de olhar.

Mas o vírus lá mostrou
Que o pequeno se faz grande,
Que a humanidade abanou
Tanto o medo que ele expande.

Que tristeza, se não há festas
Nem romarias de gente,
Vê-se a vida pelas frestas
De uma forma consciente.

Sem os balões a subir
Sem fogueiras pra saltar,
Nem garrafas para abrir,
Sem sardinhas a pingar,

Nem noitadas, nem abraços,
Nem foguetes a estalar,
Sem gente com seus cansaços
De nas marchas dançar,

Nem ricos vestidos brancos,
Nem véus aos sete ventos,
Mas há choro pelos cantos
No ruir dos casamentos.

É tão caro o manjerico
Que o alho nem o pode ver,
Ó santinho tu és rico
Toda a gente te quer ter.

A primavera lá vai
Pra ficarmos no verão,
De casa a gente não sai
Pra comer sardinha e pão.

Estas verdades tão cruas,
O queixume, a solidão,
A esperança de ir prás ruas
Pró ano em Famalicão.


José António de Carvalho, 12-junho-2020
Foto do anúncio do Programa "As Nossas Raízes" da Cidade Hoje, Rádio



Poema "PÁTRIA MINHA"

Poema com que participei no programa "Livro Aberto" da Rádio Voz de Alenquer, emissão de sexta-feira, 12-junho-2020, da autoria da amiga Ana Coelho, na comemoração do Dia de Portugal, de Camões e das comunidades lusas.

https://www.livroslidos.pt/post/josé-antónio-de-carvalho-lê-pátria-minha

PÁTRIA MINHA


Da nossa Pátria-Mãe sopram os ventos incertos.
Já não distingo velhos do restelo, adamastores e heróis navegadores.
Só conheço o Povo. O Povo mortal de uma nação que fora valente
E que se vai multiplicando cada vez menos.
Menos gente, menos valente.

Soubesse eu o que é amar a Pátria.
 
Amar a Pátria,
É sentir o veludo quente do ventre da mãe,
E lutar para nascer e renascer todos os dias.

É querer crescer com o sol que nos é oferecido,
Lançar ao longe o olhar e ver o mar,
E para além do mar e de todos os mares
Continuar a ver e a sentir Portugal no peito.

Sentir o coração a saltar de alegria a cada feito
De um lusitano, aqui e além-mar,
Senti-lo em cada palavra, em cada uso e costume,
Em cada memória e em cada história.

Amar Portugal é projetar-se vaidoso e novo,
Lavado de toda a fraqueza e pobreza.
É ser sábio em ultrapassar dificuldades,
Sem esmorecer, sem desesperar…
Sentir a saudade da Pátria nas veias a latejar.

Amar Portugal, é amar prá além do infinito
Amar tudo o que é mais pequeno
E transformá-lo gigante com um só grito.

Esta é a pequena enorme Pátria que habito.


José António de Carvalho, 11-junho-2020
Foto do Certificado de participação no Programa Livro Aberto da Rádio Voz Alenquer





sábado, 6 de junho de 2020

Poema "NÃO PERCO NOVO SONHO" (Adaptado do livro "Sente, Logo Vives e Sonhas")

Este poema mereceu um destaque no Sarau dos mil membros do Grupo Literário Universo Poético, em 22-janeiro-2021.

NÃO PERCO NOVO SONHO


Se tivesse a arte e engenho de Camões,
A visão e fantasia de Pessoa,
Meus poemas não teriam repelões
De métrica, por muito que me doa.

Se tivesse um sentir como Camilo,
De Espanca a s
eiva da veia poética,
Teria a minha marca e um bom estilo,
Sem agravos desta nefasta métrica.

De Bocage a refinada ironia,
A nobreza em verso de Eugénio Andrade,
Os olhos do coração de Sophia…
Oh poesia... que este meu sangue arde.

Tivesse eu o rigor da Maria A. Costa,
O romantismo da Santos, Fernanda,
Tão grandes… de quem toda a gente gosta,
Eu escrevo pequeno, o talento manda!

José António de Carvalho, 05-junho-2020 (Adaptação do poema com o mesmo título do meu livro “Sente, Logo Vives e Sonhas”, Edição de outubro-2018, Chiado Editora).









sexta-feira, 5 de junho de 2020

Poema "SONHOS DE PRINCESA", Dito por Sandra Escudeiro



Video da declamação do poema pela Sandra Escudeiro


SONHOS DE PRINCESA 


Quero ter corpo bem delineado, 
Longo, pra parecer uma princesa, 
Depois do tecido todo cortado 
Coloca os bocados sobre uma mesa… 

Une-os bem devagar, e com leveza 
Usa a agulha fina para os coser, 
E no meio de tanta macieza 
Não me vai custar nada, nem doer. 

Embaraço-me nas mil e uma pregas 
E dobras. Quero ter dedos e laços. 
Perco todos os meus medos nas nesgas 
De pano onde se desenham meus traços. 

Meus sonhos são feitos em brandos vincos, 
E vais colocando o coração e dedos, 
Umas orelhas pequenas e brincos, 
Sussurras-me nelas belos segredos. 

Quero ter o meu sorriso profundo, 
Uma ténue ruguinha na bochecha, 
Ter um olhar verde para o teu mundo 
E para a natureza que se queixa, 

Do Homem e dos seus escabrosos atos 
Que matam natureza e os teus irmãos. 
Mas eu, uma simples princesa de trapos, 
Nasço em gestos d’arte, em tuas mãos!
 

José António de Carvalho, 29-maio-2020
Dois anjos em tecido de Sandra Escudeiro



quinta-feira, 4 de junho de 2020

Poema "VIDA CONFISCADA" (soneto)

Este soneto abre e fecha com versos (1º e 14º versos) do poeta António Sousa, homenagem ao avô da poetisa Maria João Brito de Sousa num desafio para uma coroa de sonetos no Site Horizontes da Poesia (do poeta Joaquim Sustelo).

Poema lido hoje, sábado, dia 05-junho-2021 (sábado), no programa "As Nossas Raízes" da Cidade Hoje Rádio, da autoria e apresentação de Manuel Sanches e Suzy Mónica.


VIDA CONFISCADA

Esperei por mim em vão. Suando Rezas
Pelos poros da minha alma desfeita,
Tanto eu queria dar-lhe sãs larguezas
Indo além na atmosfera rarefeita.

Esperei por ti atado em mil tristezas,
Na ânsia de que pra mim voes, feita
Pluma solta das nuvens, e desprezas
Este meu sentir, minha amada eleita.

Tal a dor que em mim fazes eclodir
Se a dor que sinto já não é sentir,
Mais choro ainda só pelos teus sinais,

Nesta espera por ti sempre a insistir,
Cansado em casa e quase a desistir…
E sei apenas que não posso mais!

José António de Carvalho, 03-junho-2020
Foto de Conceição Silva




segunda-feira, 1 de junho de 2020

Poema "OLHOS DE CRIANÇA"

No Dia Mundial da Criança

Poema lido no sábado, dia 29-maio-2021 (sábado), no programa "As Nossas Raízes" da Cidade Hoje Rádio, dedicado ao Dia Mundial da Criança, da autoria e apresentação de Manuel Sanches e Suzy Mónica.


OLHOS DE CRIANÇA


Folhas tenras de cor verde mimosa
Sôfrega faustosa por se colorir em flor.

Tanta Vida e fulgor em aura airosa 
Sem rumorosa razão para a dor. 

Fonte que em rubor espera ansiosa 
Em face lustrosa por um beijo de amor. 

E nos olhos o calor de lareira ciosa 
Família à mesa, vida calorosa, e amigos em redor. 

José António de Carvalho, 01-junho-2020
Desenho de Laurinda de Brito



domingo, 31 de maio de 2020

Poema "O SONHO E A REALIDADE" - Dia Mundial da Criança (Programa "As nossas raízes", RCH)

(Dia Mundial da Criança-2020, Programa “As nossas raízes, RCH”, dia 30-05-2020)


O SONHO E A REALIDADE


Cintilam os rostos com alegria
Estendendo os seus véus pelas searas,
No borbulhar das águas das nascentes.
Mas a vida inóspita contraria
Sonhos e futuros resplandecentes.

Movem-se os extraordinários montes
Que deliram com o sol a nascer,
Sobejam os fios de luz nas fontes
Sempre que há vida para florescer.

Perde-se nas velas dos sentimentos
Essa delícia do fruto maduro
Nos cúmulos e auges desses momentos.
E é singela a esp'rança no futuro…

É a mãe tão feliz que se seduz
No âmago da sua terra fértil,
Numa flor trazida com tanta luz
E para a vida com futuro débil…

E não há nada, e nem há justiça alguma
Se quando mais uma criança chora
implorando o alimento que se esfuma
Ou pelo amor que também se vai embora.

Como não há, e nunca haverá justiça
Quando uma criança indefesa berra
P’lo abandono em laivos de preguiça,
Pelas explosões de ódio e da guerra.

Justiça… jamais poderá haver
Se a criança apenas quiser crescer
De costas voltadas pró vendaval...
E amar, brincar, sorrir, e ser feliz
No jardim de um mundo pseudonormal.

Toda a gente o sabe e também o diz,
Mas são poucos os que o tornam igual…
Gritemos p'los direitos da petiz
Em dia da Criança Mundial!

José António de Carvalho, 28-maio-2020
Quadro de Rosário Pedro / Arte Celano Grupo de Artistas (óleo s/Tela – “INÊS”)


sábado, 30 de maio de 2020

Poema "SONHOS DE PRINCESA"

Poema dedicado à artesã Sandra Escudeiro, pela sua arte de fazer obras geniais a partir de pequenos pedaços de trapos. 


SONHOS DE PRINCESA 


Quero ter corpo bem delineado,
Longo, pra parecer uma princesa,
Depois do tecido todo cortado
Coloca os bocados sobre uma mesa…

Une-os bem devagar, e com leveza
Usa a agulha fina para os coser,
E no meio de tanta macieza
Não me vai custar nada, nem doer.

Embaraço-me nas mil e uma pregas
E dobras. Quero ter dedos e laços.
Perco todos os meus medos nas nesgas
De pano onde se desenham meus traços.

Meus sonhos são feitos em brandos vincos,
E vais colocando o coração e dedos,
Umas orelhas pequenas e brincos,
Sussurras-me nelas belos segredos.

Quero ter o meu sorriso profundo,
Uma ténue ruguinha na bochecha,
Ter um olhar verde para o teu mundo
E para a natureza que se queixa,

Do Homem e dos seus escabrosos atos
Que matam natureza e os teus irmãos.
Mas eu, uma simples princesa de trapos,
Nasço em gestos d’arte, em tuas mãos!


José António de Carvalho, 29-maio-2020
Dois anjos em tecido de Sandra Escudeiro




segunda-feira, 25 de maio de 2020

Poema "SE RAZÕES HOUVESSE"



SE RAZÕES HOUVESSE

Talvez tenha perdido o que nunca tive…
Essa graça que nunca fora um céu meu.
Se a graça se desprende dos olhos de graça
E ilumina o rosto entre duas lágrimas.

Talvez tenha perdido só por estar perdido.
Porque a vida é um denso bosque obscuro…
Se nunca inventei nada além do perder
Uma ínfima luz sequer, que me fizesse ver
Tudo o que passa com os dias a correr.

E perder, perder… é deixar de voar nos sonhos,
Deixar de ver os teus olhos quando se escondem,
Deixar que o teu sorriso de catraia se contraia,
E assim não há mar calmo, nem areias na praia.

Talvez te tenha perdido, porque…
Mas não importam as razões de te perder,
Se a primavera, de que tanto gosto,
Também não sei se a voltarei a ter…

José António de Carvalho, 25-maio-2020
Foto da minha autoria


quinta-feira, 21 de maio de 2020

Poema "O VOO DAS ANDORINHAS"

Participei com este poema no 68º Evento Literário Virtual da LUPA, que decorreu entre 28-junho e 03-julho-2021


O VOO DAS ANDORINHAS

Quedam-se dos voos pelos céus
As andorinhas aventureiras,
Abastadas de instinto de descoberta,
Apaixonadas pelas nuvens
E pelos ventos de cetim,
Voam até ao limite dos céus
Inalando as toxinas fétidas do ar,
Que lhes asfixiam a essência do sorriso.

E caem numa tempestade pérfida.
Perdem o decisivo argumento:
Para quê voar tão alto
Se fazem ninho de lama nos vãos da vida?

Há punhais que dilaceram sonhos.
Palavras que rasgam as entranhas
E atingem o coração já cansado
Pela travessia de muitos mares.

E vão morrendo flores e primaveras.
E as andorinhas perdem a essência delas.

José António de Carvalho, 21-maio-2020






quinta-feira, 14 de maio de 2020

Poema "O MERCADORIAS DA MEIA-NOITE"

Poema lido por Ana Coelho na Rádio Voz de Alenquer, no programa de hoje 29-05-2020, no programa Livro Aberto.


O MERCADORIAS DA MEIA-NOITE

Faltavam cinco pra meia-noite, ainda,
Partia o touro de ferro da Trofa,
Vinha a galope estridente na linha,
E não trazia gente na galhofa.

Num correr metálico e pachorrento,
Ferro a esmagar ferro, ensurdecedor.
Na linha a mulher de pé tanto tempo
Esperava por vagões e trator…

Ilusões levantam-se à passagem.
Assobiava no meio do escuro,
Deixava p’ra trás o Ave, e na outra margem
Pessoas sonhavam melhor futuro.

Falta lucidez, mas lá discerni
Mil sacos amarrados num vagão
Com a esperança que nunca perdi
De ir no comboio pra Famalicão.

Entendimento só do coração,
Realidades que a mente deflagra
Hoje é sol, mas já foi escuridão
“O mercadorias” ao ir p’ra Braga.

As voltas que esta vida sempre dá
E que nos faz relembrar o passado,
Desse tempo de amor que vivi lá,
E do comboio a passar em Lousado.

José António de Carvalho, 14-maio-2020
Foto: Museu Ferroviário de Lousado





segunda-feira, 11 de maio de 2020

Poema "OS MEUS NÃOS"


OS MEUS NÃOS

Há espaços que não preencho
Porque as noites escurecem numa louca ânsia de espera,
E versos que não digo
Porque as melodias são apenas amigas das estrelas.

Há paisagens que não olho
Porque a natureza apenas deslumbra os olhos apaixonados,
E maresia que não sorvo
Porque os mares se fecham para mergulharem nas marés.

Há amigos que não vejo
Porque os meus olhos choram a falta de nitidez,
E sentimentos que não tenho
Porque os rios perdem os seus caudais nas agruras dos estios.

Há caminhos que não faço
Porque a liberdade dorme… e morre-me nos braços cansados,
E flores que não cultivo
Porque elas são apaixonadas pelas brisas ténues e perfumadas.

Há versos que não escrevo
Porque a inspiração dilui-se nas areias finas dos desertos,
E amores que não canto
Porque só canto os amores que criam raízes neste meu canto.

José António de Carvalho, 11-maio-2020
Foto da minha autoria



https://youtu.be/f9J5KicFVxk

domingo, 10 de maio de 2020

Poema "SILÊNCIO DE MAIO"

Este poema foi dito por Manuel Sanches na Rádio Cidade Hoje, no programa "As nossas raízes" do dia 09-05-2020, relativo ao 13 de Maio.


Ouça este poema pela voz da amiga e poetisa Cida Vasconcellos (Brasil), que teve a gentileza de me fazer esta agradabilíssima surpresa.

Clique no link.



SILÊNCIO DE MAIO

Este silêncio vai isolando a vida
E tudo se fecha em escura caixa,
E quanta amargura que ela nos deixa
P’ra outra jornada, também sofrida.
Passou a ser uma vida sem refrão,
E sem refrão nem parece canção.

Mas há forças que vão muito além
Das que o Homem em si consegue gerar,
E são elas que o permitem avançar.
Parecem as forças vindas de alguém,
Que nos puxam pela vida pra frente
E às quais, há quem seja indiferente.

Às vezes, não queremos nem saber,
Porque nos é mais fácil ignorar,
Que a força Divina pode ajudar.
E quando nos chega o entardecer,
Antes que este horror nos leve,
A Fátima pedimos… que nos Salve.

 José António de Carvalho, 08-maio-2020
Foto da minha autoria


Ouça este poema dito pela voz da amiga e poetisa Cida Vasconcellos (Brasil)
Clique no link.





sábado, 9 de maio de 2020

Texto poético "NÚMEROS EM POESIA "

5º Aniversário do Programa Livro Aberto 

NÚMEROS EM POESIA 

Acordei cedo para sonhar.
Na verdade, acordar para sonhar pode não fazer muito sentido.
Mas é a verdade!...
E são verdades contáveis. Tal e qual, números.
Esse número… que envolve centenas de unidades, e dezenas de dezenas.
E puxa-se pelo véu e desfolham-se cinco longas e brilhantes estrelas.

Uma por cada ano. Uma volta ao mundo, passo a passo. 

Neste tempo passado…
Quantos livros foram abertos e retirados ao pó das memórias?
Quantos poemas foram ditos pelas cordas estimuladas à sua dormência?
Quantos poemas escritos foram recuperados dos confins do âmago de cada Ser?
Quantos versos foram rasgados e lançados aos ventos do desânimo?
E outros que foram sonhados e idealizados do casamento perfeito das aves?
Quantas sensações foram geradas em cada vulcão sentimental adormecido?
Quantas emoções foram vertidas em palavras nas águas límpidas duma cascata? 

E mais ainda…
Quantas pessoas cruzaram os seus caminhos em vez de os fazerem sozinhos?
E quantas amizades nasceram e floriram e frutificaram em poesia? 

Também…
Quantas solidões nas noites das sextas-feiras pereceram ao frio?
E os sorrisos que se abriram como flores de primavera?
Quantas esperanças renasceram das cinzas e voaram oceanos?
Quanta liberdade se avolumou em poesia e foi ainda mais poesia? 

Quantas… quantas… 
Quantas vezes vou ter de vos agradecer: Ana Coelho, Livro Aberto, Rádio Voz de Alenquer? 

Uma só vez! 

DUZENTOS E VINTE E QUATRO. OBRIGADO!

José António de Carvalho, 07-maio-2020
Certificado atribuído pela Rádio Voz Alenquer, Programa Livro Aberto, de Ana Coelho



sexta-feira, 8 de maio de 2020

DEZOITO QUADRAS



 DEZOITO QUADRAS


***

Eu vi uma mulher tão triste
Porque não faz o que quer
Pensa que este mundo existe
Para agradar à mulher.

***
Os ventos levam as folhas
Os namorados as filhas,
Já não se fazem escolhas,
Ficam problemas às pilhas.

***
Com a chegada do Outono 
Transbordo em nostalgia, 
O que me enche de sono 
Pra não ver o que me arrelia.

***
Tanta gente anda perdida 
Aí pelo mundo fora, 
À procura de uma vida 
Para quem nele não mora. 

***
Gente de grande sucesso 
Com um grande ego e poder, 
Quantas vezes eu lhes meço 
Como é que pode ser?!... 

***
Não bate a letra e o refrão. 
O refrão, que é a vida.
Querem mais do que lhes dão 
E acham que é merecida. 

***
E quando se lhes pede algo 
Acham que o mundo desaba, 
Dar, não é para fidalgo, 
Se der, o fidalgo acaba. 

***
Por aqui vou-me calando. 
Mudez não é dizer pouco, 
Se é neste mundo que ando, 
Mesmo sendo um mundo louco.

***
Neste pico de calor 
que nos chega no Verão,
convém ter algum rigor, 
algum amor à nação. 

***
Os fogos são mais que infernos 
que por cá temos na Terra, 
vivamos onde vivermos 
vamos declarar-lhes guerra. 

***
Este calor tudo mata 
Ao contrário do do amor, 
Que na temperatura alta 
mais bem nos traz o calor.

***
Se no teu colo adormeço,
Que conforto que ele tem.
Nunca pensei se o mereço,
Mas sei que me sabe bem.

***
Busco o que nunca procuro
Por preguiça e meu cansaço.
Bom futuro não me auguro
E dos sonhos me desfaço.

***
Convém sermos recatados
Se falamos a respeito…
São espinhos espetados
Faltas que trago no peito.

***
São como imagens gravadas
Na tua alma apaixonada
Teu paraíso e teus nadas
De carícias tão ansiadas.

***
Do teu voo irregular,
Tuas asas remendadas
Ainda se podem quebrar
Nas ilusões mascaradas.

***
O que fazem acham lindo,
São crianças a brincar,
Mas a vida vai fugindo
Sem caminho pra voltar.

***
É assim que sempre aprendo
Pouco a pouco, vamos indo,
P'lo caminho vão dizendo...
Só os escuto dormindo.

José António de Carvalho, 08-maio-2020


Quadras de António Aleixo
na Voz do saudoso ator Mário Viegas (Clique no link, vídeo)

https://www.youtube.com/watch?v=ilWmtAUQ_Es


(Estátua do poeta popular em Loulé)

quarta-feira, 6 de maio de 2020

Poema "LÍNGUA-MÃE" (soneto)


LÍNGUA-MÃE
(1º DIA MUNDIAL DA LÍNGUA PORTUGUESA)

Quantas bocas sorriem de alegria,
Quantos sorrisos fazem tua graça,
Tanta beleza nunca se amordaça
Nos milhões que te falam neste dia.

Irmãos que a história, bem longa, ligou,
Voa por todo o mundo, esta ave alada.
Uma comunidade renovada,
Pátria-língua, o maior bem se adotou.

E se nela se faz entendimentos
Ou se lavra a melhor literatura
E puxam p'los melhores argumentos.

O meu linguajar sem a formosura
Dos vultos que lhe dão grandes momentos,
Dádiva graciosa e alma futura.

José António de Carvalho, 05-maio-2020
Foto "Bonecos Urbanos" de Sandra Escudeiro






segunda-feira, 4 de maio de 2020

Pequeno texto "COM DIA MARCADO"


COM DIA MARCADO

Parece que os dias se esgotam por entre os dedos, e os luares não são tão luminosos quanto deveriam ser.

A magia dos dias surge envolta em penumbras e nuvens.

Nada é água pura, nada é nítido, nada é líquido.

Há lutas entre as forças e fraquezas de cada ser, guerras de cortar à faca os cabelos
e de arrancar a pele com as unhas.

Saiba que a partir de amanhã se retomará alguma da normalidade dentro da maior anormalidade que se nos poderá afigurar normal.

José António de Carvalho, 03-maio-2020


sexta-feira, 1 de maio de 2020

Poema "FECHA-SE A PORTA, ABRE-SE A JANELA"



FECHA-SE A PORTA, ABRE-SE A JANELA

Abandonados aos nadas da vida
A cumprir esta dura quarentena,
Dura forma de vida, enegrecida,
Que desfaz todo e qualquer preconceito.
E pensar se assim é que vale a pena
Ou se antes é que era bom, com efeito.

O caminho até aqui bem nos mostra
Que o Homem é como um outro ser qualquer…
E se for para viver como uma ostra
Ou pra andar aqui a dormir como um gato,
Qualquer dia desatino de facto,
Ou ainda terei alguém que mo vai dizer.

Mesmo estando nesta guerra escondidos,
Mas que o inimigo nos vê por inteiro,
Segue os nossos passos desprotegidos…
Oh minh’ alma exausta, exposta ó desgaste,
Nem calculas o susto que pregaste
P’la falta da luz do teu candeeiro.

Ainda assim vejo p'la minha janela
Que o sol, o mar e os campos estão aí,
Que sorriem como outrora. Mas ela,
Confinada, oh... que vida torturada!
Triste como leoa acorrentada,
Numa ténue esperança ainda sorri!

José António de Carvalho, 27-abril-2020
Foto da capa da Antologia



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