REVELO-ME ATRAVÉS DE SIMPLES VERSOS (Reservados os direitos de autor)
sábado, 12 de setembro de 2020
Poema "COISAS DOS ASTROS E DO MAR"
COISAS DOS ASTROS E DO MAR
Hoje estou tranquilamente só.
Tão só que olhei o espelho e nada vi espelhado,
Terá passado um cometa e levado o reflexo na cauda,
Arrastando consigo todas estrelas das memórias?
E que é que eu tenho a ver com cometas e estrelas?
Se não fujo nem cintilo em céu algum?
Mas a minha tranquilidade é perturbadora
Como a calmaria em alto-mar que antecede a tempestade.
Em abono disso, diga-se:
Pode ser que não haja tempestade
E fiquemos só pela tranquilidade da calmaria.
Amanhã é um novo dia!
José António de Carvalho, 12-setembro-2020
Quadro de Monteiro da Silva – Pintura a óleo
sexta-feira, 11 de setembro de 2020
Poema "A RUA DO DIA"
A RUA DO DIA
Começa cedo, no raiar da aurora.
Minha vida é a rua do dia
Neste andar mais penoso do que outrora
Se bem lá para trás ficou a alegria.
Os passos cada vez mais arrastados,
A rua a cada dia sobe mais.
Meus perónios cada vez mais cansados,
Já foram como as asas dos pardais.
Vejo as casas airosas e caiadas
No seu aspeto angélico mas obscuro,
Com as portas e janelas fechadas
fica o dia envolto num ar impuro.
Na subida surgem nuvens escuras.
Na rua vou a pouco mais de metade,
E como será bem lá nas alturas
Quando a eterna fadiga nos invade?!…
José António de Carvalho, 11-setembro-2020
Foto de Conceição Silva
domingo, 6 de setembro de 2020
Poema "ESCURIDÃO"
ESCURIDÃO
Enquanto esta minha pele envelhece
neste radiante sol de setembro,
a minha amargura num rolo cresce
neste agastado caminho, e fenece
nos flashes absurdos qu’ ainda relembro.
E são dois. Que reversos escondidos
por entre nuvens pintadas de negro.
Se fossem pelo menos versos lidos,
com a boa intenção de os ver mantidos
como quem guarda tesouro em segredo.
José António de Carvalho, 06-setembro-2020
sexta-feira, 4 de setembro de 2020
Poema "SE É SETEMBRO"
É como um vão de saudade
Da primavera escondida,
Dum verão sem medida.
Um vírus que é realidade.
É um abrir de livros fechados
De sonhos sonhados e encantos,
De ventos a arrastar prantos,
Olhares despertos e amargurados.
Nos cestos carrega-se a fome
Das chuvas e das orvalhadas,
No frio vestem-se as madrugadas
Em luares escusos sem nome.
Se é setembro…
Lembra a chuva, o frio, o vento.
É um “puxa-braço” do Inverno.
Mas um setembro morno
Carrega delícias pró Outono.
José António de Carvalho, 04-setembro-2020
quinta-feira, 3 de setembro de 2020
2º Sorteio do livro "Sente, Logo Vives e Sonhas" - 30.000 visualizações do blogue
2º Sorteio do livro "Sente, Logo Vives e Sonhas" - 30.000 visualizações do blogue |
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28 |
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terça-feira, 1 de setembro de 2020
Poema "MURO"
MURO
Vejo a vida uma passagem estreita.
E receio o que há do lado de lá.
Será outra vida também desfeita?
Outro sonho, desse sonho que não há?
Do outro lado será sempre o futuro.
Sempre a mesma dúvida, se ela existe…
Uma vida até a esse enorme muro,
esse muro, teimoso, que resiste.
Fiquemos por cá na lamentação,
lambendo as feridas do coração.
José António de Carvalho, 01-setembro-2020
Foto: depositphotos
quinta-feira, 27 de agosto de 2020
Poema "FRIO DE VERÃO"
FRIO DE VERÃO
Há um frio velado em cada canto da casa,
nos olhos nublados pelo tempo e pela glória.
Um frio cortante nas gavetas da memória,
vencedor traiçoeiro no mais duro golpe de asa.
Um frio dilacerante nas águas do rio,
alojado no coração num caudal disforme.
Um frio que se apossa do corpo e que o extravasa,
matando o sentido da vida segura em fio.
Um fio de voz no frio da tarde sem brio
e nos tropeções das palavras mudas da casa.
José António de Carvalho, 27-agosto-2020
Quadro de Maria Brito
segunda-feira, 24 de agosto de 2020
Poema "JARDIM DE ROSAS "
Tinha um jardim cheio de rosas.
Tantas rosas de várias cores,
também vermelhas, tão sedosas...
Mas que doce mel, essas flores.
As pétalas eram veludo,
suaves ós dedos, a tudo…
Mas deixaste de assim as veres,
o encanto das mil e uma cores,
não só dessas da cor do amor,
mas também de outra qualquer flor
que lá se tivesse criado.
Que solo desafortunado!...
Olhas-lhe no tronco e não a flor,
tão pouco queres ver a cor.
Só pedúnculos espetados
num chão que te parece morto.
Só hastes e tantos espinhos
Em troncos tristes… e sozinhos.
José António de Carvalho, 24-agosto-2020
Foto da internet
domingo, 23 de agosto de 2020
Poema "SE NADA RESTA"
SE NADA RESTA
Estando nós no meio dela,
duma manhosa tempestade,
asfixiando-se os soluços
pela sangria dos recursos
no parapeito da janela.
Como sempre gosto de vê-la
com seus ares de Cinderela.
Mas cortou a corda ó Romeu,
que caiu como ovo no chão,
e num surdo suspiro em vão
lá fechou os olhos e morreu.
“Cai o Carmo e a Trindade”,
e tudo o resto é saudade…
José António de Carvalho, 23-agosto-2020
Quadro do Museu Arqueológico de Lisboa
quinta-feira, 20 de agosto de 2020
Poema "NUMA MARQUESA"
NUMA MARQUESA
Soubesse eu defini-lo em branca cor…
Amor - Gerado na raiz da paixão,
Crescido como pecado em calor
De lava incandescente de vulcão.
É crime senti-lo brotar do peito?
Se a atração é mais forte que a da Terra,
Em polos harmonizados num leito
Agitado como as armas na guerra.
Defender a linha do sentimento,
Dar razão à ordem do coração,
É converter em sorriso o lamento,
Que unem os seres em pura dação.
E quando perco esse rasto do raio,
A afinidade do céu com o sol,
Dispo-me de mim, e nunca mais saio,
E tranco as portas como um caracol.
José António de Carvalho, 19-agosto-2020
Foto de Conceição Silva
domingo, 16 de agosto de 2020
Poema "HÁ DIAS PRA SEMPRE"
HÁ DIAS PRA SEMPRE
Tal é a tristeza que sinto,
Em que a esperança que me move
Perde-se nesse labirinto.
Outros dias há, cai um orvalho
Que é leve como o algodão,
Penso-te a ires para o trabalho
E só vais no meu coração.
Uma partida que, sei lá,
Por muito que me perguntem,
Digo-lhes que razões não as há,
Se só há razões que nos juntem.
José António de Carvalho, 16-agosto-2020
Pintura de Belmiro Mendes da Costa
sexta-feira, 14 de agosto de 2020
Poema "HINO DO POVO"
HINO DO POVO
Canta, canta porque é novo
Este cantar verde e florido,
Porque é hino deste povo
Cuja esp’rança tem esquecido.
Cantar a esperança florida
Na força de tanto trabalho
É andar com a pátria erguida
Tão alto como se eleva o malho.
Bem do alto todos nos malham
Os "barrigudos" do país,
E o suor dos que trabalham
É um jato de chafariz.
Mas quem canta seu mal espanta,
Dores frias que na vida sente,
Esses nós cegos na garganta
São voz muda de tanta gente.
José António de Carvalho, 14-agosto-2020
quinta-feira, 6 de agosto de 2020
Poema "VERSOS MAL COSTURADOS" (Horizontes da Poesia - Desafio nº 85 - 2020)
VERSOS MAL COSTURADOS
Não tenho palavras, tão pouco imagens,
apenas as tuas mãos e os teus dedos,
que nas costuras são apenas passagens,
onde rendo e me rendo nos meus medos.
E coses os meus versos no viés
por baixo da fina bainha da blusa.
E os sonhos da revolta das marés
beijam, agridem e matam, quem a usa.
Não tenho como medir as palavras,
se o sentimento é ainda mais branco,
as sílabas mal contadas são escravas
às mãos dum cobarde fecho no flanco.
Se estes versos morrerem na costura
por terem sido mal alinhavados,
são versos hirtos e com armadura
em outros mares jamais navegados.
José António de Carvalho, 06-agosto-2020
Imagem – Horizontes da Poesia - nº 85, Desafio de 2 a 8-08-2020
quarta-feira, 5 de agosto de 2020
Poema "É TÃO POUCO"
É TÃO POUCO
Deixa-me estar assim deitado
neste sono meio cansado,
com o meu pensamento estreito
pela dor que trago no peito.
Deixa-me olhar para as gaivotas,
parecem perdidas nas rotas,
e no seu voar tão pausado
mostram-nos um mundo cansado.
Deixa ver as ondas do mar,
onde sempre me perco a olhar,
e no meu mundo pequenino
baloiçam crenças de menino.
Deixa-me ver o que não vi,
se algo no mundo ainda sorri.
Da minha pequena janela,
ainda se espreita vida bela.
Foto da minha autoria
terça-feira, 4 de agosto de 2020
sexta-feira, 31 de julho de 2020
Poema "AMOR SEM NEXO, ESCRITA SEM SEXO"
quinta-feira, 30 de julho de 2020
Poema "É MAIS AGOSTO"
domingo, 26 de julho de 2020
Poema "OS AVÓS"
OS AVÓS
São esses seres carinhosos, risonhos,
De cabelos de neve, até sem eles,
E colo fofo, a contarem os sonhos...
As lindas histórias que eram as deles.
Não tive! Não conheci os meus avós!
Lá partiram sem saberem de mim.
Raio de nó que trazemos em nós,
Mas sem lamento. A vida é assim…
Se não conheci os avós carinhosos,
E não fluo no rio de ter netos,
E os filhos, a quem somos dadivosos,
Só eles restam pra colher afetos.
José António de Carvalho, 22-julho-2020
quinta-feira, 23 de julho de 2020
Poema "O LIVRO DO TEMPO"
Poema de participação no programa "Livro Aberto" da Rádio Voz de Alenquer, emissão de sexta-feira, 07-agosto-2020, da autoria da amiga Ana Coelho, rubrica "Criatividade Sem Limites"
Poema lido hoje, sábado, dia 17-julho-2021 (sábado), no programa "As Nossas Raízes" da Cidade Hoje Rádio, da autoria e apresentação de Manuel Sanches e Suzy Mónica.
Participei com este poema no Evento Literário Semanal da LUPA - Academia Contemporânea de Letras - ACL, no 79º Evento semanal de poesia, subordinado ao tema "IDEIA E LEITURA", a convite de Vania Clares.
Foge-me no saber de quem é sábio,
Perdida a herança de quem é menino,
Ou num mágico livro, um alfarrábio,
Onde se engana o ler que é destino.
Corro os dias a meditar as águas,
Que são vida a galgar por entre pedras,
Quantas gerações afogaram mágoas
Nas imagens do tempo das minervas.
Nem tudo que nele está é o certo,
Mas o livro… é sempre Livro Aberto.
José António de Carvalho, 23-julho-2020
quinta-feira, 16 de julho de 2020
Poema "ORGULHOSO DE PRECONCEITO"
ORGULHOSO DE PRECONCEITO
Quem tanto se valoriza a si próprio,
Padece de gravíssimo defeito,
Se no orgulho se mergulha no ópio,
Estimado, é forte preconceito.
Se se é transparente como água,
Pode ser pior, mostrar-se ruim,
E trazer-nos tanta, mas tanta mágoa,
Que não se poderá viver assim.
Mas se temos sempre várias escolhas,
Há de lá caber mais outro lugar,
Como a árvore, que tem tantas folhas,
Sem elas, também poderá ficar.
Isto para lhes dizer muito bem:
- O orgulho deve ter medida certa;
- E o preconceito, para quem o tem,
Lanço-lhe um sinal vermelho de alerta:
Olhe que isso não faz bem a ninguém!
José António de Carvalho, 16-julho-2020
Foto de Conceição Silva
quinta-feira, 9 de julho de 2020
Poema "FALAR DE AMOR"
FALAR DE AMOR
Nos meus lábios sabes ler,
Nos olhos ver o fulgor
Desta vida a entardecer.
Quando nos sobem as almas
É como se ali estivessem
Nestas minhas próprias palmas
Duas rosas que florescem.
Dizes que não é amor
Quando afogamos num beijo
Um inflamado desejo...
Se a montanha é menor
que tudo em nosso redor...
Se os dedos tocam o mar!…
José António de Carvalho, 09-julho-2020
Quadro de Hermínia Veríssimo – Óleo sobre tela
Poema "ALIENADOS "
ALIENADOS
No teu corpo descoberto de outono
Vagueia esse mar de sal e de sono
Com feroz tranquilidade traiçoeira,
Cinges olhares de morte e cegueira.
As lajes do chão sentiram o cheiro,
E dum despudor de olhar sobranceiro
Com que abres e divides o troféu,
Num querer ambíguo que nem é teu.
E nem sequer te levantas do vento
Nem da tristeza do rir no lamento,
Nem da frieza que no corpo trazes
E da pérfida figura que fazes!
José António de Carvalho, 09-julho-2020
Pintura de David Lopes (Grupo Arte Celano)
terça-feira, 7 de julho de 2020
Poema "MÃOS CANSADAS"
MÃOS CANSADAS
E estas minhas mãos que eram fortes…
Tão fortes, que se perdiam em ti
Em longos momentos de descoberta,
Tinham garras de fera e leveza de pena,
E quando se perdiam tudo encontravam.
Hoje são mãos dizimadas pelo tempo,
Gastas pelo calor da fricção das atitudes.
São mãos que já não pintam futuros,
Parecem dois cometas a arder ao vento
Em voos mortos pela aridez das latitudes.
E tê-las assim, é como não as ter.
E quem não as tem, não tem nada...
Despede-se inerte o brilho do olhar
Como quem foge à doçura das palavras,
Dilui-se a beleza das paisagens,
Seca o ribeiro, o rio e depois o mar.
A escuridão avança sobre a terra
Cobrindo-a de ódios e de guerra,
Matando todos os sonhos de amor.
Estas mãos… estas mãos esquecidas,
Esqueceram-se do que é segurar.
José António de Carvalho, 07-julho-2020
quinta-feira, 2 de julho de 2020
Poema "O MAR DAS LÁGRIMAS"
O MAR DAS LÁGRIMAS
Duas lágrimas caem dos olhos, uma e depois outra.
Assim… breves no espaço, mas com resistência de rocha intemporal,
Com um mar de distância na sua génese,
E apesar de tão longínquas lá se uniram pela lembrança…
São como imagens de rios e rios, a juntarem-se
Numa transgressão permanente de regras das linhas e dos leitos.
Corpos empertigados, de poros fechados e mãos cerradas aos afetos
Descem pelas correntes desesperadas de céus sem futuro.
Pedras e mais pedras arrastadas brutalmente pelas águas,
Caindo na lama da alma, uma a uma, pedra sobre pedra,
Rebentando todas as linhas, todos os laços,
Matando risos, comendo esperanças, mutilando sonhos.
Uma descomunal guerrilha suicida de vã conquista.
O sangue derramado mancha as águas de todos os mares,
Tornando-as quase impenetráveis à frágil luz da razão,
Desenhando corpos lapidados e amarrados sem qualquer horizonte.
José António de Carvalho, 02-julho-2020
Relógio com pintura de António Miranda
sábado, 27 de junho de 2020
Poema "QUANDO OS DIAS CHORAM "
QUANDO OS DIAS CHORAM
Hoje o dia está triste,
E chora as suas dores por entre as nuvens baixas.
Tão baixas que quase beijam a terra.
A última vez que o dia sorriu
Também fora deitado no chão.
O dia alegre e a lua amada ali surgiu…
Mas logo, logo, novamente fugiu.
José António de Carvalho, 27-junho-2020
sexta-feira, 26 de junho de 2020
Poema "ESQUECIMENTO"
ESQUECIMENTO
Sinto em mim uma tal dor
Que me anda a moer o siso.
Não sei se é dor de amor
Ou dor da falta de riso...
Mas não. Não é essa a dor
Que me vai comendo os dias,
A esta ninguém dá valor,
Causada por alergias.
Oh!... mais uma vez troquei o erre
Desse seu lugar normal,
E assim se vão as alegrias
O que já é natural.
Anda aqui uma mosca chata
Sempre a moer a cabeça...
Mas da dor ninguém me trata
Pois há quem de mim se esqueça.
José António de Carvalho, 26-junho-2020
Foto de Conceição Silva
terça-feira, 23 de junho de 2020
Poema "QUADRAS A S. JOÃO – 2020, Ano Pandémico"
Poema a São João - Lido hoje no sábado, dia 20, no programa "As Nossas Raízes" da Cidade Hoje Rádio, da autoria de Manuel Sanches e Suzy Mónica.
Há meses não sonharia
No que estamos a passar,
Um junho sem romaria
De um só santo popular.
Que dirão do feriado
Sem rua pra festejar,
Mas que ano "amaldiçoado"
Este que nos veio a calhar.
Seja festa em cada casa,
Em cada rosto rosado,
Com a sardinha na brasa
E um copo bem aviado.
E que se enrede no pé
No passo de quem a dance,
A dança de quem tem fé,
Por bem, pode ser que alcance.
Mas não saltes a fogueira
Porque te podes queimar,
Apesar de brincadeira
Não tens onde te tratar.
E assim será esquecido
Este vírus complicado,
Anda por cá escondido
E também já transmutado.
Nosso São João Baptista
Tu foste decapitado,
Qual o prazer da conquista
Neste mundo atormentado?
José António de Carvalho, 19-junho-2020
sábado, 20 de junho de 2020
Poema " DEPOIS DA CURVA"
DEPOIS DA CURVA
Penso na curva da vida,
Que nunca se sabe onde está…
Aqui, além, sabe-se lá.
Não tenhamos pressa do amanhã.
Não tenhamos pressa de nada.
No amanhã tudo se acabará.
Depois de chegada a curva,
Virá uma visão turva
Do que não se sabe se há,
Desse lado oculto,
Desse lado de lá…
José António de Carvalho, 20-junho-2020
Foto do Trilho do Caminho Santiago (2018)
quarta-feira, 17 de junho de 2020
Poema "IMAGENS TUAS"
Retenho nos olhos imagens tuas
Num caudaloso rio de memórias.
Substituir-te… é perder as puas,
Eco do tecer das nossas histórias.
Se cantas, arrepio-me, és feliz…
Tão difícil que é a nossa música,
Se o teu olhar esquecido nada diz,
Perco-te no enredo da vida física.
Essa luz de que tanto me embrenhei,
Não tem outra qualquer explicação,
Senão que essa luz fui eu que a inventei,
À luz da luz, dum cego coração.
José António de Carvalho, 17-maio-2020
sábado, 13 de junho de 2020
Poema "QUADRAS DE SANTO ANTÓNIO – 2020 (PANDÉMICO)"
Poema a Santo António - Lido hoje no programa "As Nossas Raízes", da Cidade Hoje Rádio, da autoria de Manuel Sanches e Suzy Mónica.
Pensava o povo contente
Que a vida era sempre a andar,
Sem curvas, seguir em frente,
Sem para trás ter de olhar.
Mas o vírus lá mostrou
Que o pequeno se faz grande,
Que a humanidade abanou
Tanto o medo que ele expande.
Que tristeza, se não há festas
Nem romarias de gente,
Vê-se a vida pelas frestas
De uma forma consciente.
Sem os balões a subir
Sem fogueiras pra saltar,
Nem garrafas para abrir,
Sem sardinhas a pingar,
Nem noitadas, nem abraços,
Nem foguetes a estalar,
Sem gente com seus cansaços
De nas marchas dançar,
Nem ricos vestidos brancos,
Nem véus aos sete ventos,
Mas há choro pelos cantos
No ruir dos casamentos.
É tão caro o manjerico
Que o alho nem o pode ver,
Ó santinho tu és rico
Toda a gente te quer ter.
A primavera lá vai
Pra ficarmos no verão,
De casa a gente não sai
Pra comer sardinha e pão.
Estas verdades tão cruas,
O queixume, a solidão,
A esperança de ir prás ruas
Pró ano em Famalicão.
José António de Carvalho, 12-junho-2020