REVELO-ME ATRAVÉS DE SIMPLES VERSOS (Reservados os direitos de autor)
terça-feira, 4 de janeiro de 2022
Poema "SEM PALAVRAS"
SEM PALAVRAS
Parcas e brancas,
De ondas e floreados,
Nem sempre francas,
E conteúdos rebuscados.
A palavra é a acácia
A florir no inverno,
E se não tem audácia
Ou se perde a prudência,
É um cair no inferno
Do mundo da falácia
Sem qualquer inocência.
A palavra é rosa branca
Que feliz de si sorri,
Como o sangue se estanca
Em corpo morto de si,
E com desejo de voar
Para um outro lugar.
José António de Carvalho, 04-janeiro-2022
quinta-feira, 23 de dezembro de 2021
Poema "HOJE TAMBÉM É NATAL"
Poema da minha participação na Coletânea "Juntos Somos Natal 2021", do LIVRO ABERTO, programa de Ana Coelho na Rádio Voz de Alenquer.
HOJE TAMBÉM É NATAL
Já não sinto que as palavras produzam festas
Que possam remendar o tempo que passou
E que deixou um rasto de penumbra no céu.
Tudo fica mais escuro se abro a minha janela.
Por isso deixem-me ficar aqui
A lutar com as montanhas que criei,
Porque sei que por detrás de cada montanha
Há sempre uma pequena estrela que cintila,
E que mesmo tão distante me orienta.
E eu, que tão mal a vejo, esforço-me…
Esforço-me para fazer a minha aproximação
Em todos os dias, em todos os momentos,
Para ficar com um pouquinho da sua luz,
E tento, assim, sentir algum calor de Natal…
José António de Carvalho, 11-outubro-2021
domingo, 12 de dezembro de 2021
Poema "AMOR À POESIA"
AMOR À POESIA
O silêncio da canção que me embala
É forte, mas mesmo assim me adormece.
E se a noite cai, bom seria amá-la
Como se ama a cor da flor que floresce.
Amar assim, amar perdidamente,
Como quem ama de alma e corpo em mim...
E amar em pensamento é somente
Mais do que amar, amar até ao fim.
Que sabemos nós das razões do amor?
Se os que o tiveram não o descreveram.
E quantas vezes sorrimos à dor?
Se outros tantos nela pereceram.
Amar é muito mais do que sentir,
É vestir-se duma vontade tal,
Que o que mais queremos e está p’ra vir
Já nos aconteceu em sonho real.
José António de Carvalho, 13-dezembro-2021
terça-feira, 30 de novembro de 2021
Poema " PARA TI"
PARA TI
Deixa-me ficar sentado
Nas tuas pálpebras nuas,
Poder ler-te os pensamentos,
Memórias e esquecimentos,
Que trazes em ti guardados
E nos versos insinuas.
Ver no brilho dos teus olhos
As mais belas melodias
Cantadas p’lo coração,
Quentes horas de paixão
Perdidas entre os escolhos
Que resistiram ós dias.
Deixa-me ficar sentado
Nas tuas pálpebras nuas,
Dizer-te que assim me atrevo
Cantar o quanto te devo,
Que tanto tenho sonhado
Ficar nas páginas tuas.
José António de Carvalho, 24-novembro-2021
quarta-feira, 10 de novembro de 2021
Poema "FIM E PRINCÍPIO"
FIM E PRINCÍPIO
Para além da noite, desta ou de
outra qualquer noite, sento-me sempre no beiral da mesma noite, como se fosse a
margem do rio onde a vida passa.
Todas as noites são
diferentes, mas tão iguais no epicentro do seu misticismo e da sua magia.
Todas são tremeluzentes e
felinas, torridamente gélidas e soturnas. Elas revolvem a arca dos sonhos e do fascínio,
para consolo de algumas inquietações e erupções noturnas. São vulcões de lava
incandescente a deslisar vagarosamente sem que se lhes possa fugir, deixando um
rasto de pedra negra a fumegar dor por onde passam.
As noites lembram-me os tempos
de criança, e como tinha medo da noite. Tinha medo dos meus medos e dos medos
que outros me criaram. Coisas que não se fazem nem aos anjinhos.
Hoje, dia e noite, sou uma
caixa de ressonância dessas noites. E, na verdade, à noite, apenas quero percorrer
os dedos ao longo dos fios brancos da almofada de algodão que ainda cheira a lavanda,
para logo a seguir penetrarem timidamente pela janela da vida, raios de luz
dourada a anunciarem um dia novo.
José António de Carvalho, 21-outubro-2021
Foto da minha autoria
quinta-feira, 28 de outubro de 2021
Poema "NÃO RESISTI…"
Escrevo nas páginas tardias do caderno da vida que, agora mesmo, abri; e cujas páginas cheiram a manhã cantada pelas sombras que esvoaçam entre as copas dos eucaliptos.
Quem é aquele que nos ilude com o amor?
Se fosse o Criador eu não seria escravo nem vítima do engano e do desengano do pensamento que eu próprio levantei.
Para o afortunado, aquele que foi despertando do ventre das gerações, a vida é o princípio de um começo sem fim. E esses etiquetamo-los de crentes.
Nós… nós vamos pelo lado mais fácil, rastejando, tantas vezes, entre o pesadelo da vida e a alucinação que nos vai sublimando pelo cerne.
José António de Carvalho, 14-outubro-2021
quinta-feira, 7 de outubro de 2021
Poema "NÃO MORRI"
Tinhas uma espada afiada
direta ao meu coração,
a tua intenção foi gorada
p'la amiga Terra em rotação.
Tinhas revólver apontado
Pronto p'ra me atingir no peito,
Mas com a força de um tornado
Desviei-me do tiro perfeito.
Tinhas na mão o cutelo erguido
Que o meu pescoço cortaria
Não fora o meu rosto sofrido
Onde o sorriso subsistia.
José António de Carvalho, 07-outubro-2021
sexta-feira, 17 de setembro de 2021
Poema "É OUTONO"
É OUTONO
Tens olhos de desalento
E força de mar em fúria.
Deixas o hálito no vento,
O desconcerto do certo
Que vem sempre com o tempo.
Tens a revolta no rosto,
A ardileza da noite escura,
Vaidade negra soturna,
Como defeito sem cura
Onde a tristeza procura.
Quando em ti tudo se encerra
Para esconder a quimera
De uma doce primavera.
Vê bem como já estou
Se o verão ainda não acabou.
José António de Carvalho, 17-setembro-2021
quarta-feira, 8 de setembro de 2021
Poema " DOMINGO"
DOMINGO
Pego no resto deste domingo modesto
E coloco-o sentado num pequeno sonho
Em que penso e suponho, que deste lado
É tudo medonho; e no outro, tudo parado.
Não me resta mais do que a modéstia
Que é um jeito de morte com esperança
E de esperança tem somente uma réstia
Que não é mais do que simples lembrança.
E lembro sempre o que não me esquece
A desventura dorida ou um arrepio;
E sempre que escrevo sonho e me apetece
Mergulhar no vendaval de um calafrio.
José António de Carvalho, 08-setembro-2021
quarta-feira, 1 de setembro de 2021
Poema "NÃO AVARIES O SOL"
NÃO AVARIES O SOL
Disposto que hoje estava
para amar intensamente,
parece que tudo foge da mão.
A tecnologia tudo contrariou,
sem qualquer sinal de televisão
e o telefone também falhou…
Restou a internet apenas
para poder ler uns poemas;
mas a rapidez cá se impõe
não vá a internet tecê-las,
ou pior, e ficar à luz das velas,
se a eletricidade se indispõe.
Já ligo há uma hora prás avarias,
que com as suas birras e manias,
bem me deixam os nervos em fole,
mas viverei das minhas alegrias
no encanto de outro Pôr do Sol.
José António de Carvalho, 01-setembro-2021
sexta-feira, 27 de agosto de 2021
Poema "A NOSSA ACRÓPOLE"
A NOSSA ACRÓPOLE
Sonho-te em bravos verões
Com aura celestial
Abrindo em par os portões.
Dos sinos dos carrilhões
Soam hinos a Portugal.
Património mundial,
História por ter nascido
Bem antes de Portugal,
E de forma bem plural
Nele tanto ter crescido.
Tão grande é a nobreza,
Um vulto da nossa história,
Tal é a sua riqueza
Onde passou a realeza,
E nós cantámo-la em glória.
José António de Carvalho
segunda-feira, 23 de agosto de 2021
Poema "TEMPO EM PALAVRAS"
TEMPO EM PALAVRAS
Encosta o crepúsculo do dia
onde nascem as tempestades
que caem sedosas da lua doirada,
e segura o vento com os teus dedos.
Fere os astros com a alegria da chuva
por deteres a cassiopeia nas tuas mãos.
Os flocos de neve derretem-se nas águas
que escorrem pelos corpos orvalhados,
e imaginam infindáveis destinos na atmosfera
onde as nuvens brancas correm pelo chão
na imobilidade veloz dos corpos abraçados
prestes a esvaírem-se de chuvas quentes.
José António de Carvalho, 22-agosto-2021
Foto de Conceição Silva
quinta-feira, 19 de agosto de 2021
Poema "FELICIDADE"
75º Evento Literário Virtual
A convite de Vania Clares
Tema: Felicidade e Destino
FELICIDADE
De andorinha leve e franzina,
De espiga colhida e ceifeira,
E de seara pequenina.
Vestes a noite com o dia,
O dourado do sol que vai…
Roubas aos astros a harmonia,
O brilho que da estrela sai.
Irrompes do rio e do mar,
Do lugar mais exuberante,
Como quem vem a velejar
Na pele duma onda gigante.
Que encanto para a minha vida
Que se levanta dos escombros,
E entre a folhagem esquecida
Repousa leve nos meus ombros.
sábado, 14 de agosto de 2021
Poema "DIAS QUE NÃO VOLTAM"
Poema lido hoje, sábado, dia 14-agosto-2021 (sábado), no programa "As Nossas Raízes" da Cidade Hoje Rádio, da autoria e apresentação de Manuel Sanches e Suzy Mónica.
Este poema incorpora 15 palavras de um poema de Pedro Tamen, e é dedicado às festas da Nossa Senhora do Rosário, Vermoim, que nestas duas últimas edições cumpriram com as restrições devido à pandemia Covid-19.
DIAS QUE NÃO VOLTAM
Os sons vinham de todas as partes.
A andorinha desenhava círculos no céu,
E parecia que o mundo cantava…
As crianças não mediam gargalhadas,
Enquanto os velhos riam das próprias sombras,
A alegria pulava no rosto destas gentes,
Crescia a razão para que a vida é feita…
Era o único dia de vida perfeita,
Era o dia da festa da nossa terra.
Hoje, mais conscientes, mesmo assim,
Somos os algozes de nós mesmos…
A vida e o planeta definham aos dias
Definindo-nos cada vez mais reduzidos.
O estudante de teologia carrega o missal;
Os homens seguem na frente do pálio,
E consigo, lá vão arrastando o tempo…
Na procissão do tempo que nunca se repete,
Em que desatam, um a um, os nós de vida lassa
Levando o pó do fermento que descompromete
Aquele tempo que anda e sempre passa.
José António de Carvalho, 09-agosto-2021
segunda-feira, 9 de agosto de 2021
Poema " NINHO DE AFETOS"
Como desejo ver o sol entre a folhagem,
Rasgar o rio na foz p’rá outra margem,
Encantar o pardal que canta no jardim,
Sentir o teu peito no meu, abraçar assim…
Ter um amigo, um irmão, é uma açucena
A acenar à vida um amor p'rá vida eterna.
Quero o amor, a amizade, sempre de mãos dadas:
Nas casas, nos campos, nas ruas, nas estradas;
A cantar na praia desse mar que há em mim
Razão da vida p’ra ter-te até ao fim.
José António de Carvalho, 02-agosto-2021
quinta-feira, 5 de agosto de 2021
Poema "ANTES DE MIM"
ANTES DE MIM
Olho a bússola de frente,
Peço-lhe que me oriente
Neste plano inclinado,
Que me diga onde beber
Onde nasce a minha fonte,
Para que possa crescer
Onde crescem as asas
P’ra voar no horizonte.
Assim voo e cresço
Ando de estrela em estrela
E no sossego permaneço.
José António de Carvalho, 04-agosto-2021
domingo, 1 de agosto de 2021
Poema "ASAS"
ASAS
Desse teu gesto de querubim
Despontaram sombras de sorriso,
E que ainda hoje me recordo assim
O que antes parecia impreciso.
E quando as bocas emudeceram
Os breves momentos que calámos
Na doçura de um beijo nasceram
Coloridas asas que sonhámos…
Brotaram chicotes no momento,
Apogeu do instante em que morremos
P'ra subir da terra com alento,
Num pregão surdo a romper o vento,
Com todo o amor nos oferecemos
No que de mais intenso vivemos
Desse voo de outrora, só nosso…
José António de Carvalho, 15-julho-2021
segunda-feira, 26 de julho de 2021
sexta-feira, 16 de julho de 2021
Poema "A VOZ DA ALMA"
A VOZ DA ALMA
Há uma voz que tanto chama
baixinho, e que murmura, aonde
a vida em mim sempre reclama
e que no íntimo responde:
- Dura é a mão que empunha a arma
e aos olhos da morte a esconde.
É uma voz que me aconselha
que voe para longe de mim:
- Deixa pra trás a vida velha
que te deixou prostrado assim.
E minha dor que bem a espelha
em forte grito de clarim.
Escrevo nesta tarde calma
o final de um longo processo
em que um recomeço se espalma,
se na vida há novo regresso
enquanto mantivermos a alma
e a vida não tiver um preço…
José António de Carvalho, 01-julho-2021
sábado, 10 de julho de 2021
Poema "O AMOR NÃO MORRE"
Quantas vezes eu já morri de amor… Contas que nunca fiz, se me perdi nessas vezes em que morri, e na dor de outras tantas vezes que renasci.
Sempre que se ama veste-se a razão,a maior que temos para viver, um plantar de flores no coração p'ra num abraço t'as oferecer.
Depois fico despido sem saber se mais flores terei para te dar, outras logo começam a crescer mais lindas, acabadas de gerar…
Ó minha amada, minha flor eleita, quantas vezes a ti já me prendi, nos mil momentos em que foi perfeita a vida que contigo construí.
quarta-feira, 7 de julho de 2021
Poema "O MEU PAÍS"
O MEU PAÍS
Deixem-me escrever um poema genuíno
no corpo deitado deste país;
onde sou rio e mar,
serra e planície secreta,
outeiro firme,
socalco agreste,
íngreme ladeira,
o pico da montanha,
a ilha e a filha,
o vulcão e a lagoa.
Por isso a vida é boa.
Sou carvalho, pinheiro,
tília e amieiro, a azinheira…
a seara, o prado, o milho,
a oliveira, o pessegueiro,
as giestas, as macieiras,
as vinhas e as encostas.
As colheitas que se perdem,
as gentes maldispostas…
Sou o verde do chão seco
a olhar o sol que se agiganta.
A vida que nasce,
a que anda,
a que foge,
a que corre,
a que morre...
Não sei se é mudança
ou se a chuva dança
ou vento da temperança,
o rosto da criança
que nele se deita
e dele se levanta,
e que nele avança
sexta-feira, 2 de julho de 2021
Resultado do 3º SORTEIO: 1 livro "Sente, Logo Vives e Sonhas" (as regras e lista de candidatos)
sábado, 26 de junho de 2021
Poema "ENTENDIMENTO"
ENTENDIMENTO
Ah, luz que me foges assim
num prateado envelhecido,
rosto de aurora enrubescido,
presença do meu sol no fim.
Ah, rochedo velho do tempo,
as flores do prado fugiram,
a roupa da morte vestiram…
suspiros roubados ó vento.
Julgando eu que luz concediam
entre os meus sonhos e palavras,
mas eram já horas escravas
por ver que os meus dias fugiam.
José António de Carvalho, 16-junho-2021
sexta-feira, 18 de junho de 2021
Poema "ASTROS"
ASTROS
Ainda sinto como poucos
onde se espraiam correntes,
onde se perdem os lábios,
onde se afagam os dentes.
Ainda sinto como loucos
fogo vivo, tempos quentes,
magnete dos astrolábios
que levaram às nascentes.
domingo, 13 de junho de 2021
Poema "OLHAR À JANELA"
OLHAR À JANELA
Sei lá por onde andavas
Até ao tropeço do momento
Que nos cruzou…
Trocámos tempo,
Trocámos luz do sol,
Trocámos pensamento,
Trocámos brisas e vento.
Olhei-me ao espelho
E não vi nada.
Fixei-me mais
E vi-te no fundo dos meus olhos.
Falei-me do mar,
Do pequeno grão de areia,
Da minúcia das palavras,
Da irrelevância dos gestos,
Da profundidade das insignificâncias.
E se tudo floresce
É porque é natural.
Cresce ainda
E permanece assim
Em mim!
José António de Carvalho, 12-junho-2021
Foto de Conceição Silva
sábado, 12 de junho de 2021
Poema "SORRISO DE CRIANÇA"
SORRISO DE CRIANÇA
Sorri, sorri, ó criança,
nessa brancura de rosa,
com o teu sorriso avança
que a vida é preciosa.
Vê tu criança, e vê bem,
o que no mundo se passa,
o que demais alguns têm
pra outros é só desgraça.
Aprende petiz, aprende,
Aprende a crescer feliz,
Se a alegria se arrepende
Inda foge e não te diz.
Ama criança, ama tanto,
amar nunca é demais,
nunca remetas a um canto
aqueles que são teus pais.
Estende esse teu olhar doce
bem para além do horizonte,
vê o outro como se fosse
nascido da mesma fonte…
José António de Carvalho, 04-junho-2021
quinta-feira, 10 de junho de 2021
Carta de "AMOR A PORTUGAL"
Meu Amor
Bem sei que as cartas caíram em desuso, mesmo assim não resisto a
escrever-ta, porque não é uma simples carta, é uma carta de Amor.
Quero que a leias com todo o vagar e de coração aberto. Se for possível
procura um lugar verde natural, belo e recatado, para que esta carta se torne
muito especial e relevante para o nosso sentir.
Talvez a devas ler junto às margens dum rio, numa paisagem natural e
florida.
Pode ser mesmo junto ao Tejo, onde passe pelo meio de searas doiradas e
quando o sol espelhe nas águas e ilumine o teu rosto doce, ou que a tua alma de
flor passe serenamente num pequeno barco à vela, longe de nós e perto da outra
margem, mas que nos aproxime cada mais, e mais.
Ou na margem do Douro, onde se consiga ver a tua adorável silhueta projetada
nas folhas douradas das videiras plantadas nas encostas das montanhas e com o
rio a serpentear-se no vale, e o teu perfume dê aroma às uvas rosadas para
nosso deleite, que se transformarão em vinho que nos há de inebriar e tornar os
nossos corpos etéreos, tornando-os sublimes, quentes e amantes.
Também poderá ser junto ao Vouga e Ria de Aveiro, onde a água salgada
entra no corpo da terra por tanto a querer, formando-se enormes espelhos d’água
que realçarão a tua beleza, ou pelas suas ramificações em ribeiras e regatos,
como se quisessem abraçar tudo. Tal como o nosso amor, que tudo quer envolver à
nossa volta e colocar-nos ao centro, unidos e abraçados, debaixo de sol ameno.
Ah, como gostaria que a lesses em Viana do Castelo, no jardim junto ao Lima,
em dia que não esteja frio nem se faça sentir vento forte. Ou ainda, se
preferires subir o monte de Santa Luzia, poderás lê-la bem lá no cimo junto ao
mosteiro, irás deslumbrar-te com a cidade e com a foz. Adivinharemos o sol a afundar
no mar e subir pelo rio. E como é sublime e lenta a penetração das águas do rio
no mar, misturando-se como as nuvens de vários tons, fazendo lembrar o despir das
tuas roupas que encobrem tanta beleza simples e natural.
Minha querida, se a preferires ler em Caminha, bem junto ao rio Minho, em
Cerveira ou Monção, ficarei igualmente feliz. Tu serás cada uma das ilhas que
dormem no interior do seu leito e eu serei as águas frescas e vivas à sua volta.
Não posso ir mais longe, se te entusiasma a ideia de a leres junto ao
Guadiana, pode ser em Alqueva, onde o amor não vê fronteiras, e beijamo-nos nos
segredos da pérola de Olivença e abraçamo-nos na tão querida e bela planície
alentejana.
Ou ainda lê-la junto ao Sado, mas toma cuidado, porque este rio corre
de sul para norte, tem as belezas do teu corpo no seu estuário e do teu rosto
na península de Tróia.
Assim termino, enviando-te um beijo de carinho e amor.
Amo-te minha Pátria! Amo-te
Portugal!
José António de Carvalho
segunda-feira, 7 de junho de 2021
Poema "RAIZ DA ESPERANÇA"
Doa-te livre nas mãos do vento
em todos os passos que vais dando
para não teres um contravento
forte, como o que te vai soprando.
Ó melodia de vida intensa
que feridas fundas vais curando
como seara de trigo imensa
que ciosamente vai ondulando.
E nasce nos teus olhos o dia
em longas manhãs de primavera
nos raios em que o sol irradia
despojos dos sonhos que tivera.
Longínquo céu que fazes voar
uma andorinha no mar perdida
de quem ama sem querer amar,
a esperança, como flor da vida.
José António de Carvalho, 06-junho-2021
Quadro de António Miranda – Arte Celano, Grupo de Artistas
sexta-feira, 28 de maio de 2021
Poema "TERRA LAVRADA"
TERRA LAVRADA
Canto a magia do amor
de tudo que é natural e belo.
Canto o quente e húmido respirar
naquele voltar de si escaldante,
no enrolar selvagem e louco,
em voltas irreais e alucinadas.
E sente um prazer ardente
quando recebe nova semente.
Tão grande é o poder da terra
que acorda para novo ciclo
expondo o seu fértil ventre
a tão desejado regresso.
José António de Carvalho, 17-maio-2021
Foto: "gettyimages.com.br"